Pelo segundo ano consecutivo, a pandemia da Covid-19 vai atrapalhar, também, as reuniões e celebrações do Ramadã, mês em que os muçulmanos se dedicam à espiritualidade e à caridade como forma de lembrar o profeta Muhammad no período em que recebeu as revelações do Alcorão. Embora igrejas e templos religiosos estejam autorizados a funcionarem com até 25% de ocupação, conforme resolução da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) publicada nesta semana, a Sociedade Muçulmana de Londrina Mesquita Rei Faiçal não deverá realizar atividades presenciais e o desjejum, a festa que marca o fim do período em que os muçulmanos se abstêm de se alimentar e até beber água do amanhecer ao anoitecer.

Idosos, gestantes e outras pessoas que não podem realizar o jejum por questões de saúde recebem o perdão de Deus diante da sua substituição por ações de caridade
Idosos, gestantes e outras pessoas que não podem realizar o jejum por questões de saúde recebem o perdão de Deus diante da sua substituição por ações de caridade | Foto: Gustavo Carneiro

“Não estamos falando para as pessoas comparecem na mesquita”, afirmou à FOLHA o presidente da Sociedade Muçulmana de Londrina Mesquita Rei Faiçal, Nasser Haissam Zebian Nasser. Por outro lado, assim como outras igrejas e templos, a Mesquita Rei Faiçal não tem deixado de realizar atendimentos individuais.

Comparado ao Natal para os cristãos, o Ramadã também é visto como uma oportunidade para o fortalecimento da fé e se materializa em um jejum completo como forma de sacrifício físico. Aliado a essa prova perante Deus, o contexto da pandemia também tem posto à prova a fé de muitos religiosos, avaliou Nasser. Para ele, o “sacrifício social” que ocorre com o cumprimento das medidas de combate à propagação do vírus acaba sendo mais um elemento a ser considerado neste momento de espiritualidade. “É uma forma de Deus ver a sua luta, tanto física quanto espiritual”, definiu.

Ele também lembrou que idosos, gestantes ou outras pessoas que não podem realizar o jejum por questões de saúde recebem o perdão de Deus diante da sua substituição por ações de caridade. “Ela doa essa alimentação diária, independentemente de sua crença. É importantíssima a caridade porque quando você faz a quebra do jejum”, afirmou

A chegada dos primeiros imigrantes árabes em Londrina remonta à década de 1950. Construída em 1975, na Vila Siam, a Mesquita Rei Faiçal foi batizada com o nome do rei da Arábia Saudita, Faisal Bin Abdulaziz Al Saud. Foi a mesquita muçulmana do País, confirmando a importância da comunidade na formação do município de Londrina, que até comemora o dia 22 de novembro, dia do Libanês, em seu calendário oficial, conforme lei aprovada pelo Poder Legislativo.

No entanto, a maioria segue o cristianismo. Questionado, o presidente avaliou que a comunidade muçulmana de Londrina é formada por cerca de 300 pessoas. No entanto, se considerados os municípios como Ibiporã, Jaguapitã e Rolândia, onde imigrantes do Paquistão e Bangladesh vivem atualmente, este número é bem maior. Já em todo o mundo, a comunidade muçulmana é formada por cerca de 1 bilhão de pessoas.