São Paulo - A crise entre a Rússia e a Otan escalou nesta terça (13). Moscou acusou o Ocidente de deslocar 40 mil soldados para fronteiras próximas de seu território. Já a aliança militar liderada pelos EUA exigiu o fim de "ações provocativas" do Kremlin na Ucrânia, perto de onde o governo de Vladimir Putin concentrou estimados 83 mil soldados nas duas últimas semanas.

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Há um consenso relativo entre analistas de que a guerra de fato não interessa nem à Rússia nem à Otan
STR / AFP Há um consenso relativo entre analistas de que a guerra de fato não interessa nem à Rússia nem à Otan | Foto: STR/AFP

Pela segunda vez nos últimos dias, Washington também prometeu "total apoio" a Kiev em seu embate com a Rússia, embora não seja claro até onde o governo de Joe Biden esteja disposto a ir.

A tensão gira em torno do Donbass, uma região de maioria étnica russa no leste da Ucrânia que vive um estado de guerra civil congelado desde 2014, com metade de seu território ocupado pelos separatistas apoiados por Moscou.

Naquele ano, o presidente pró-Moscou da Ucrânia foi derrubado, para evitar que o vizinho entrasse de vez na órbita do Ocidente e enfraquecesse sua posição geopolítica trazendo forças adversárias para suas fronteiras, Putin anexou a península da Crimeia, também de maioria étnica russa.

No leste ucraniano, contudo, a situação seguiu indefinida. Mais de 13 mil pessoas morreram nos combates, concentrados até 2015 e esporádicos desde então, mas o sucesso do Azerbaijão em resolver "manu militari" suas diferenças com a Armênia no ano passado parece ter inspirado a Ucrânia a tentar fazer o mesmo.

Essa leitura é contestada pelos ucranianos, que apontam que parte de seu território está sob ocupação rebelde. Seja como for, o impopular presidente Volodimir Zelinski está pressionado por rivais a adotar uma posição mais belicosa que antes rejeitava.

O resultado foi o deslocamento de 33 unidades do seu Exército para regiões fronteiriças às duas autoproclamadas repúblicas populares do leste, a de Donetsk e a de Lugansk, no começo do ano.

A resposta russa veio nas últimas semanas, com a enorme concentração de tropas que gerou alarme entre lideranças ocidentais, Biden à frente. O americano tem se notabilizado por uma dura retórica contra Putin, a quem chamou de assassino.

Países europeus com negócios energéticos com Moscou, como Alemanha e França, tendem a buscar mais diplomacia. Ainda assim, todos se uniram em comunicado do G7, o grupo das sete economias mais desenvolvidas do mundo, pedindo para que a Rússia parasse de desestabilizar a Ucrânia, emitido na segunda-feira (12).

Nesta terça, o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, reuniu-se com o ministro da Defesa ucraniano, Dmitro Kuleba, em Bruxelas. Ambos pediram o fim das movimentações russas, as maiores desde 2014, e Kuleba voltou a pedir rapidez no processo de integração de seu país à Otan, algo virtualmente impossível.

As regras do clube exigem que um membro não tenha disputas territoriais, e o acesso em 2020 de seu mais recente integrante, a turbulenta Macedônia do Norte, demorou 21 anos.

Depois, Kuleba encontrou-se com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. "A Rússia precisa de-escalar suas forças imediatamente", afirmou. Em Moscou, o ministro da Defesa Serguei Choigu afirmou que trabalha com a informação de que a Otan está movendo forças da América do Norte para a Europa. Segundo ele, "40 mil soldados e 15 mil itens de armamento, incluindo aviões estratégicos, serão concentrados" perto da Rússia. Além disso, ainda nesta semana dois navios de guerra americanos irão entrar no mar Negro, que banha a região disputada e que é a saída estratégica dos russos ao Mediterrâneo.

Há um consenso relativo entre analistas de que a guerra de fato não interessa a ninguém, e que Putin está aproveitando a situação para tentar implementar de vez os acordos de Minsk (2014-15), que não são aceitos por Kiev por manter as repúblicas rebeldes autônomas.

Por outro lado, em especial na Rússia, há poucas dúvidas de que o Kremlin irá intervir se houver um ataque maciço ucraniano contra posições no Donbass. Isso, contudo, é igualmente duvidoso com a escalada da crise.