SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após uma saga iniciada na quarta (11), grupo de brasileiros refugiado pelo Itamaraty numa escola católica da cidade de Gaza conseguiu deixar o local e chegou a uma região fora da zona de exclusão determinada por Israel.

O grupo deveria ter partido na manhã deste sábado (14, madrugada no Brasil), mas bombardeios israelenses justamente contra Khan Yunis, a cidade por onde passariam na sua tentativa de cruzar a fronteira para o Egito no posto de Rafah, ainda mais ao sul da capital, impediram.

Eles deverão agora ficar na casa de uma das famílias de nacionalidade brasileira da cidade, que também pediram para serem evacuados de Gaza.

DUAS ROTAS

Os ataques aéreos haviam ocorrido após o abrandamento do ultimato dado na sexta (13) pelas IDF (Forças de Defesa de Israel) para a evacuação de todo território ao norte da capital de Gaza, incluindo a própria.

As IDF admitiram que o êxodo planejado, criticado pela ONU, era inexequível em apenas 24 horas. A medida abarca 1,1 milhão dos 2,3 milhões de moradores do local. Neste sábado, em uma postagem no X, o porta-militar Avichay Adraee disse que haveria duas rotas seguras para deixar Gaza, das 10h às 16h (4h às 10h em Brasília).

Ao longo da manhã, surgiram relatos de que poderia haver bombardeios israelenses em um prédio vizinho à escola, e foi decidida a partida. "Nós fizemos a comunicação às Forças de Defesa de Israel para evitar que nosso ônibus seja bombardeado", afirmou o embaixador brasileiro na Cisjordânia, Alessandro Candeas.

TENSÃO NA ROSAY SISTERS SCHOOL

Segundo ele, a tensão e angústia dos presentes estava altíssima, devido ao aumento dos sons de explosões na área da Rosay Sisters School. "Com isso, todos ficaram muito aflitos dentro da escola", afirmou.

O ultimato das IDF precede a operação terrestre para tentar destruir o Hamas, grupo palestino que cometeu o mega-ataque terrorista do sábado passado (7), o maior da história israelense, com 1.300 mortos. A entidade comanda Gaza desde 2007, quando expulsou rivais do Fatah, partido que domina a Cisjordânia e tem um acordo de paz com Israel.

Ao todo, há 28 pessoas sendo atendidas pelo Itamaraty na região: 22 brasileiros que se inscreveram para serem repatriados (16 na escola e 12, moradores de Khan Yunis), além de 3 imigrantes palestinos e 3 de seus familiares.

O Escritório de Representação do Brasil em Ramallah (Cisjordânia) fretou um ônibus para levar o grupo que está na Rosary Sisters School para Khan Yunis, que fica ao sul da zona do ultimato. O veículo chegou a ser carregado nesta manhã, antes do adiamento inicial.

RESISTÊNCIA DO GOVERNO EGÍPCIO

De Khan Yunis, o grupo tentará ir para o Egito, cruzando pelo posto de Rafah, no sul de Gaza. Esta parte do plano, contudo, é uma incógnita por enquanto, dadas as resistências do governo do Cairo em receber um influxo grande de refugiados na península do Sinai.

Até a noite de sexta (13), havia a esperança da formação de um comboio internacional para levar todos os refugiados com passaporte estrangeiro, mas o governo de Israel suspendeu o acordo. "Todos ficaram frustrados", afirmou Candeas.

Com efeito, desde 2007 o Egito coordena com Israel o bloqueio em torno de Gaza, controlando de forma estrita a entrada e saída de pessoas e bens por Rafah e pelo posto de Erez, no norte, junto ao território do Estado judeu.

500 AMERICANOS EM GAZA

A Casa Branca, contudo, informou a repórteres neste sábado que havia chegado a um acordo para abrir o posto de Rafah para seus cerca de 500 cidadãos em Gaza. Ele ficará, dizem os EUA, aberto até as 17h.

O Brasil segue em tratativas semelhantes, e tem em seu favor o fato de seu o grupo ser pequeno. A expectativa do embaixador é de que a saída ocorra no máximo até segunda-feira (16), mas tudo é bastante incerto e fluido no momento. Um avião Embraer-190 da Presidência que não estava na escala de voos de repatriação da Força Aérea para Israel, chegou na sexta a Roma e aguarda instruções para ir ao Egito.

Antes do ultimato, havia mais de 400 mil deslocados internos na região devido à guerra declarada por Israel após o mega-ataque. Metade deles já havia pedido para deixar a região à ONU, tendo procurado abrigo em seus edifícios. A retaliação de Israel pelos ataques já matou quase 2.000 palestinos.

O grupo terrorista havia emitido, na sexta, uma ordem para que os moradores da região ficassem em casa, mas foi largamente ignorado. Não há ainda números precisos, mas milhares de palestinos pegaram o que tinham e, em veículos que iam de carroças a SUVs, rumaram para o sul de Gaza.