Guarulhos, SP - Os governadores de Nova York, Nova Jersey e Connecticut decretaram estado de emergência após a tempestade tropical Ida, que avança sobre o território americano desde o fim de semana, deixar ao menos 15 mortos nesta quarta-feira (1º). O fenômeno já é considerado um dos maiores eventos climáticos extremos observados nos EUA nas últimas décadas.

Motorista enfrenta cheia em rua do Brooklyn, em Nova York
Motorista enfrenta cheia em rua do Brooklyn, em Nova York | Foto: Ed Jones/AFP

Nove das vítimas, que tinham de 2 a 86 anos, moravam na cidade de Nova York — a maioria no bairro do Queens — e morreram em meio a inundações causadas pelas fortes chuvas, de acordo com o departamento de polícia local. Outras cinco pessoas foram encontradas mortas em um complexo de apartamentos na cidade de Elizabeth, em Nova Jersey, e um homem de 70 anos morreu na cidade de Passaic após o veículo em que ele estava ficar submerso.

A polícia do estado de Maryland, também no Nordeste dos EUA, afirmou que a morte de um jovem de 19 anos pode ter sido causada pelas inundações. Segundo os oficiais, ele foi encontrado morto em um apartamento inundado e, enquanto a autópsia não está pronta, a morte pode ser atribuída à tempestade. Seria a 16º morte.

O prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, descreveu as enchentes e o clima observado na quarta como um "evento climático histórico", após o Serviço Meteorológico Nacional emitir cinco alertas seguidos de inundação repentina para todo o trecho do oeste da Filadélfia ao norte de Nova Jersey.

As inundações constituem o primeiro grande desafio a ser enfrentado pela governadora de Nova York, Kathy Hochul, que assumiu há menos de um mês após o democrata Andrew Cuomo renunciar, pressionado por denúncias de assédio sexual. Durante entrevista nesta quinta (2), Hochul disse que "é a primeira vez que temos um evento relâmpago de inundação dessa proporção."

Quase todas as linhas do metrô de Nova York foram suspensas após a água da chuva entrar nas estações e inundar as plataformas e os trilhos, em cenas que foram registradas nas redes sociais. O presidente da Autoridade Metropolitana de Transportes, Janno Lieber, ao comentar as interrupções no serviço público, descreveu o fenômeno como uma "tempestade épica".

O volume de chuvas registrado durante a passagem da tempestade Ida já é considerado recorde em diferentes regiões. No Central Park, que tem registros meteorológicos desde 1869, a chuva registrada na quarta quebrou o antigo recorde, de 1927. Na cidade de Newark, em Nova Jersey, o recorde anterior, de 1959, também foi superado.

Ao comentar a destruição, o presidente Joe Biden classificou o furacão Ida como o quinto maior da história americana. O democrata agradeceu aos socorristas, que têm resgatado as vítimas das fortes chuvas, e disse um amplo plano de ajuda federal já está sendo posto em prática.

Na quarta, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), braço das Nações Unidas para questões do clima, disse que o furacão Ida pode ser o desastre climático mais caro da história, superando inclusive o furacão Katrina, que há 16 anos deixou cerca de 1.800 mortos.

A afirmação foi feita pouco após a OMM lançar um relatório global demonstrando que a ocorrência de eventos climáticos extremos, como o Ida, aumentou cinco vezes nas últimas cinco décadas. As inundações, causa das mortes em Nova York e Nova Jersey, são o tipo de fenômeno mais frequente. Dos mais de 11 mil desastres climáticos registrados de 1970 a 2019, elas corresponderam a 44%.

Outros documentos embasados pela comunidade científica também acendem o alerta para a emergência climática. O último relatório da Avaliação Nacional do Clima, feito por agências federais americanas, indicou que o aumento da precipitação extrema é projetado para todas as regiões dos EUA nas próximas cinco décadas, em especial no Centro-Oeste e no Nordeste americanos.

"O ar mais quente pode conter mais vapor de água do que o ar frio. Análises globais mostram que a quantidade de vapor de água na atmosfera aumentou tanto sobre a terra quanto para os oceanos nas últimas décadas", diz um trecho do documento. Assim, segue o relatório, a mudança climática altera as tempestades, cuja ocorrência já é comum em latitudes médias, onde está localizada a maior parte do território americano.

Relatório do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU) divulgado no início de agosto também trouxe projeções preocupantes sobre o tema. Comparando a situação atual com a de 1850, o material calculou que o volume de água das tempestades já é 6,7% maior —e pode chegar a 30,2% no pior cenário.

Antes de chegar a Nova York, o Ida, então um furacão, já havia avançado sobre os estados de Louisiana e de Mississippi no início da semana, onde deixou seis mortos e destruiu o sistema elétrico. O furacão, agora uma tempestade tropical, dá sequência a uma série de eventos extremos que têm causado mortes e perdas econômicas nos EUA no último mês. No estado do Tennessee, no sul do país, chuvas recordes causaram enchentes que mataram mais de 20 pessoas há pouco menos de duas semanas.

Um incêndio florestal no norte da Califórnia se aproxima do lago Tahoe, um dos principais pontos turísticos da região. Na segunda (30), os 22 mil habitantes da cidade onde está localizado o lago, a South Lake Tahoe, foram obrigados a evacuar a área depois que as chamas atingiram uma cadeia de montanhas próxima à região.