SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Deputados israelenses aprovaram, nesta quarta-feira (2), a dissolução do Knesset, como é o conhecido o Parlamento de Israel, e deram mais um passo em direção à quarta eleição no país no período de dois anos.

O projeto de lei, apresentado pela oposição ao governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, recebeu 61 votos a favor e 54 contra. Para de fato dissolver o Knesset, o texto ainda precisa ser aprovado em outras três futuras votações parlamentares.

A aprovação desta quarta, entretanto, também representa um novo dano à já delicada e complexa relação entre Netanyahu e Benny Gantz, ministro da Defesa que integra o governo de coalizão formado depois de três eleições nas quais nenhuma maioria se formou.

Os legisladores foram convocados ao plenário às 11h (6h, no horário de Brasília) desta quarta, mas a votação sobre a dissolução do Knesset só ocorreu horas depois por ser o último item da ordem do dia.

De acordo com o jornal Times of Israel, a sessão de votos começou com duras críticas a Netanyahu. O líder da oposição Yair Lapid, autor da proposta de dissolução, acusou o governo de destruir o tecido social de Israel.

"Vocês não têm ideia do que estão fazendo", disse Lapid, líder do partido Yesh Atid. "Vocês estão colocando nossas vidas e nossa economia em perigo, abandonando nossos pais e colocando fogo no futuro de nossos filhos."

O partido de Gantz, Azul e Branco, também foi criticado por ter aceitado compor o governo de coalizão ao lado do Likud, de Netanyahu.

"Se vocês tivessem nos ouvido, Benny Gantz teria sido o primeiro-ministro e Netanyahu teria deixado Balfour há muito tempo", disse o parlamentar Nitzan Horowitz, líder do partido Meretz, em referência à rua em que fica localizada a residência oficial do primeiro-ministro. "Nas próximas eleições, o público não votará em partidos com cavalos de Tróia."

Apesar de Horowitz e outros parlamentares já darem como certa uma nova eleição, ainda há outras etapas a serem cumpridas na tramitação da dissolução do Knesset. Depois da aprovação desta quarta-feira, o projeto segue para o Comitê da Câmara, controlado pelo partido Azul e Branco.

Estima-se que a aprovação da proposta pelo Comitê deva ocorrer na próxima segunda-feira (7), e então a dissolução ainda precisará ser votada em outras três sessões no Legislativo israelense. Se a moção passar por todas essas etapas, o Parlamento será dissolvido e seus membros definirão uma data para as próximas eleições entre março e junho de 2021.

Apesar da instabilidade política no país, marcada por protestos que reúnem milhares contra o governo, pesquisas de intenção de voto apontam que o partido de Netanyahu manteria a maioria dos assentos de parlamentares no Knesset em uma nova eleição. Se isso acontecer, Bibi, como ele é conhecido, pode permanecer como primeiro-ministro de Israel.

Nesta terça (1º), Gantz antecipou que seu partido, o centrista Azul e Branco, votaria a favor da dissolução, contrariando os interesses de Bibi. O ministro justificou sua ação acusando o premiê de cometer um "ataque terrorista econômico" ao se recusar a permitir que a aprovação dos orçamentos deste e do próximo ano avance.

Para ele, a obstrução de Netanyahu se deve a uma tentativa de descumprir o acordo pré-estabelecido para o governo de coalizão, segundo o qual os dois líderes se revezariam na posição de chefe de governo, cada um por um período de 18 meses.

Se o projeto de dissolução do Knesset não for aprovado nas próximas etapas, o governo de Israel terá até 23 de dezembro para aprovar as contas deste ano.

Caso não consiga, Bibi e Gantz cairão, e novas eleições serão automaticamente agendadas para 23 de março de 2021.

"Netanyahu prometeu unidade. Ele disse que não haveria truques e jogos. Mas ele não cumpre suas promessas e o povo acaba pagando", disse Gantz em um discurso transmitido pela TV nesta terça. "Netanyahu não mentiu para mim. Ele mentiu para vocês. Ele não me enganou. Ele enganou os cidadãos de Israel."

O líder do Azul e Branco ainda se referiu ao premiê como "um quebrador de promessas em série" e disse que aceitou compor o governo de coalizão "com o coração pesado, mas inteiro".