A extradição do ex-presidente da Iugoslávia Slobodan Milosevic, para ser julgado por crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia, causou uma grave crise política no país. A decisão foi tomada à revelia do atual líder, Vojislav Kostunica, e do Tribunal Constitucional, que não consideram legal o decreto que permitiu que Milosevic fosse entregue pelo governo sérvio de Zoran Djindjic. O premier iugoslavo, Zoran Zizic, renunciou sexta-feira ao cargo.
Pela primeira vez desde que chegaram ao poder, em outubro de 2000, os membros da coalizão dos reformistas sérvios (DOS), reunidos em volta do presidente Vojislav Kostunica, são questionados. O Partido Democrático da Sérvia (DSS), de Kostunica, criticou energicamente na sexta-feira a decisão do governo sérvio de entregar Milosevic, classificada como irresponsável.
O DSS aproveitou nesta ocasião para destacar que, além do caso Milosevic, existem outras divergências com dirigentes do DOS que fazem parte dos governos iugoslavo e sérvio.
A República Federal da Iugoslávia (RFI), fundada em 1992, é formda pela Sérvia e Montenegro. Cada uma destas entidades dispõe de um presidente, governo e parlamento. ‘‘Vários atos, e não somente a extradição de Milosevic, estão em desacordo com o programa do DOS’’, ressaltou o DSS num comunicado.
Kostunica e o DSS, que foram mantidos na ignorância sobre a ordem do gabinete sérvio – que sem dúvida está integrado na maior parte por membros da DOS – de extraditar Milosevic, vão discutir nos próximos dias o possível abandono da coalizão.
O presidente também precisa nomear um novo governo federal depois da renúncia do primeiro-ministro Zoran Zizic.
Zizic é um dos dirigentes do Partido Socialista Popular (SNP) de Montenegro que participa do poder federal desde que Kostunica foi eleito presidente. O SNP, ex-aliado de Milosevic, sempre se opôs a uma cooperação com o TPI que incluísse a ‘‘extradição de cidadãos iugoslavos’’.
Kostunica enfrenta um verdadeiro rompimento. Com a saída do SNP, perde controle do Parlamento federal, onde a DOS não tem mais que uma minoria relativa, e pode ficar paralisado.
Até o momento, o primeiro-ministro da Sérvia, Zoran Djindjic, mostra-se surdo aos insultos do DSS e de milhares de partidários de Milosevic ou adversários do TPI, que na sexta-feira em Belgrado prometeram ‘‘castigar os traidores’’.
Ao contrário de Kostunica, o primeiro-ministro sempre se mostrou favorável a um cooperação total com o TPI para colocar fim à marginalização econômica da Iugoslávia, o que já deu resultados.