São Paulo - O número de jornalistas mortos no exercício da profissão em todo o mundo no ano de 2023 foi o menor em duas décadas, aponta relatório publicado nesta quinta-feira (14) pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF). O levantamento, porém, indica que a eclosão de grandes guerras torna as condições de segurança precárias: pela primeira vez em cinco anos, mais profissionais morreram em regiões de conflito do que em zonas de paz.

O relatório contabiliza 45 jornalistas mortos de janeiro até 1º de dezembro deste ano. Trata-se do menor número desde 2002, quando 33 profissionais morreram, segundo a organização. No ano passado, foram 61 mortes (35% a mais do que em 2023).

A diminuição ocorre a despeito das mortes de jornalistas na guerra Israel-Hamas, atualmente o conflito mais letal para os profissionais da área. Em menos de dois meses, 17 profissionais foram confirmados mortos no exercício de suas profissões na região, segundo a RSF. Se consideradas as mortes fora do contexto profissional, o número salta para 63 (56 somente na Faixa de Gaza).

A letalidade alta de jornalistas é corroborada por outras entidades. O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) também contabiliza, até esta quarta (13), 63 profissionais da imprensa mortos no conflito iniciado em 7 de outubro. Os dois meses da guerra deixaram mais jornalistas mortos na região do que a cifra dessas vítimas registrada nos últimos 30 anos, segundo dados do comitê.

"Em Gaza, os jornalistas pagam um preço elevado entre os civis. [...] Registramos uma denúncia junto ao Tribunal Penal Internacional para estabelecer a realidade dos fatos e como os jornalistas foram deliberadamente visados", afirma Christophe Deloire, secretário-geral da RSF.

Neste ano, 23 jornalistas foram mortos em atividade em zonas de conflito. Na Ucrânia, as mortes de dois jornalistas se somaram, em 2023, às dos nove profissionais da imprensa que perderam a vida desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022, segundo o relatório da RSF. Outros jornalistas morreram em conflitos no Sudão, no Mali e em Camarões.

Considerando todo o mundo, a diminuição do número de mortes de jornalistas é explicada pelo aumento da segurança dos jornalistas e pela interrupção dos picos de mortalidade no Iraque e na Síria, onde quase 600 jornalistas morreram no exercício das suas funções de 2003 a 2022, de acordo com a organização.

O número de jornalistas mortos na América Latina diminuiu de 26, em 2022, para 6 neste ano. A RSF, porém, faz ressalvas. "Os jornalistas não trabalham com segurança no continente, como demonstram recentes sequestros e ataques armados no México", diz trecho do relatório.

Em todos os países, 521 jornalistas estão presos pelo que a RSF considera "motivos arbitrários" relacionados com a sua profissão (-8,4% comparado a 2022). A China continua sendo o país com mais profissionais presos. Cento e vinte e um profissionais estão nas prisões do gigante asiático, quase um quarto (23%) de todos os jornalistas detidos no mundo.

A Belarus, do ditador Aleksandr Lukachenko, juntou-se, em 2023, aos três principais regimes que mais prendem jornalistas: 39 deles estão detidos no país (ou seja, 7 a mais do que em 2022). Outros 54 profissionais eram mantidos reféns em todo o mundo em 1º de dezembro, e 54 eram considerados desaparecidos.