Inquérito investiga ex-chanceler alemão
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 04 de janeiro de 2000
Agência Estado
De Berlin
Ampliando o escândalo político na Alemanha em relação aos fundos secretos para a compra de favores políticos, promotores abriram um inquérito ontem para decidir se haverá acusações criminais contra o ex-chanceler e líder do partido conservador Helmut Kohl.
Com uma nuvem de suspeitas espalhando-se também sobre o sucessor de Kohl à frente dos democratas-cristãos, muitos perguntam se o principal partido de oposição do país ruirá manchado pela corrupção como ocorreu com seu co-irmão na Itália há alguns anos.
A mais influente revista da Alemanha, Der Spiegel, informou que a investigação envolve mais do que o futuro pessoal de Kohl, um dos mais antigos chefes de Estado e arquiteto da reunificação da Alemanha, ou as chances do partido nas eleições estaduais dos próximos meses.
Possivelmente, até a existência do partido a longo prazo está em jogo, escreveu a revista em sua edição de ontem.
Enquanto líderes como o governador da Saxônia, Kurt Biedenkopf, consideram a idéia absurda, o caso inquestionavelmente prejudicou a imagem do partido.
Um porta-voz da Secretaria de Justiça em Bonn, Bernd Koenig, disse que promotores examinariam se Kohl deveria ser acusado por quebra de confiança. A acusação pode causar a condenação ao pagamento de uma multa ou a uma pena de mais de cinco anos de prisão.
Apesar da resolução tomada pelo Ministério Público de Bonn para iniciar uma investigação contra Kohl por malversação presumida, ninguém acredita no encarceramento do ex-chanceler. Mas o simples fato de que a queixa foi aceita pelo Ministério Público é um estrondo.
Antes do Natal, o ex-chanceler reconheceu, na TV, ter recebido doações num total de um milhão de dólares entre 1993 e 1998. É claro que ninguém imagina que Kohl tenha embolsado todo esse dinheiro. Porém, canalisando-o para o seu partido, a CDU, ele infringia a legislação.
Helmut Kohl reconheceu, de fato, a existência dessas doações. Em compensação, recusou-se, pelo menos até agora, a revelar o nome das pessoas que abriram a carteira. É essa recusa de Kohl que motiva os prosseguimentos judiciários.
Os atacantes de Kohl são, principalmente, homens do partido inimigo, o partido social-democrata (SPD) cujo líder, Gerhard Schröder, sucedeu Kohl. O rancor do SPD é explicável: por um lado esse partido foi derrotado por Kohl durante 25 anos. Por outro lado, Gerhard Schröder, desde que assumiu, comete erros sucessivos, mostra-se desastrado e inábil, retrata-se constantemente chegando ao ponto em que, todas as eleições parciais testemunharam a derrota do SPD e o sucesso da CDU. Schröder teme agora que as eleições regionais, daqui a dois meses, lhe sejam desfavoráveis.
Mas os inimigos de Kohl existem também no seio do seu próprio partido, a CDU. A onipresença de Kohl, durante tantos anos, enervou os jovens ambiciosos da CDU. Hoje, livres da pesada tutela de Kohl, eles se rebelam e, às vezes, se vingam.
Um homem ocupa um lugar especial neste linchamento anti-Kohl. Trata-se do homem que sucedeu Kohl na presidência da CDU, Wolfgang Schiuble. Assim que o escândalo dos fundos secretos eclodiu, Wolfgang Schiuble, ao invés de proteger seu antigo chefe, botou lenha na fogueira. Pérfidamente, incitou Kohl a revelar tudo que sabia, inclusive o nome dos doadores.
Kohl, abandonado por grande parte da classe política, (seja ela socialista ou cristã-democrata) conserva, entretanto, apoios preciosos: os da opinião pública. O homem velho e acuado continua popular: na noite do milênio, diante da Porta de Brandebourg, em Berlim, teve direito à uma aclamação impressionante.
