Papa pede diálogo entre as religiões
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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2000
Associated Press
De Cairo
Cerca de 20 mil pessoas lotaram o Estádio Nasser para assistir à missa que o papa João Paulo II celebrou na manhã de ontem na capital do Egito, no segundo dia de sua histórica visita a esse país muçulmano. Durante a cerimônia, o papa voltou a fazer observações a respeito da intolerância religiosa e conclamou seus ouvintes à paz e ao diálogo inter-religioso.
Uma platéia variada, na qual se misturavam freiras com hábitos cinzentos, escolares vestindo jeans e religiosos da região em trajes suntuosos, acompanhou com manifestações de alegria a missa rezada pelo pontífice. João Paulo II demonstrou de novo a fragilidade de sua condição física, andando encurvado e vagarosamente. Suas mãos tremiam quando ele segurou as páginas com o texto de sua homilia, e ele falava com dificuldade sintomas típicos do mal de Parkinson.
Mais uma vez, o papa salientou a necessidade do diálogo entre as religiões, e lamentou a discriminação contra os cristãos. É certo que todos, cristãos e muçulmanos, ao mesmo tempo em que respeitam as diferentes perspectivas religiosas, devem pôr suas habilidades a serviço da nação, em qualquer nível da sociedade, disse João Paulo II.
Por vezes os cristãos egípcios reclamam por não conseguir acesso a cargos de governo, em especial os de hierarquia superior, e os conflitos entre as duas comunidades, antes ocasionais, correm o risco de se tornar mais frequentes. Em janeiro, um deles causou 23 mortes, e atentados na véspera da chegada do papa levaram a vida de outras 19 pessoas.
João Paulo II também aproveitou a chance para lamentar as lutas entre muçulmanos e cristãos na Nigéria nesta semana, que resultaram em pelo menos 200 mortos. Rezo a Deus para que as pessoas naquele país tentem viver em paz, salientou ele.
A iniciativa do papa a favor do diálogo inter-religioso levou o xeque Mohamed Sayyed Tantawi, um dos mais importantes líderes muçulmanos sunitas do Egito, a anunciar a retribuição da visita que João Paulo II lhe fez na quinta-feira. Tantawi deve ir ao Vaticano no segundo semestre deste ano, no que será sua primeira viagem à sede do catolicismo romano.
Apenas 220 mil egípcios são católicos, mas ocupam uma posição de relativa preeminência no país. Vários missionários e ordens religiosas conduzem 168 escolas ali, com 250 mil estudantes mais do que toda a população de católicos romanos local. Tanto o atual presidente, Hosni Mubarak, quanto seu antecessor, Anwar Sadat, matricularam seus filhos em colégios católicos.
Hoje, última dia de sua visita, João Paulo deve viajar para o remoto monastério de Santa Catarina nas proximidades do Monte Sinai, onde, segundo a Bíblia, Deus entregou a Moisés os Dez Mandamentos.João Paulo II lamenta mortes causadas por lutas entre muçulmanos e cristãos. Líder sunita promete visitar o Vaticano ainda este ano
France PresseEcumenismoJoão Paulo II é cercado por clérigos no final de encontro ecumênico na Catedral de Nossa Senhora, no Cairo