Paris - O presidente de centro, Emmanuel Macron, e a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, lançaram nesta sexta-feira (22) o último ataque para mobilizar seus eleitores e convencer os indecisos, nas últimas horas de campanha antes do segundo turno das eleições presidenciais no domingo (24). "Os franceses, com Emmanuel Macron, estarão condenados à prisão perpétua", disse Le Pen em um mercado no norte da França, em referência à proposta de seu rival de atrasar a idade de aposentadoria de 62 a 65 anos. A candidata do Reagrupamento Nacional (RN), que propõe adiantá-la para os 60 anos em alguns casos, concentrou sua campanha em exibir uma imagem menos radical e em se apresentar como a defensora das classes populares, ante o "presidente dos ricos".

No segundo turno, as chaves do Eliseu estão nas mãos dos abstencionistas e dos eleitores da esquerda
No segundo turno, as chaves do Eliseu estão nas mãos dos abstencionistas e dos eleitores da esquerda | Foto: Pascal Guyot/AFP

Marine Le Pen conseguiu "avançar mascarada", mas "os fundamentos da extrema-direita estão aí", reiterou Macron, do A República em Marcha (LREM), assegurando que suas propostas sobre o poder adquisitivo "não são viáveis". A perda do poder aquisitivo é a principal preocupação dos eleitores franceses na eleição presidencial, cuja campanha também esteve marcada pela guerra na Ucrânia, o aumento dos preços da energia e a inflação. Os quase 49 milhões de franceses chamados às urnas devem eleger entre dois modelos de sociedade e de relação desta potência econômica e nuclear com o resto do mundo.

Le Pen, de 53 anos, propõe inscrever a "prioridade nacional" na Constituição, para excluir os estrangeiros dos auxílios sociais, e defende o abandono do comando integrado da Otan e reduzir as competências da União Europeia (UE). Por sua vez, Macron, de 44 anos, defende ser "mais Europa", seja em matéria econômica, social ou de defensa, e recuperar seu impulso reformista e liberal.

As últimas pesquisas apontam a reeleição de Macron com cerca de 10 pontos de vantagem. Em 2017, este ex-banqueiro e ex-ministro da Economia do presidente socialista François Hollande venceu Le Pen com 66,1% dos votos. Cinco anos depois, as chaves do Eliseu estão nas mãos dos abstencionistas e dos eleitores do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que recebeu quase 22% dos votos no primeiro turno. Em uma consulta interna de seu partido, França Insubmissa, dois terços defendem a abstenção ou voto em branco ou nulo. Segundo pesquisa Elabe, dos que irão votar, 45% votarão em Macron e 24% em Le Pen.

Os dois finalistas temem ainda uma desmobilização de seus eleitores, em plenas férias escolares. Segundo pesquisa recente Ifop/Fiducial, a abstenção seria de 26%, chegando a 48% entre os eleitores de Mélenchon. "Espero que se mobilizem até o último segundo", já "que nada está decidido", pediu Macron nesta sexta a seus eleitores durante seu último comício de campanha em Figeac, no centro da França. A vitória de Marine Le Pen representaria um terremoto para a França e para a União Europeia (UE) e coroaria sua estratégia.

A reeleição de Macron, por sua vez, augura novos protestos sociais, como os dos "coletes amarelos" que abalaram a primeira metade de seu mandato, especialmente contra o atraso na idade de aposentadoria, embora ele já tenha dito que está aberto a 64 anos. O resultado da votação "será um bom indicador de como as eleições legislativas serão apresentadas" em junho, disse à AFP Gaspard Estrada, especialista em campanha da Sciences Po. "Há claramente uma vontade de que sejam um terceiro turno", apontou.

Se vencer no domingo, "Macron enfrentará uma população dividida, uma parte significativa da qual terá votado nele por descarte", indicou uma pesquisa do BVA publicada nesta sexta-feira, ressaltando que 66% querem que ele perca a maioria parlamentar. A última "coabitação" na França remonta ao período de 1997 a 2002, quando o presidente conservador Jacques Chirac nomeou o socialista Lionel Jospin como primeiro-ministro após as eleições legislativas.

O esquerdista Jean-Luc Mélenchon já pediu aos franceses que o elejam "primeiro-ministro" nas eleições parlamentares de 12 e 19 de junho. Seu partido, comunistas e ambientalistas estão negociando uma frente comum para essas eleições.