Maduro assume novo mandato após eleição apontada como fraudada
No poder desde 2013, o ditador foi empossado no Palácio Federal Legislativo, em Caracas, para mais seis anos no poder
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sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
No poder desde 2013, o ditador foi empossado no Palácio Federal Legislativo, em Caracas, para mais seis anos no poder
Mayara Paixão - Folhapress
Buenos Aires, Argentina - A minguada presença de líderes globais deu o termômetro do momento que vive Nicolás Maduro em sua terceira posse, realizada nesta sexta-feira (10). Mais isolado do que nunca, o ditador se sustenta nos tentáculos do regime, mas vê diminuir o respaldo internacional.
Diferentemente de sua última investidura, em 2019, sob contestação, mas feita na sequência de uma eleição boicotada pela oposição, desta vez Maduro se aferra ao poder depois de um pleito apontado como fraudado e no qual parte da Venezuela e boa parte da comunidade internacional dizem que Edmundo González foi o verdadeiro vencedor.
No poder desde 2013, o ditador foi empossado no Palácio Federal Legislativo, em Caracas, para mais seis anos no poder, até 2031. A cerimônia foi liderada pelo presidente do Parlamento unicameral, o aliado de primeira hora do regime Jorge Rodríguez, que saudou um a um, e com pompa, os principais líderes do chavismo.
"Para os traidores da pátria, digo-lhes: nós somos os redatores dessa Constituição; ela nasceu apesar de vocês, oligarcas, e cumpriremos a Constituição", disse Maduro em seu discurso, sob aplausos. Depois, voltou a dizer que dará início a uma reforma constitucional.
A cerimônia sucedeu uma quinta-feira confusa em Caracas. Após mais de três meses sem aparecer em público, a líder opositora María Corina Machado foi às ruas se somar a um ato da oposição e depois afirmou ter sido detida pelo regime e liberada.
Um vídeo seu dizendo estar bem circulou neste ínterim, despertando dúvidas sobre a veracidade do conteúdo. Posteriormente, aliados da opositora disseram que ela foi obrigada a gravar conteúdos. O procurador-geral do país, Tarek William Saab, negou que tenha havido detenção, e outras autoridades disseram o mesmo.
Desde as eleições de 28 de julho passado, o regime não publicou, como determina a lei, as atas eleitorais que podem comprovar os números da eleição. Com sua cúpula alinhada ao chavismo, o órgão eleitoral local disse que Maduro foi eleito com 52% dos votos. O Supremo chancelou o processo e tampouco exigiu a divulgação das atas.
Com documentos que colheu junto às suas testemunhas de votação, a principal coalizão opositora afirma que o ex-diplomata Edmundo González venceu com mais de 60% dos votos. O Centro Carter, único observador internacional independente de peso no pleito, também diz que González foi o escolhido nas urnas.
O regime diz se tratar de um plano internacional para derrubá-lo. "A extrema direita global, liderada por um nazissionista, um sádico social chamado Javier Milei, junto ao império norte-americano, crê que pode impor à Venezuela um presidente", disse Maduro, referindo-se ao presidente da Argentina, hoje seu principal rival na América do Sul.
O Brasil enviou sua embaixadora, Glivânia Oliveira, a diplomata que sob o governo Lula 3 foi a responsável por tentar reconstruir pontes diplomáticas após o rompimento sob a gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Ao menos por ora, Brasília não planeja emitir comentários sobre a escalada da repressão na Venezuela. Sob reserva, interlocutores dizem que o objetivo do governo é manter "baixo perfil" para não fechar canais de diálogo. Reconhecer Maduro como eleito não é uma opção, e o mesmo vale para Edmundo González.
Do Brasil, estiveram presentes uma delegação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e um grupo de dirigentes do PT (Partido dos Trabalhadores), a legenda do presidente Lula.