Governo da Irlanda do Norte é suspenso
PUBLICAÇÃO
sábado, 12 de fevereiro de 2000
Associated Press
De Belfast
A Grã-Bretanha suspendeu ontem o governo autônomo da Irlanda do Norte (integrado por protestantes e católicos), chefiado pelo líder protestante David Trimble. O secretário britânico para a Irlanda do Norte, Peter Mandelson, disse que não lhe restou outra opção, diante da intransigência do Exército Republiano Irlandês (IRA) em não depor armas.
A decisão, que consta do acordo de paz firmado em abril de 1998, põe fim a 72 dias de uma experiência administrativa no território, compartilhada por protestantes e católicos. A transferência de poder de Belfast para Londres ocorreria à meia-noite. Isso era inevitável, reagiu o protestante Trimble, primeiro-ministro norte-irlandês e líder do Partido Unionista do Ulster (UUP) a maior agremiação política do território. Prêmio Nobel da Paz, o líder protestante reafirmou que não poderia seguir à frente de um gabinete integrado pelo católico Sinn Fein vinculado a um grupo terrorista (referência ao IRA) que não dá sinais de evolução. E Acrescentou: Não podíamos mais correr riscos.
O acordo de paz estabelece 20 de maio como data limite para o desarmamento dos grupos paramilitares, omitindo, no entanto, o início do processo. Trimble, quando aceitou, em novembro, formar um governo, havia estabelecido 31 de janeiro para o começo da desmobilização. Vencido o prazo, o IRA, apesar de enviar um representante à comissão independente de desarmamento, não deu nenhum sinal de que estaria disposto a acatar a exigência do chefe do governo autônomo. Ao contrário, Gerry Adamos, líder do Sinn Fein (braço político do IRA com representação no gabinete norte-irlandês) acusou Trimble de violar os acordos da Sexta-Feira Santa com suas imposições.
As pressões sobre Adams e o IRA intensificaram-se nas duas últimas semanas. Os primeiros-ministros da Grã-Bretanha, Tony Blair, e da República da Irlanda, Bertie Ahern, reuniram-se em várias ocasiões, para evitar a renúncia de Trimble. Mantiveram também encontros em separado com Adams.
Blair chegou a telefonar para o presidente americano, Bill Clinton, que imediatamente entrou em contato com Adams. Este, em todas as ocasiões, deu a entender que não dispunha de meios para forçar o grupo armado a aderir ao processo na forma exigida.
Ontem, pouco antes da decretação da suspensão do governo autônomo, Adams anunciou ter obtido uma nova e significativa proposta do IRA para resolver a crise e evitar o congelamento das instituições norte-irlandesas. O essencial dessa nova proposta é que o IRA (e não as lideranças protestantes) definirá o contexto do desarmamento. Mas Londres não compartilhou do otimismo do líder católico.
Com a suspensão temporária do governo autônomo, as autoridades britânicas evitaram a renúncia de Trimble e seus ministros protestantes o que levaria a novas eleições gerais e a um eventual bloqueio de radicais protestantes à formação de um novo gabinete.
O UUP que defende os vínculos políticos do território com a Grã-Bretanha marcou uma reunião para hoje, quando deverá decidir se mantém ou não seus cargos no gabinete de 12 ministérios. Pelas normas vigentes, o governo não pode se sustentar sem os representanes do UUP.