Londrinenses enfrentam tempestade de neve no Canadá

Todos os avisos de condições meteorológicas extremas foram atingidos no Canadá neste final de semana (13 e 14/1). A Environment Canada, ministério do governo canadense para clima e meio ambiente, emitiu alertas meteorológicos para grandes partes dos estados de Ontário e Quebec, já que uma tempestade de inverno deverá trazer ainda neve nas próximas horas, até 40 centímetros em algumas regiões.

Há alguns anos o Canadá não registrava temperaturas tão baixas, alguns relatos falam de temperaturas próximas a -14°C e - 50°C de sensação térmica nas cidades mais frias da região neste fim de semana. E, ao que tudo indicava esse seria mais um ano com as temperaturas amenas no inverno. Nas redes sociais, por ocasião do Natal, internautas reclamavam da falta de neve e clima ameno. Porém no meio de um inverno quente, a Environment Canada emitiu uma série de alertas meteorológicos em todo o país.

Uma das regiões mais afetadas foi a cidade de Toronto, capital de Ontário. Uma tempestade atingiu Toronto no final da tarde de sexta-feira (12), com 10 a 25 cm de neve caindo em algumas regiões, juntamente com ventos fortes. Alertas de tempestades de neve foram emitidos ao norte de Toronto, de Tobermory a Huntsville. Espera-se cerca de 15 a 50 cm de neve desde a noite de sábado (13) até segunda-feira (15).

O analista de inteligência de negócios, Guilherme Santos (31), é natural de Apucarana e viveu em Londrina por seis anos até decidir mudar-se para Toronto. "Eu decidi me mudar para o Canadá após uma viagem de dez dias pelo país em dezembro de 2017; e me mudei definitivamente para Toronto em dezembro de 2019. A mudança foi impulsionada pelas oportunidades profissionais na área de TI, pelo clima, pelo estilo de vida canadense e pelo meu alinhamento com os valores socioculturais que eles praticam e defendem". Santos publicou uma série de vídeos em sua rede social com registros da forte nevasca dos últimos dias.

Apesar dos alertas, ele não deixa de aproveitar os benefícios de um clima frio, que ele gosta muito. "Minha relação com o frio é bastante positiva, me adaptei com facilidade, gosto das atividades de inverno e da paisagem característica dessa época, coberta de neve. O frio canadense é rigoroso e requer cuidados especiais quando estamos em locais abertos, mas os ambientes fechados (casa, trabalho, espaços públicos) sempre são climatizados e protegidos do frio. Eu gosto do frio. Acho mais fácil manejar quando a temperatura cai, posso simplesmente adicionar mais camadas de roupas conforme necessário. E o frio aqui também tem um charme diferente.

Porém, para Santos, as temperaturas têm aumentado no decorrer dos anos em que ele vive lá: "desde que cheguei em dezembro de 2019, percebi que os invernos têm sido menos rigorosos e os verões mais quentes. Em 2023, tivemos recordes de temperatura inclusive".

Matheus Mendes (28) faz coro com Santos em relação ao aumento das temperaturas. Ambos aportaram em Toronto na mesma época e para Mendes "nessa época, há cinco anos atrás, já teríamos experimentado -40 graus. O máximo que chegamos nos últimos 30 dias foi -13 em sensação térmica. Apesar das baixas temperaturas no país, percebo que desde que mudei pra cá, o clima está cada vez mais quente. Até agora, em Toronto, tivemos pouca neve e muita chuva."

Mendes é nascido e criado na Vila Nova, região central de Londrina e não é apaixonado pelo frio como Guilherme, aliás, como disse para a reportagem, "destesta mas convive bem." "As baixas temperaturas do Canadá durante o inverno não são tão ruins como parecem; tudo é uma questão de se organizar. Por exemplo, para cada temperatura, existe um tipo de agasalho que você utiliza. É preciso sempre se atentar ao clima durante o dia para que você escolha as roupas certas antes de sair de casa. No início, quando cheguei no Canadá, minha adaptação foi um pouco mais difícil do que o esperado. Além do frio, os dias durante o inverno são curtos e cinzentos, por isso, para evitar o sentimento de tristeza, temos que tomar vitamina D regularmente. Algumas pessoas utilizam uma luz UV artificial que é facilmente encontrada em qualquer farmácia por aqui, chamada "Happy Light" ou em português, "Luz Feliz" ou "Luz da Felicidade".

