Número de vítimas assusta ugandenses
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 29 de março de 2000
France Presse
De Nairóbi
Doze dias depois do começo da aterrorizante série de descobertas de corpos de adeptos da seita apocalíptica ugandesa, a polícia continua sem saber se seus dirigentes estão mortos ou fugitivos no exterior, o número exato de vítimas, a identidade delas e muito menos a data em que foram mortas.
A polícia ugandesa, que ontem exumou mais 53 corpos, parece atordoada com a amplitude da tragédia: cerca de 700 mortos, entre eles várias crianças, estrangulados, envenenados ou assassinados com instrumentos cortantes. Os últimos 53 corpos estavam numa vala comum encontrada dentro da casa de um dos dirigentes da seita, Dominic Kataribaabo. Era uma casa dos horrores, onde já haviam sido encontrados entre 66 e 73 corpos, só que no jardim. O grupo mais recente, encontrado dentro da casa, foi assassinado há cerca de um mês, mas só agora a polícia começa a se dar conta do que aconteceu.
Ontem, tudo parecia indicar que este balanço provisório vai se agravar ainda mais. Em relação ao balanço exato das vítimas, já existe um consenso de que jamais será alcançado, já que as autoridades tomaram a decisão de enterrar os restos mortais das vítimas do incêndio da igreja da seita Restauração dos Dez Mandamentos de Deus, em Kanungu (sudoeste de Uganda), em 17 de março.
As autoridades contabilizaram no local 330 cadáveres, mas com eles foram enterrados outros corpos carbonizados até as cinzas ou calcinados demais para ser reconstituídos. Precipitada, a polícia não fez a identificação das vítimas. Com isso, ficou impossível saber se os dirigentes da seita estavam ou não entre os mortos.
Consideramos que estão vivos, já que não temos provas de que tenham morrido no incêndio de Kanungu, declarou à AFP um porta-voz da polícia, Assuman Mugenyi.
Em Kanungu, os corpos de seis pessoas assassinadas foram retirados das covas e rapidamente enterrados, sem que nenhum especialista os examinasse. O mesmo aconteceu com os 153 mortos de Buhunga (perto de Rugazi) e os 70 encontrados esta segunda-feira em Rugazi.
É um problema logístico, não podemos atuar tão rapidamente, explicou em Rugazi o oficial de polícia que acompanhava anteontem os primeiros legistas mobilizados para estudar os corpos nos locais onde foram encontrados, desde 17 de março.
Uganda conta com apenas três médicos-legistas, sendo que apenas um deles é empregado pela polícia, afirmou ele. Por isso, as vítimas não puderam ser autopsiadas nem identificadas. Além disso, muito poucos familiares de vítimas se apresentaram para se informar sobre a morte dos parentes.
A polícia anunciou que transmitiria à imprensa e à Interpol as fotos dos dirigentes da seita, Joseph Kibwetere, Dominic Kataribaabo, Credonia Mwerinde, Ursulaa Komuhangi e Henry Byarugaba, pondo em marcha a ordem de captura internacional.
Segundo várias testemunhas, a principal motivação dos dirigenes da seita era ficar com o dinheiro dos adeptos. Apesar disso, as autoridades ugandesas não anunciaram até agora possíveis investigações financeiras nem ordens de bloqueio das contas bancárias dos envolvidos.Polícia parece atordoada com a amplitude da tragédia: com os 53 corpos descobertos ontem na casa de um dos líderes, os mortos já somam 700
Arquivo FolhaCENÁRIO DE HORRORO que parecia o suicídio coletivo de seguidores da seita agora está sendo tratado como assassinato em massa