OEA condena mobilização de exército em tentativa de golpe
A resolução chama de ilegal a mobilização de unidades das Forças Armadas em La Paz
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quinta-feira, 27 de junho de 2024
A resolução chama de ilegal a mobilização de unidades das Forças Armadas em La Paz
Ricardo Della Coletta, Julia Chaib e Renato Machado - Folhapress
Brasília - A Assembleia-Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) aprovou, nesta quinta-feira (27), uma resolução que condena "a mobilização ilegal" do Exército boliviano na tentativa de golpe de Estado no país ocorrida na quarta (26).
O texto foi apresentado conjuntamente por Brasil, Paraguai, Colômbia, Antígua e Barbuda, Uruguai, México e Chile, além de ter sido copatrocinado por Estados Unidos, Equador, Guiana, Suriname, Canadá e Peru. A aprovação ocorreu por aclamação.
A resolução chama de ilegal a mobilização de unidades do Exército em La Paz na quarta. Liderados pelo general Juan José Zúñiga, tropas cercaram a praça onde fica o palácio presidencial e chegaram a invadir o edifício.
O presidente Luis Arce demitiu os comandantes das Forças Armadas e nomeou novos chefes militares, que ordenaram a desmobilização das tropas.
A declaração aprovada na OEA "condena veementemente" a mobilização militar e diz que ela constitui uma "ameaça ao regime constitucional" da Bolívia e uma "insubordinação flagrante" às ordens de Arce. Também denuncia "qualquer tentativa de desestabilização das instituições democráticas" bolivianas e expressa solidariedade ao povo e ao governo do país.
A Assembleia-Geral da OEA está reunida nesta semana em Assunção, no Paraguai. Ainda na quarta, altos funcionários dos países presentes denunciaram a tentativa de golpe.
O fato de a intentona ter coincidido com a reunião da OEA facilitou a articulação da resposta internacional contra o golpe. Ainda na quarta, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, condenou a ação militar e disse que os fardados devem se submeter à autoridade civil.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, criticou nesta quinta-feira a movimentação de militares bolivianos contra o governo de Luis Arce. "A democracia é um valor fundamental para o Brasil como reafirmamos ontem ao rechaçar a inaceitável tentativa de golpe de Estado na Bolívia", afirmou o chanceler.
Outro ministro do governo Lula (PT), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), também condenou a tentativa de derrubar o presidente boliviano e afirmou que não há espaço para "ditaduras e tentativas de golpe de Estado na América Latina".
As declarações ocorreram durante a abertura da 3ª reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o chamado Conselhão.
A tentativa de derrubar o presidente da Bolívia, Luis Arce, não foi um autogolpe e o general responsável pela ação agiu por conta própria, afirmou nesta quinta-feira (27) o ministro do Governo do país, Eduardo Del Castillo.
A declaração ocorre após o general Juan José Zúñiga, líder dos militares que avançaram contra o palácio presidencial em La Paz nesta quarta (26), dizer que a ação foi incentivada pelo próprio Arce.
Sem apresentar evidências, o general afirmou que o presidente teria arquitetado um autogolpe para aumentar sua popularidade. "As declarações de Zuñiga carecem de veracidade", afirmou Del Castillo em uma entrevista à emissora de TV Unitel. "Ele já estava informado sobre a perda de seu cargo. Ele havia violado a Constituição. Um militar não pode deliberar sobre política, não pode deliberar sobre temas dentro do território nacional."
O general havia sido removido do cargo na terça (25) após fazer uma série de ameaças contra o ex-presidente Evo Morales, que tem planos de concorrer novamente nas eleições presidenciais de 2025 contra Arce, seu afilhado político e atual rival.
Del Castillo afirma que Zuñiga reagiu com calma à demissão. "Ninguém poderia imaginar que, no dia seguinte, antes da entrega oficial dos cargos, haveria um golpe fracassado em nosso país", disse.
Ainda de acordo com o ministro, o golpe foi planejado por cerca de três semanas e o governo já havia recebido informações sobre tentativas de desestabilizar o país. A ação deixou 12 feridos a bala e cerca de dez militares detidos, segundo Del Castillo.
O golpe fracassado durou várias horas - o suficiente para militares tomarem a Praça Murillo, avançarem contra a porta do palácio presidencial com um blindado do Exército e entrarem no prédio. Antes disso, tropas haviam sido vistas marchando pelas ruas da capital. Por fim, os soldados acabaram se retirando após confrontarem Arce, e a polícia retomou o controle da praça.