São Paulo - A polícia francesa investiga um ataque a faca ocorrido nesta sexta-feira (23) contra a oficial administrativa de uma delegacia em Rambouillet, a cerca de 60 km de Paris. A mulher de 49 anos chegou a ser socorrida por profissionais de saúde, mas não resistiu aos ferimentos.

Segundo as primeiras informações, a vítima voltava ao trabalho após o horário de almoço quando foi esfaqueada duas vezes na garganta
Segundo as primeiras informações, a vítima voltava ao trabalho após o horário de almoço quando foi esfaqueada duas vezes na garganta | Foto: Bertrand Guay/AFP

Segundo as primeiras informações, a vítima voltava ao trabalho após o horário de almoço quando foi esfaqueada duas vezes na garganta por um homem de 36 anos identificado apenas por sua nacionalidade tunisiana.

O criminoso foi morto a tiros por policiais. Autoridades disseram à agência de notícias Reuters que o homem estava legalmente na França e não tinha antecedentes criminais. Sua motivação ainda não estava clara e a polícia não encontrou indícios de motivação religiosa.

O caso, no entanto, é avaliado pela Procuradoria Nacional Antiterrorismo. Em entrevista à emissora BFM, a governadora da região de Île-de-France, onde ficam Paris e Rambouillet, disse que ainda é cedo para descartar motivações terroristas.

O primeiro-ministro da França, Jean Castex, e o ministro do Interior, Gérald Darmanin, disseram que estão a caminho de Rambouillet para acompanhar as investigações.

"A República [francesa] acaba de perder uma de suas heroínas do cotidiano, em um gesto bárbaro de covardia infinita", escreveu Castex, em uma publicação no Twitter. "Aos seus entes queridos, quero expressar o apoio de toda a nação. Às nossas forças de segurança, quero dizer que compartilho sua emoção e sua indignação."

Rambouillet, cidade com pouco mais de 26 mil habitantes, fica no departamento de Yvelines, o mesmo onde Samuel Paty, um professor de história e geografia do ensino fundamental, foi decapitado por um jovem refugiado de origem tchetchena após ter mostrado charges do profeta Maomé aos estudantes, durante uma aula sobre liberdade de expressão.

O caso levou à abertura de investigações contra dezenas de militantes de origem muçulmana e reacendeu discussões sobre a islamofobia na França, gerando inclusive crises diplomáticas para o governo do presidente Emmanuel Macron.

Além disso, os episódios mais recentes tiveram peso decisivo para a aprovação de uma lei pela Assembleia Nacional francesa em fevereiro que, na prática, contém o avanço do islamismo no país —para o governo, uma questão de unidade nacional.

A legislação não destaca nenhuma religião específica, mas prevê medidas mais duras contra temas que vão dos casamentos forçados e testes de virgindade à apologia de atos violentos na internet e à educação de crianças fora das escolas regulares —algumas famílias muçulmanas matriculam seus filhos em instituições islâmicas consideradas clandestinas.

Além disso, a lei estabelece um controle mais rígido sobre associações religiosas e suas finanças, o que, segundo críticas ao projeto, limita a liberdade de culto na França. "Trata-se de uma ofensiva secular extremamente forte. É um texto duro, mas necessário para a República", disse Darmanin, à época.