São Paulo - As forças de segurança do Irã voltaram, nesta quarta-feira (26), a entrar em confronto com manifestantes. Desta vez, o cenário foi a cidade Saqez, no Curdistão, onde Mahsa Amini nasceu e foi enterrada depois de morrer há 40 dias sob custódia da polícia moral do país.

Antes da repressão, os manifestantes cantavam "Mulher. Vida. Liberdade", canto símbolo das manifestações das últimas semanas no país
Antes da repressão, os manifestantes cantavam "Mulher. Vida. Liberdade", canto símbolo das manifestações das últimas semanas no país | Foto: ESN/AFP

Segundo agências de notícias, milhares de pessoas se reuniram no memorial destinado à mulher para prestar suas homenagens - no Irã, o período de luto tradicional dura exatamente 40 dias. Antes, porém, de acordo com ativistas, autoridades já haviam advertido os pais da jovem a não organizar cerimônias e ameaçaram prender o filho do casal se os protestos ocorressem, o que autoridades negam.

Seja como for, o suposto aviso foi ignorado e, nesta quarta, os agentes iranianos teriam disparado contra alguns dos 2.000 manifestantes e detido dezenas deles.

"As forças de segurança atiraram gás lacrimogêneo e abriram fogo contra pessoas na praça Zindan em Saqez", afirmou no Twitter o grupo de defesa dos direitos humanos Hengaw, que tem sede na Noruega.

Vídeos publicados mais cedo pela organização mostram a polícia patrulhando as ruas da cidade, que teve as entradas bloqueadas desde a noite de terça (25). A agência de notícias ISNA, ligada ao regime, confirmou os confrontos e informou que a internet em Saqez havia sido cortada "devido a questões de segurança" - o bloqueio é utilizado por vários regimes ao redor do mundo para conter organizações de protestos pelas redes sociais.

Antes da repressão, porém, os manifestantes cantavam "Mulher. Vida. Liberdade", canto símbolo das manifestações das últimas semanas no país, as maiores ao menos desde 2019. Havia também quem pedia a "morte do ditador", em referência ao regime islâmico comandado pelo aiatolá Ali Khamenei.

Entre os manifestantes estariam duas estrelas do futebol iraniano. Segundo o Hengaw, o maior jogador de todos os tempos do país, Ali Daei, chegou a se hospedar em um hotel de Saqez, mas precisou ser transferido para um hotel estatal sob ordem das forças de segurança. Ele estava acompanhado do goleiro Hamed Lak, que atualmente joga em um clube do país.

Manifestações também são registradas em outras cidades, como na capital Teerã. Além disso, alunos do ensino superior agendaram protestos em universidade - nas últimas semanas, estudantes de escolas e faculdades têm liderado parte das manifestações contrárias ao regime islâmico.

Ainda nesta quarta, aliás, autoridades fecharam todas as instituições de ensino do Curdistão "devido a uma onda de gripe".

À mídia local, por outro lado, o governador da região, Zarei Koosha, disse que a situação era normal na província. "O inimigo e seus meios de comunicação tentam utilizar o 40º dia da morte de Mahsa Amini como um pretexto para provocar novas tensões, mas felizmente a situação na província está completamente estável", declarou.

A curda iraniana de 22 anos morreu em 16 de setembro, depois de ter sido detida por três dias pela polícia moral quando visitava Teerã com o irmão. Ela foi acusada de supostamente violar o rígido código de vestimenta do Irã, que impõe o uso do véu às mulheres.

O regime alega que Amini morreu em decorrência de um problema cardíaco, versão que a família e ativistas contestam – ela teria sido vítima de agressões dos agentes. O pai da jovem afirma que foi impedido de ver o relatório da autópsia do corpo da filha.

A repressão aos protestos no país provocou ao menos 141 mortos, incluindo 29 menores de idade, segundo a ONG Direitos Humanos do Irã. Já o governo iraniano apenas divulgou que 30 membros das forças de segurança foram mortos desde o começo dos protestos. Paralelamente, vários manifestantes foram detidos, incluindo professores universitários, jornalistas e celebridades -alguns podem ser condenados até mesmo à pena de morte.

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