Hoje ele se acostumou, se diverte e dá dicas de como domar o frio: "O segredo é não dar bobeira por muito tempo do lado de fora, se agasalhar bem e com as roupas certas. Dentro de cada estabelecimento, residências, ou até mesmo nos transportes públicos, você encontra um bom sistema de aquecimento. Então, o maior cuidado que você precisa ter é com o tempo de exposição a diferentes temperaturas. Quanto mais baixa, menos você se expõe do lado de fora".

Mendes conta que com o sistema de aquecimento, quando chega em qualquer ambiente, é preciso ter paciência para tirar algumas das suas camadas de roupa. "Essa é a pior parte para mim", ri.

"Fora isso, outros cuidados que você precisa ter é manter sempre a pele e lábios hidratados, afinal, o vento nesse período é bem forte e acaba deixando a pele irritada, queimada e seca". Como é fã do calor, aproveita para se divertir com os memes de quem aqui está 'derrentendo'. "Me divirto muito vendo os memes do Brasil. Quanto mais tempo passo fora do país, mais acredito que o brasileiro é o ser mais feliz no planeta. A criatividade da galera ao fazer piada com o terror causado pelo calor supera o raciocínio lógico e arranca gargalhadas durante esse período menos alegre aqui no hemisfério norte — afinal, enquanto aqui é inverno, no Brasil é verão".

ENQUANTO ISSO EM LONDRINA

Boletim da Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná - Simepar Monitoramento e Previsão do Tempo) alerta que mesmo com chuvas, o sol ajuda a elevar as temperaturas que devem ficar na média de 36°C.

ALERTA PELA VIDA NOS EUA

Uma forte tempestade de inverno ocasionada por uma frente fria que chega do Ártico desencadeou nevascas extremas nos Estados Unidos, deixando milhares sem energia elétrica, colocando parte do país sob alerta climático e mudando a dinâmica de viagens e eventos da campanha republicana na disputa pela Casa Branca.

Em especial nos estados do Meio-Oeste americano, as temperaturas caíram para perto de -45°C. Alguns meteorologistas chamaram o cenário de um inverno "com risco de vida", e mais de 70 milhões de pessoas (mais de 21% da população) estão sob alertas climáticos.

Mais de 250 mil casas estavam sem energia elétrica até a manhã deste sábado (13) em Michigan e Wisconsin, segundo dados da plataforma PowerOutage.US, que rastreia e agrega dados sobre queda de energia no país por estado. Companhias aéreas atrasaram mais de 7.600 voos na sexta-feira (12) devido aos ventos e à neve intensa, com alguns aviões parados por horas nas pistas.

Quase 26 centímetros de neve foram registrados no estado de Iowa, que tem um dia importante na próxima segunda (15): a escolha do candidato republicano à Presidência, com Donald Trump largando na frente.

Os três candidatos (Trump, o governador da Flórida, Ron DeSantis, e a ex-embaixadora dos EUA na ONU Nikki Haley) tiveram de cancelar eventos de campanha. No X, o Serviço Meteorológico de Des Moines, capital de Iowa, disse esperar "um clima de inverno com risco de vida começando com forte neve" e pediu que a população local se planeje com cautela para a temporada de neve e baixas temperaturas.

Meteorologistas projetam que a tempestade se moverá para o nordeste, em direção ao Canadá, impactando partes de Quebec e Ontário.

O atual clima extremo é um lembrete de fevereiro de 2021, quando também milhões de pessoas no Texas e em outros estados centrais ficaram sem energia, água e aquecimento por dias, além de uma tempestade de inverno em dezembro de 2022, conhecida como Elliott, que quase causou o colapso dos sistemas de energia elétrica e gás natural em partes da metade leste do país. (Folhapress)