SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Comparado ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, por menosprezar a pandemia de Covid-19, o ditador bielorusso Aleksandr Lukachenko também já disse que não vai se vacinar. Apesar disso, apressou o programa de imunização da Belarus, que começou uma semana antes do previsto, nesta segunda (28).

A vacinação será voluntária, e a prioridade das primeiras doses será de professores, profissionais de saúde e dos que, por natureza da profissão, precisam entrar em contato com muitas pessoas.

Segundo o governo russo, a Belarus foi o primeiro Estado estrangeiro a registrar oficialmente a vacina Sputnik V, desenvolvida no país vizinho e aliado. O governo bielorrusso planeja vacinar 1,2 milhão de pessoas até abril e chegar a 5,5 milhões —mais da metade da população— numa segunda etapa, quando pretende fabricar o imunizante russo no próprio território.

A Rússia autorizou o uso emergencial da Sputnik V em agosto e afirmou já ter imunizado mais de 50 mil pessoas. Lukachenko, porém, não seguirá o exemplo do presidente russo, Vladimir Putin, que já anunciou que se vacinará e permitiu que sua filha participasse de um grupo de voluntários para teste do imunizante.

O ditador bielorrusso, que já teve Covid-19, diz acreditar que, “com um estilo de vida normal, uma pessoa tem, em princípio, imunidade suficiente para resistir a muitas doenças”. Mas essa é uma decisão privada, afirmou em entrevista: “Pessoal, não como um presidente”.

No grupo dos políticos autoritários, Lukachenko está sozinho no ceticismo quanto à vacina. O premiê da Hungria, Viktor Orbán, também se adiantou para queimar a largada e começar a vacinar os húngaros no sábado (26), um dia antes da data marcada pela União Europeia.

Depois de reclamar de demora do bloco europeu em aprovar uma vacina e anunciar que a Hungria seria o primeiro país europeu a aplicar produtos desenvolvidos na Rússia e na China, Orbán começou a vacinar no sábado profissionais de saúde, com a vacina da Pfizer/BioNTech (aprovada para uso emergencial pela UE). De acordo com o governo, cerca de 307 mil húngaros já se registraram para receber a primeira dose.

Críticos do primeiro-ministro, considerado um aliado por Bolsonaro, afirmam que o uso político do tema aumentou o ceticismo da população em relação à imunização. Segundo o departamento húngaro de estatísticas, 35% dos adultos do país, em pesquisa recente, disseram que não tomariam a vacina.

Opositores também criticam a necessidade de se registrar para a imunização, que não é obrigatória no país. Segundo eles, a medida fere a privacidade dos húngaros. O governo comprou 17,5 milhões de doses (suficientes para vacinar toda a população do país) e diz preparar campanha de informação para aumentar a confiança da população na segurança e eficácia dos imunizantes.

Na Polônia, onde o governo nacionalista conservador também é tratado como aliado pelo presidente brasileiro, a adesão à vacina virou até motivo de confraternização política em horário nobre da TV.

Nesta terça (29), dois líderes de partidos rivais —Tomasz Grodzki, do liberal Plataforma Cívica, e Stanisław Karczewski, do conservador Lei e Justiça — vacinaram-se juntos em cena transmitida ao vivo.

“A ideia é mostrar que a questão da vacinação está além das divisões políticas”, disse Grodzki, que, como Karczewski, é médico. Ambos atuam na linha de frente de tratamento da Covid-19 e, por isso, estão no grupo prioritário do esquema de vacinação polonês, que começou neste domingo (27).