Milão, Itália - O Sínodo da Sinodalidade, convocado há quatro anos pelo papa Francisco para debater o futuro da Igreja, chegou ao fim no sábado (26), com a conclusão da segunda assembleia de bispos, no Vaticano, e a divulgação de um documento com indicações ao papa.

O texto diz que "não há razões que impeçam as mulheres de assumirem papéis de liderança na Igreja" e pede para que o debate sobre o diaconato feminino continue. Foi o trecho do documento que mais atraiu contrariedade dos participantes do sínodo.

Os diáconos, que hoje só podem ser homens, inclusive casados, são o primeiro degrau na hierarquia católica, abaixo de padres e bispos. Eles podem realizar batizados, casamentos e funerais, mas não podem celebrar a eucaristia, ouvir a confissão ou realizar a unção dos enfermos (extrema-unção). Há evidências de que o diaconato para as mulheres vigorou em grande parte do Ocidente até o século 12.

O processo deste sínodo, que chegou a ser visto por alas progressistas como um caminho para reformas e por conservadores como um risco de cisma, terminou oficialmente sem propor mudanças profundas no catolicismo, apesar do aceno à maior abertura às mulheres.

Uma das mais controversas deste sínodo, a questão da participação mais decisiva das mulheres já tinha sido a que mais atraiu objeção na assembleia do ano passado e, como consequência, havia perdido espaço na pauta oficial desta sessão. A pedido de Francisco, os temas mais divisivos estão sendo estudados com profundidade por dez grupos, paralelamente ao sínodo, até o meio de 2025.

Mesmo assim, o tema das mulheres, emerso durante o processo inicial de escuta que envolveu paróquias de todos os continentes, foi alvo de análise dos 368 participantes, entre cardeais, bispos e leigos, incluindo 54 mulheres com direito a votar no documento final.

"Em virtude do batismo, homens e mulheres gozam de igual dignidade no povo de Deus. No entanto, as mulheres continuam a encontrar obstáculos para obter um reconhecimento mais pleno dos seus carismas, da sua vocação e do seu lugar nos vários âmbitos da vida da Igreja", diz o texto, mencionando que as mulheres representam a maioria dos fiéis e são ativas nas paróquias.

"As mulheres contribuem para a investigação teológica e estão presentes em cargos de responsabilidade nas instituições ligadas à Igreja, nas cúrias diocesanas e na Cúria Romana. [...] Não há razões que impeçam as mulheres de assumirem papéis de liderança na Igreja: o que vem do Espírito Santo não pode ser impedido. A questão do acesso das mulheres ao ministério diaconal também permanece em aberto. O discernimento deve continuar a este respeito", diz.

Esse parágrafo foi aprovado e incluído no texto, com 258 votos a favor, mas foi aquele que recebeu a maior parte dos votos contrários, 97, indicando a rejeição de quase cem integrantes do sínodo contra o trecho dedicado às mulheres. O documento tem 155 parágrafos, e cada um deve ser aprovado por dois terços dos integrantes para ser considerado válido.

Outro tema que havia sido retirado da pauta oficial, a inclusão da comunidade LGBTQIA+ não foi abordada no documento final, exceto por uma breve menção "àqueles que compartilharam o sofrimento de se sentirem excluídos ou julgados pela sua situação conjugal, identidade e sexualidade".

Em seu discurso de encerramento, Francisco afirmou que os temas divisivos, confiados aos dez grupos de estudo, precisam de "tempo para chegar a escolhas que envolvam toda a Igreja".

"Essa não é a forma clássica de adiar indefinidamente decisões. É aquele que corresponde ao estilo sinodal com o qual também deve ser exercido o ministério petrino: escuta, convocação, discernimento, decisão e avaliação. E nesses passos são necessárias pausas, silêncios, orações. É um estilo que vamos aprendendo juntos, aos poucos", afirmou o papa.

No documento final, há a recomendação por mudanças no treinamento para futuros padres, mais envolvimento de leigos na escolha de bispos e mais transparência e responsabilidade em todos os níveis da Igreja.

O sínodo - a palavra vem do grego e remete a "caminhar junto" - é um mecanismo de consulta ativado pelo papa, que indica o tema que precisa ser aprofundado. Neste sábado, Francisco anunciou que não publicará uma exortação apostólica, com diretrizes ao clero, como era esperado. "O documento [final] já tem indicações muito concretas que podem servir de guia para a missão das igrejas, nos diversos continentes, nos diversos contextos", afirmou.