Quito - Aos 35 anos, o empresário e ex-deputado de centro-direita Daniel Noboa realizou o sonho de seu pai e se tornou o presidente mais jovem da história do Equador. Após uma das campanhas mais conturbadas do país, com eleições antecipadas e um presidenciável assassinado, o liberal venceu o segundo turno neste domingo (15).

Ele derrotou Luisa González, candidata de esquerda ligada ao ex-presidente Rafael Correa, que comandou a nação por uma década de 2007 a 2017 e hoje está asilado na Bélgica após ser condenado por corrupção, se dizendo perseguido.

"Hoje encerramos o capítulo da campanha e amanhã começamos a trabalhar pelo novo Equador", comemorou Noboa em um discurso frio de pouco mais de um minuto, acrescentando que vai anunciar sua equipe em breve. "Quero agradecer a todas as pessoas que têm sido parte de um projeto político novo, jovem, improvável, cujo fim era devolver o sorriso, a paz, a educação e o emprego ao país."

Já González reconheceu rapidamente a derrota, disse que ligaria ao adversário para dar os parabéns e deixou uma mensagem de unidade. "Pode contar com os nossos votos na Assembleia para as reformas legais, de segurança, saúde, educação, para o que precisar. Desde que não envolva a privatização de nossos recursos nem a precarização da saúde, do emprego ou da educação", disse.

O presidente eleito é filho do "magnata das bananas" Álvaro Noboa, empresário e político que já concorreu ao cargo cinco vezes, três delas contra Correa. Ele herdou do pai ao menos duas empresas em paraíso fiscal, o que é proibido pela lei equatoriana, mas isso não o impediu de competir.

Este será o terceiro governo seguido de direita ou centro-direita no Equador, depois dos dez anos de correísmo. Antes vieram Lenín Moreno (2017-2021) - que foi vice de Correa porém rompeu a relação logo após chegar à Presidência - e o atual presidente e ex-banqueiro Guillermo Lasso.

Lasso não conseguiu governar sem o apoio da força de esquerda na Assembleia Legislativa e foi alvo de dois processos de impeachment. Para evitar o último deles, em maio, decretou a chamada "morte cruzada", dissolveu a Casa e convocou estas eleições antecipadas, organizadas às pressas.

Noboa, portanto, só governará por cerca de um ano e meio, até 2025. Ele deve assumir na primeira semana de dezembro, mas ainda não há uma data confirmada. É um tempo considerado curto para lidar com a séria crise de segurança enfrentada nas ruas e prisões do país, que culminou no assassinato do presidenciável Fernando Villavicencio 11 dias antes do primeiro turno, em agosto.

Sete colombianos acusados pelo crime foram enforcados em duas prisões no último dia 7, gerando uma nova crise institucional e levando Lasso a trocar toda a cúpula policial. Ainda não se sabe quem são os mandantes da morte, pelos quais os Estados Unidos estão oferecendo uma recompensa de US$ 5 milhões (R$ 25 milhões).

Nessa área, principal preocupação dos equatorianos, Noboa já disse que pretende abrir "prisões-barco" para isolar os criminosos mais perigosos. Também fala em criar um centro de inteligência para prevenir crimes e em equipar as polícias, mas não deu muitos detalhes de como pretende fazer isso.