SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Países que ameaçarem os direitos humanos terão dificuldades para se relacionar com os Estados Unidos no governo de Joe Biden, avalia a entidade Human Rights Watch, que divulgou nesta quarta (13) seu relatório anual.

Biden, que assume no dia 20, deverá levar os EUA a colocar o respeito aos direitos humanos, como a vida, a segurança pessoal, a igualdade de condições e a liberdade de expressão, como critério para definir com quais países farão parcerias, especialmente na área econômica, projeta a entidade.

O Brasil terá problemas com isso, aponta a HRW, porque o governo de Jair Bolsonaro tem desrespeitado direitos em várias frentes, como ao favorecer o desmatamento da Amazônia, ao sabotar medidas para conter a Covid-19 e ao estimular políticas contra direitos das mulheres.

"Haverá grande pressão política e econômica sobre o Brasil por parte de Washington. Bolsonaro será um obstáculo para que novas parcerias sejam fechadas, como em acordos comerciais", disse Ken Roth, diretor executivo global da HRW.

"A falta destes acordos poderá dificultar a retomada da economia do Brasil [no pós-pandemia]", prosseguiu Roth.

O diretor citou como exemplo o caso da União Europeia, que resiste a fechar um acordo com o Mercosul, por conta das ações de Bolsonaro. Na terça (12), o presidente francês Emmanuel Macron fez críticas à soja brasileira, a qual acusou de favorecer o desmatamento da Amazônia.

Roth espera que Biden represente um novo "momento Jimmy Carter", em referência ao ex-presidente dos EUA que levou o país, no fim dos anos 1970, a reforçar a defesa dos direitos humanos no exterior.

"Depois de quatro anos de Trump, marcados pela indiferença e, frequentemente, hostilidade contra os direitos humanos, a Presidência de Biden traz uma oportunidade de mudança", diz o diretor.

Para a HRW, Biden deve levar os EUA a se afastar de regimes autoritários que foram cortejados pelo governo de Donald Trump, como Arábia Saudita e Egito, e suspender parcerias para a venda de armas para esses países. A entidade também espera que o novo presidente americano condene a Índia pela discriminação aos muçulmanos.

Em seu governo, Biden promete promover o avanço do acesso à saúde, o combate ao racismo, à pobreza e ao aquecimento global, além de buscar melhores condições para mulheres e pessoas LGBT. A adoção destas medidas servirá de exemplo a outros países.

Roth diz ainda que os EUA deveriam buscar trabalhar com outros governos em condição de igualdade, pois várias outras nações emergiram como líderes na defesa dos direitos nos últimos anos. "O governo Biden deveria se juntar aos esforços já feitos, e não tentar suplantá-los", defende.

O relatório anual da entidade, uma das maiores ONGs de defesa de direitos no mundo, detalha a situação dos direitos humanos em cem países. O documento destaca também o aumento da repressão a opositores na China, e cita as ações tomadas para retirar liberdades políticas em Hong Kong e o controle rigido sobre muçulmanos em Xinjiang. "Este tem sido o momento mais sombrio para os direitos humanos na China desde o massacre de 1989 [na praça da Paz Celestial]", aponta.