Feridos buscam socorro nas ruas de Beirute: hospitais lotados
Feridos buscam socorro nas ruas de Beirute: hospitais lotados | Foto: STR/AFP

São Paulo- Uma grande explosão atingiu nesta terça (4) a cidade de Beirute, capital do Líbano, levantando bolas de fogo e colunas de fumaça gigantescas e afetando construções a quilômetros de distância.

O ministro da Saúde, Hamad Hassan, disse que o incidente deixou ao menos 50 mortos, além de mais de 2.750 feridos - números que foram atualizados no final da tarde.

Paredes de prédios foram destruídas, janelas quebraram, carros foram virados de cabeça para baixo e destroços bloquearam várias ruas, forçando feridos a caminhar em meio à fumaça até hospitais.

Segundo testemunhas, o estampido da explosão foi ouvido até na cidade costeira de Larnaca, no Chipre, a cerca de 200 km da costa libanesa.

Ainda não se sabe ao certo o que motivou o incidente, que ocorreu na zona portuária da capital, e se outras explosões aconteceram em Beirute.

Segundo o chefe de segurança interna do Líbano, Abbas Ibrahim, a origem do episódio é uma área do porto com materiais altamente explosivos —não há informação se a explosão foi proposital ou não. Ele disse que não iria especular sobre as causas para não atropelar as investigações.

Já o ministro do Interior, Mohamed Fehmi, afirmou que havia uma grande quantidade de nitrato de amônio, substância usada como fertilizante, armazenada no porto e que essa teria sido a causa da explosão.

Na primeira manifestação oficial do governo sobre o caso, o primeiro-ministro Hassan Diab decretou "um dia nacional de luto" nesta quarta-feira (5). “Eu prometo a vocês que essa catástrofe não passará sem responsabilização… Os culpados vão pagar o preço”, afirmou. “Fatos sobre esse armazém perigoso que está lá desde 2014 serão anunciados.” Já o presidente Michael Aoun convocou uma reunião de emergência com o Conselho de Defesa.

Georges Kettaneh, presidente da Cruz Vermelha Libanesa, citou "centenas de feridos" em um comunicado na televisão libanesa LBC e disse que muitas pessoas continuavam presas em casas atingidas pelo fogo. Alguns estavam sendo resgatados por barcos..

Segundo a TV libanesa LBCI, um dos hospitais da cidade estava tratando mais de 500 feridos e não tinha capacidade para receber mais ninguém. Dezenas deles precisam de cirurgias.

Na frente de outro centro médico, dezenas de feridos, incluindo crianças, algumas cobertas de sangue, esperavam para serem atendidos, segundo a agência de notícias AFP.

"Os prédios estão tremendo"

Após a explosão, a área portuária de Beirute foi isolada pelas forças de segurança, que só permitiram a passagem de agentes da defesa civil, ambulâncias e caminhões de bombeiros. Nas proximidades do porto, a destruição foi enorme.

A mídia local transmitiu imagens de pessoas presas a escombros, algumas cobertas de sangue. "Os prédios estão tremendo", publicou no Twitter um morador da cidade, dizendo que "todas as janelas do apartamento explodiram".

"Vi uma bola de fogo e fumaça sobre a cidade. As pessoas gritavam e corriam, sangrando. Varandas foram arrancadas dos prédios. Vidros de prédios caíram nas ruas", disse outra testemunha à Reuters.

Até o final da tarde de terça-feira, não havia relato de brasileiros feridos. O Líbano tem uma grande comunidade com relação com o Brasil: há mais descendentes e parentes de libaneses em solo brasileiro (entre 7 e 10 milhões) do que libaneses no país de origem (7 milhões).

A fragata brasileira Independência, nau capitânia da Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), não estava no porto de Beirute na hora da explosão, mas no Mediterrâneo, patrulhando a região.

A embarcação leva cerca de 200 marinheiros. A Unifil foi criada em 2006 para verificar a retirada israelense do Sul do Líbano e evitar o contrabando de armas por via marítima, após um dos inúmeros embates entre as duas partes nas últimas décadas.

O ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, afirmou que o país ofereceu ajuda humanitária ao governo libanês por meio de canais diplomáticos.

Já o Pentágono declarou que os EUA estão cientes do ocorrido e “preocupados com a perda potencial de vidas devido a essa explosão tão grande”. O Departamento de Estado americano ofereceu “toda a assistência possível” aos libaneses.

O ministro de Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, também afirmou que o país está pronto para ajudar como for necessário.

O Líbano atravessa sua pior crise econômica em décadas, marcada por depreciação monetária sem precedentes, hiperinflação, demissões em massa e restrições bancárias drásticas, que alimentam há vários meses o descontentamento social.

Julgamento de membros do Hizbullah chama atenção do Líbano

A TV Al Arabiya inicialmente noticiou que ocorreram explosões por toda a cidade e afirmou que uma delas teria ocorrido perto da residência do ex-premiê Saad Hariri.

A informação não foi confirmada oficialmente e o próprio Saad postou uma foto em uma rede social logo após as explosões, indicando que está bem e que não ficou ferido.

Isso imediatamente levantou suspeitas de que a explosão inicial poderia estar ligada a divulgação do veredito de um tribunal apoiado pela ONU (Organização das Nações Unidas) contra quatro homens acusados de terem participado do assassinato do também ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri —pai de Saad— em 2005. O resultado deve ser anunciado na sexta-feira (7).

Ao longo do dia, porém, as suspeitas de ligação entre a explosão e o julgamento diminuíram.

Os réus, todos membros do movimento xiita Hizbullah, estão sendo julgados à revelia pelo Tribunal Especial do Líbano (TSL), com sede em Haia (Holanda), encarregado de ditar a sentença 15 anos após o atentado com um carro-bomba, em Beirute.

O ataque matou o bilionário sunita e outras 21 pessoas, além de ter deixado 256 feridos.

O assassinato de Hariri, pelo qual quatro generais libaneses foram inicialmente acusados, desencadeou uma onda de protestos que forçou a retirada das tropas sírias do país, após 30 anos no Líbano.

O Hizbullah, que nega envolvimento no ataque, opõe-se a entregar os suspeitos, apesar de vários mandados de prisão do TSL.