| |

Mundo 5m de leitura

Mulher trata TOC com implante cerebral inédito nos EUA

Rituais repetitivos, como lavar as mãos até sangrar, ficaram em grande parte para trás graças ao dispositivo

ATUALIZAÇÃO
04 de fevereiro de 2024

Romain Fonsegrives - France Presse
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Mulher trata TOC com implante cerebral inédito nos EUA

A americana Amber Pearson costumava lavar as mãos até sangrar, por medo de se contaminar com objetos do cotidiano, um dos muitos comportamentos provocados pelo TOC (transtorno obsessivo-compulsivo).

Os rituais repetitivos ficaram em grande parte para trás graças a um implante cerebral revolucionário, que ela usa para tratar tanto o TOC quanto a epilepsia.

"Estou realmente presente na minha vida diária, e isso é incrível. Antes, eu vivia preocupada com as minhas compulsões", disse Amber, 34, à AFP.

Os implantes cerebrais ganharam as manchetes no fim de janeiro, com o anúncio do magnata Elon Musk de que sua empresa Neuralink havia implantado um chip na cabeça de um paciente, com o qual cientistas esperam que as pessoas possam controlar um smartphone com o pensamento.

A ideia de inserir um dispositivo no cérebro não é nova. Os médicos sabem há décadas que o estímulo elétrico aplicado com precisão pode afetar o funcionamento cerebral.

Esse estímulo profundo é usado no tratamento de Parkinson e outras condições que afetam os movimentos, entre elas a epilepsia.

Os médicos que trabalharam no caso de Amber lhe ofereceram o dispositivo de 32 milímetros para tratar suas crises epilépticas, acreditando que ele seria capaz de detectar a atividade que gera esses episódios e enviar um pulso que permitisse interferir neles. Foi então que a própria Amber deu a sua contribuição.

"Foi ideia dela dizer: 'Bom, você vai entrar no meu cérebro e colocar esse eletrodo, e eu tenho TOC. Você poderia simplesmente colocar um eletrodo para TOC?'", contou o neurocirurgião Ahmed Raslan, que realizou o procedimento, na Universidade de Ciências e Saúde de Oregon, em Portland. “Felizmente, levamos essa sugestão a sério.”

Estudos anteriores já haviam sido feitos sobre o uso da estimulação cerebral profunda em pessoas com TOC, mas, segundo Raslan, ela nunca havia sido combinada com o tratamento da epilepsia.

Os médicos trabalharam com Amber para observar o que acontece em seu cérebro quando ela entra em um ciclo obsessivo. A técnica envolveu expor a paciente a fatores estressantes conhecidos, como o consumo de mariscos, e registrar os pulsos elétricos.

Os médicos conseguiram isolar de forma eficaz a atividade cerebral associada ao TOC. Poderiam, então, configurar seu implante para reagir a esse sinal específico.

ESPERANÇA

O dispositivo de dupla função agora monitora a atividade cerebral associada à epilepsia e ao TOC. “É o único dispositivo no mundo que trata duas doenças”, destacou Raslan.

“É programado de forma independente. O programa para a epilepsia é diferente do programa para o TOC. Essa ideia é algo fora do comum, e só poderia ter vindo de um paciente", ressaltou o neurocirurgião.

Amber teve que esperar oito meses após o procedimento de 2019 para perceber alguma diferença em seu comportamento. Gradualmente, os rituais que a desgastavam e consumiam oito ou nove horas do seu dia desde a adolescência começaram a diminuir, e sua vida foi se normalizando.

Raslan destacou que um estudo está sendo feito na Universidade da Pensilvânia sobre como ampliar o uso dessa técnica, que representaria uma esperança para algumas das 2,5 milhões de pessoas que sofrem de TOC nos Estados Unidos.

Esse conteúdo é restrito para assinantes...
Faça seu login clicando aqui.
Assine clicando aqui.

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS