São Paulo e Washington - Representantes da Guiana e da Venezuela vão se encontrar no Brasil, dentro de três meses, para uma segunda rodada de diálogos sobre Essequibo, território guianense rico em recursos naturais reivindicado por Caracas. Mais cedo, os líderes dos países vizinhos se comprometeram em manter a paz.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente da Guiana, Irfaan Ali, se reuniram pela primeira vez desde o agravamento da crise na quinta-feira (14), na ilha caribenha de São Vicente e Granadinas, Celso Amorim, ex-chanceler e atual assessor internacional da Presidência, acompanhou o encontro.

O Brasil é um dos fiadores das conversas entre os vizinhos. A reunião bilateral foi anunciada no sábado (9) em comunicado da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) divulgado horas depois de uma conversa telefônica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com Maduro, na qual o brasileiro pediu a Caracas para "evitar medidas unilaterais que levem a uma escalada da situação".

Guiana e Venezuela divulgaram uma declaração conjunta, após o encontro de aproximadamente duas horas, na qual se comprometem a não ameaçar ou usar a força "um contra o outro em quaisquer circunstâncias, incluindo aquelas decorrentes de controvérsias existentes entre os dois Estados". O documento afirma ainda que os países devem resolver disputas de acordo com o direito internacional.

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"Os dois Estados cooperarão para evitar incidentes que conduzam à tensão. No caso de tal incidente, os dois Estados devem se comunicar imediatamente entre si e à comunidade caribenha (Caricom), à comunidade da América Latina e do Caribe (Celac), e ao presidente do Brasil para conter e prevenir sua recorrência", diz trecho do documento.

Ainda segundo o documento, um novo encontro entre representantes dos países deve ocorrer no Brasil em três meses ou em outro momento acordado. Após a reunião de quinta, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, agradeceu a liderança brasileira na busca por uma resolução pacífica para a disputa entre Venezuela e Guiana em torno da região de Essequibo.

Em conversa por telefone com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, Blinken reafirmou a posição americana de apoio às fronteiras já estabelecidas entre os dois países, "a não ser que, ou enquanto, as duas partes não chegarem a um novo acordo, ou um órgão legal competente decidir de outra maneira", destacou.

De acordo com nota divulgada pelo Departamento de Estado americano, os dois também discutiram o apoio à Missão Multinacional de Segurança no Haiti. Em outubro, as Nações Unidas chancelaram o envio de uma força ao país, liderada pelo Quênia, para cooperar com a polícia nacional.

O Brasil vem mantendo uma posição crítica - após a experiência de comandar a Minustah, missão da ONU na ilha caribenha, o Itamaraty diz que se dispõe a colaborar com orientações e capacitações, mas não com o envio de homens. Na visão de Brasília, a solução para a crise no Haiti precisa passar por políticas de escopo econômico e social, e não apenas segurança.

Blinken também fez um apelo na discussão para que Vieira se some aos EUA na condenação aos ataques recentes pelo grupo rebelde Houthi no Iêmen.