Lula fala em aguardar Justiça sobre eleições na Venezuela
Presidente afirmou que regime no país vizinho tem “viés autoritário”, mas não é uma ditadura
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sexta-feira, 16 de agosto de 2024
Presidente afirmou que regime no país vizinho tem “viés autoritário”, mas não é uma ditadura
Renato Machado - Folhapress
Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (16) que o atual regime de Nicolás Maduro na Venezuela não configura uma ditadura, e sim um "regime muito desagradável" que tem um "viés autoritário". As declarações foram feitas por Lula em uma entrevista à Rádio Gaúcha durante uma visita ao Rio Grande do Sul.
Questionado pelo veículo se considerava o regime venezuelano uma ditadura, ele respondeu achar "que a Venezuela vive um regime muito desagradável". "Não acho que é uma ditadura. É diferente de ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como conhecemos nesse mundo", afirmou.
Além disso, um dia depois de sugerir novas eleições para resolver a crise ou mesmo o estabelecimento de um governo de coalizão, ele pareceu recuar, afirmando preferir esperar a decisão da Suprema Corte venezuelana acerca do contestado resultado das eleições.
"Vamos esperar, porque agora tem uma Suprema Corte que está com os papéis para decidir. Vamos esperar qual será a decisão disso", disse.
No último dia 29, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) declarou Maduro reeleito para mais seis anos no poder. A oposição prontamente contestou e afirmou que houve fraude. Agora, o colegiado atende a uma solicitação do ditador para legitimar o resultado da disputa, contestado pela oposição.
Paralelamente, a presidente do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela, Caryslia Rodríguez, disse no último dia 10 que sua decisão acerca do pleito, ainda não tomada, será "inapelável".
Na véspera, Lula concedeu entrevista à Rádio T, no Paraná, e disse que o país vizinho tem que apresentar as atas e elas têm de ser confiáveis. "O que queremos é que o conselho nacional que cuida das eleições diga publicamente quem é que ganhou as eleições. (...) Tem que apresentar os dados, algo que seja confiável. O CNE que tem gente da oposição poderia ser. Mas ele não mandou para o conselho, mandou pra Suprema Corte dele. Eu não posso julgar a Suprema Corte", afirmou. O presidente ainda afirmou que discordava da nota publicada por seu partido, o PT, logo após a realização do pleito.
A Venezuela vive uma grave crise desde que realizou eleições presidenciais, no mês passado. Horas após o fechamento das urnas, em 29 de julho, o órgão nacional eleitoral declarou a vitória de Maduro no pleito, encaminhando-o assim para um terceiro mandato presidencial.
O resultado é, no entanto, amplamente questionado pela oposição e por diversos líderes regionais. Segundo a coalizão adversária, seu candidato, o ex-diplomata Edmundo González, venceu as eleições por 67% dos votos, contra 30% de Maduro. Esse resultado seria comprovado pelas atas eleitorais que o grupo tem em mãos - cerca de 80% do total— e que disponibilizou online.
Lula enviou o seu assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, para acompanhar o pleito de Caracas. Nesta sexta, em entrevista à rádio Gaúcha, ele contou que a Venezuela quis inicialmente barrá-lo.
"Quando o Celso Amorim ia viajar para a Venezuela, eu fui informado que eles tinha pedido para o Celso Amorim não ir pra Venezuela. Mandei comunciar a eles que se ele não pudesse ir, eu ia comunicar à imprensa que a Venezuela estava impedindo. Aí deixaram ir", disse.
O Brasil e outros países têm pressionado Maduro para que divulgue essas atas que, similares aos boletins de urna brasileiros, comprovariam a lisura do pleito. Mas o regime não atendeu ao pedido até o momento.
Na quinta-feira (15), Lula tinha afirmado pela primeira vez que não reconhecia a vitória de Maduro e sugeriu novas eleições ou um governo de coalizão como saídas para a crise no país vizinho.
A ideia foi rejeitada tanto por Maduro como pela oposição venezuelana. María Corina Machado, líder do movimento antichavista impedida de disputar eleições pelo regime, disse que propor um novo pleito era "uma falta de respeito com os venezuelanos".
Por alguns instantes da quinta, parecia que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também tinha apoiado a sugestão do governo brasileiro. Questionado por jornalistas sobre a ideia, o americano respondeu que "sim, eu apoio".
Um porta-voz da Casa Branca amenizou posteriormente a declaração, no entanto, dizendo que Biden se referia "ao absurdo de que Maduro e seus aliados não tenham sido honestos sobre as eleições". Houve rumores de que o presidente não teria ouvido ou compreendido a pergunta, mas não houve nenhum esclarecimento das autoridades americanas nesse sentido.
Ainda à Rádio Gaúcha, Lula afirmou que não vê risco de uma guerra civil na Venezuela justamente porque seus vizinhos, como o próprio Brasil ou a Colômbia, que vem agindo de forma coordenada com o governo brasileiro, atuam para buscar uma solução para a crise.
"Não acredito numa guerra civil na Venezuela. Não acredito porque acho que há muitos países com disposição de ajudar para que a gente viva em paz na América do Sul", disse o petista. "A guerra não leva à nada. Só leva à destruição. A paz leva ao crescimento econômico, distribuição de riqueza. É isso que eu espero para a Venezuela. É isso que eu torço para a Venezuela."
Sobre o impasse referente às novas eleições, ele afirmou que será preciso esperar a decisão da Suprema Corte do país. "Vamos esperar porque agora tem uma Suprema Corte que está com os papéis para decidir. Vamos esperar qual será a decisão disso", afirmou o mandatário.
Lula também foi questionado sobre a nota do PT que reconheceu a vitória de Maduro nas eleições. "Eu não concordo com a nota. Eu não penso igual à nota. Mas eu não sou da direção do PT. O problema da Venezuela será resolvido pela Venezuela", afirmou o presidente.