São Paulo - Um novo ataque russo contra Odessa, na Ucrânia, danificou uma catedral ortodoxa, destruiu seis casas e prédios residenciais, matou duas pessoas e deixou 22 feridos, disseram autoridades de Kiev. A ofensiva na maior cidade portuária do país acontece após, no começo da semana, a Rússia deixar um acordo que permitia a exportação de grãos do rival. "Outro ataque noturno dos monstros", disse Oleh Kiper, governador da região.

De acordo com autoridades ucranianas, foram 19 mísseis lançados pela Rússia na madrugada deste domingo (23), dos quais nove foram derrubados. Entre os feridos, há quatro crianças e adolescentes com idades que variam de 11 a 17 anos. A Rússia atacou Odessa e outras instalações de exportação de alimentos ucranianos quase diariamente na semana passada.

"Mísseis contra cidades pacíficas, contra moradias, contra uma catedral", afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. "Haverá represálias contra os terroristas russos pelo que aconteceu em Odessa."

A Catedral da Transfiguração, maior igreja de Odessa, está severamente danificada, de acordo com a administração militar da região. O arquidiácono Andriy Palchuk disse à agência de notícias Reuters que o ataque iniciou um incêndio na parte da igreja onde são comercializados artefatos religiosos.

"Quando a capela do altar direito - a parte mais sagrada da catedral foi atingida -, um pedaço de míssil voou por toda a catedral e atingiu a área onde exibimos imagens, velas e livros para compra", disse o líder religioso.

Vários moradores das redondezas foram ajudar na limpeza da igreja, que ficou com o piso coberto de escombros e teve pedaços arrancados das paredes ornamentadas. A catedral do início do século 19 fica no centro histórico da cidade - local que, assim como o porto, está na lista de patrimônios mundiais da humanidade da Unesco (A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) desde o início deste ano.

Em janeiro, o prefeito de Odessa, Gennady Trukhanov, disse que no primeiro mês de guerra recorreu à ONU para tentar acelerar a inclusão dos pontos históricos da cidade à lista, algo que tentavam desde 2009. "O procedimento se arrastou e, com o início da guerra, havia uma ameaça real de destruição de nossos monumentos arquitetônicos", afirmou o político ao site das Nações Unidas.

O Ministério da Defesa da Ucrânia disse que a catedral já havia sido destruída durante as campanhas antirreligiosas de Joseph Stálin, em 1936, e reconstruída quando o país conquistou a independência de Moscou, em 1991.

O Ministério da Defesa russo afirmou ter atacado "instalações onde estavam preparando atos terroristas contra a Federação Russa por meio de embarcações não tripuladas". Nessas instalações, disse Moscou, havia mercenários estrangeiros. "Todos os alvos designados nos ataques foram destruídos", afirmou a pasta. Segundo o ministério, os relatos ucranianos de um ataque russo à catedral são falsos e a provável causa dos danos à construção é um míssil antiaéreo ucraniano.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, emitiu um comunicado condenando o ataque e oferecendo assistência na reconstrução da catedral. "Os agressores russos destroem depósitos de grãos, privando milhões de famintos de comida. Eles devastam nossa civilização europeia, nossos símbolos sagrados", disse ela.

O bombardeio ocorreu horas antes de uma reunião entre o russo Vladimir Putin e o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, em São Petersburgo. A reunião entre os dois líderes foi realizada pela primeira vez desde que Belarus atuou como mediadora para o fim da rebelião do grupo paramilitar Wagner na Rússia, há quatro semanas.

No início do encontro, no Palácio Konstantinovsky, o presidente russo afirmou que a contraofensiva ucraniana lançada no início de junho para tentar recuperar os terrenos invadidos por Moscou a sul e a leste "falhou".

Já Lukashenko atribuiu o incidente com o grupo paramilitar como o maior desafio ao poder de Putin, segundo muitos analistas, e reforçou que está controlando "o que está acontecendo", em menção à presença do grupo Wagner na fronteira com a Polônia. Desde o acordo para o fim da rebelião em 24 de junho, os militares do grupo Wagner estão centralizados em Belarus.