Um dia após a passagem do tufão Hagibis, no domingo (13), o governo japonês concentrou esforços no apoio à população e na limpeza das cidades atingidas, com uma força de aproximadamente 27 mil soldados das Forças de Autodefesa. A rede NHK reportou a morte de 31 pessoas, 186 feridos e pelo menos 14 desaparecidos nas regiões de Miyagi, Fukushima, Kanagawa, Tochigi, Gunma, Saitama, Iwate, Nagano, Ibaraki, Chiba e Shizuoka. Mais de 8 milhões de pessoas receberam a ordem de deixar suas casas e seguirem para abrigos. A tempestade, mais forte registrada no país desde 1958, tocou o solo em Shizuoka, no sudeste da capital japonesa, às 19h de sábado (12), do horário local. As rajadas de vento chegaram a 200 quilômetros por hora e um terremoto de magnitude 5,7 graus na escala Richter sacudiu Tóquio logo depois.

Inundação em Nagano depois da passagem do tufão Haigibis: em todo país, foram registrados pelo menos 31 mortos
Inundação em Nagano depois da passagem do tufão Haigibis: em todo país, foram registrados pelo menos 31 mortos | Foto: Jiji Press/ AFP

O economista londrinense Bruno Anami, 34, viveu a apreensão da chegada do tufão. Morador da província Shizuoka desde abril, quando se mudou para o país para trabalhar em uma fábrica de peças automotivas, Anami relata que desde quinta-feira (10) a região já sofria com a corrida dos japoneses aos mercados para comprar água e alimentos não-perecíveis. “A orientação é que tenhamos mantimentos para três dias. Eu não cheguei a ir para um abrigo, fiquei acompanhando o nível do rio próximo”, explicou à FOLHA. A cidade chegou ao alerta de nível quatro, em que todos os moradores que não se sintam seguros podem ir para um abrigo. “Os japoneses estão sempre muito tranquilos, porque eles já têm treinamento, os brasileiros, que não estão acostumados. que ficaram mais apreensivos. Mas o domingo amanheceu com o clima mais bonito, com sol”, relatou.

O clima de tranquilidade também foi relatado à FOLHA pelo lutador de sumô Rui de Sá Júnior, 25. Ele é de Londrina e está em Sakai, província de Osaka – 400 quilômetros de Tóquio – desde sexta-feira (11) para participar do 23º Campeonato Mundial de Sumô, marcado para este fim de semana. A competição foi adiada por precaução, e foi realizada no domingo (13). Nesta manhã, o atleta disse que na região onde está apenas choveu. “Apesar de todos os alertas, o clima está tranquilo. Aqui no Japão, as coisas são muito bem organizadas e eles são muito bem preparados para essas situações”, comentou Júnior, que ficou em segundo lugar na categoria adulto pesado.

CAPITAL

Os relatos em Tóquio, capital japonesa também foram de muitos problemas. O rio Tama transbordou causando a inundação de diversas áreas, incluindo um hospital. De acordo com a agência de notícias Kyodo, na baía de capital, seis dos 12 tripulantes de um cargueiro com bandeira panamenha desapareceram, e dois morreram depois da tempestade e das ondas afundarem o navio. Os transportes também causaram a paralisação dos transportes públicos, o cancelamento de 800 voos programados e a instabilidade nas redes de comunicação. O primeiro-ministro Shinzo Abe convocou uma reunião de emergência e enviou um de seus ministros para cuidar da gestão dos desastres para as áreas mais afetadas. O governo também criou uma força-tarefa para lidar com os danos.

Os relatos das autoridades japonesas deram conta ainda que 10 diques foram destruídos pela força das águas. Entre o ordenado trabalho de resgate também foi relatado um acidente no resgate de uma mulher de 77 anos, na província de Fukushima. Ela estava sendo içada por um helicóptero de resgate dos bombeiros, mas o gancho não se prendeu corretamente e a vítima despencou de uma altura de 40 metros, o que causou sua morte. As forças de segurança fazem o resgate dos moradores de áreas alagadas.

ATMOSFERA

As redes sociais foram abastecidas de imagens em que o céu japonês foi colorido por tons de rosa e roxo, antecedendo a chegada do Hagibis – que significa velocidade em Tagalo, um idioma falado nas Filipinas. O fenômeno chamado dispersão ocorre quando as moléculas e pequenas partículas na atmosfera influenciam a direção da luz. “Estava tão silencioso. Um silêncio antes da tempestade. Isso é loucura. Uma bela loucura está prestes a atingir o Japão”, escreveu um japonês que publicou imagens do céu no Instagram. (Colaborou Larissa Ayumi Sato).