São Carlos - O americano David Julius, 65, e o libanês de origem armênia Ardem Patapoutian, 54, que é naturalizado americano, são os ganhadores do Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina de 2021. Trabalhando de forma independente em instituições nos EUA, os dois elucidaram os mecanismos que permitem que o sistema nervoso capte estímulos de temperatura e toque na pele. Julius trabalha na Universidade da Califórnia em San Francisco, enquanto Patapoutian, trabalha no Scripps Research, também na Califórnia.

David Julius e Ardem Patapoutian chegaram à conquista trabalhando de forma independente em instituições nos EUA
David Julius e Ardem Patapoutian chegaram à conquista trabalhando de forma independente em instituições nos EUA | Foto: Jonathan Nackstrand/AFP

Para chegar às descobertas premiadas agora pelo comitê do Nobel, Julius contou com uma ajuda culinária. Ele começou estudando os efeitos da capsaicina, substância presente na pimenta-malagueta e outros tipos de pimenta muito picantes. A ideia é que a sensação de forte calor trazida pela capsaicina quando consumimos essas pimentas poderia ajudar a entender a sensibilidade das células nervosas à temperatura.

Seguindo esse raciocínio, o pesquisador americano conseguiu identificar o receptor, ou seja, a fechadura química das células onde as moléculas de capsaicina se conectam e produzem o efeito de "calor". Estudos posteriores mostraram que receptores semelhantes são responsáveis pela gradação das sensações de calor.

Patapoutian usou métodos similares, por um processo de tentativa e erro e "desligamento" de genes, para identificar os receptores das células nervosas ligados à sensação de toque. Os pesquisadores vão dividir o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (ou cerca de US$ 1,15 milhão). Já autoindicações não são aceitas.

HISTÓRICO

Em 2020, o Nobel de Medicina foi dividido por três pesquisadores pela descoberta do vírus da hepatite C. O americano Harvey Alter, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), o britânico Michael Houghton, da Universidade de Alberta, e também o americano Charles Rice, da Universidade Rockefeller, foram os laureados.

Por causa da pandemia, em 2020, a medalha e o diploma de premiação foram enviados para a casa dos laureados, o que se repetirá neste ano. Há ainda a possibilidade de um presencial Dia do Nobel, em 10 de dezembro, com a premiação do Nobel da Paz - anunciada antes, porém. A decisão será tomada em meados de outubro.

Já em 2019, William G. Kaelin, da Universidade Harvard, Peter J. Ratcliffe, da Universidade de Oxford, e Gregg L. Semenza, da Universidade Johns Hopkins, foram os premiados por pesquisas sobre como as células percebem e alteram o comportamento de acordo com a disponibilidade de oxigênio.

Em 2018, foi a vez de James P. Allison e de Tasuku Honjo serem laureados pelas descobertas ligadas à imunoterapia, ou seja, ao combate do câncer com drogas que potencializam a função do sistema imunológico.

Entre as descobertas premiadas no passado estão as da estrutura do DNA por James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins (1962), a da penicilina por Fleming e outros (1945), a do ciclo do ácido cítrico por Hans Krebs (1953) e a da estrutura do sistema nervoso por Camillo Golgi e Santiago Ramón y Cajal (1906).

Outras descobertas notáveis premiadas pelo Nobel de Medicina ou Fisiologia são a da insulina (1932), da relação entre HPV e câncer (2008), a da fertilização in vitro (2010), a de que existem grupos sanguíneos (1930) e a de como agem os hormônios (1971).

A única pessoa nascida no Brasil que recebeu um Nobel foi o britânico Peter Medawar, pela descoberta das bases da tolerância imunológica adquirida, ou seja, a capacidade de fazer o sistema imunológico de um organismo não reagir a certos fatores.

"É meu desejo que, ao atribuir os prêmios, nenhuma consideração seja dada à nacionalidade, mas que o prêmio seja concedido à pessoa mais digna, sejam ou não escandinavos", diz o testamento de Alfred Nobel.