SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo dos Estados Unidos sancionou nesta sexta-feira (7) 11 dirigentes de Hong Kong, entre os quais a chefe-executiva Carrie Lam, por, segundo a Casa Branca, minar a autonomia do território.

A decisão é uma nova reação de potências estrangeiras à controversa lei de segurança nacional aprovada por Pequim no final de junho e se insere dentro da Guerra Fria 2.0 entre Washington e Pequim.

"Os Estados Unidos respaldam o povo de Hong Kong e utilizarão nossas ferramentas e autoridades para sancionar aqueles que minam a autonomia do território", declarou, em um comunicado, o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin.

Além de Lam, o chefe da polícia de Hong Kong, Chris Tang, seu predecessor, Stephen Lo, o secretário de Segurança do território, John Lee Ka-chiu, e a secretária de Justiça, Teresa Cheng, foram alvos da medida.

As punições congelam qualquer eventual patrimônio das autoridades asiáticas nos Estados Unidos e geralmente impedem americanos de fazer negócios com eles.

A lei de segurança da China para Hong Kong, alvo de críticas internas e também por parte da comunidade internacional, permite a repressão de quatro tipos de crime contra o Estado: subversão, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras, com sentenças que podem chegar a prisão perpétua.

Além disso, a lei determina que pessoas que se oponham à regra ou à Lei Básica de Hong Kong não possam concorrer ou ocupar qualquer cargo público. Por isso, ao menos 12 políticos pró-democracia tiveram suas candidaturas vetadas pelo governo de Hong Kong.

O pleito, no entanto, inicialmente marcado para ocorrer em 6 de setembro, foi adiado em um ano sob a justificativa de que a votação traria riscos maiores à disseminação do coronavírus. O anúncio representou um golpe para a oposição, que esperava obter resultados positivos na eleição.

Uma fonte com conhecimento do assunto disse à agência de notícias Reuters que os EUA intensificaram a deliberação das sanções após o postergamento do pleito.

Hong Kong foi colônia britânica até 1997, quando foi devolvida à China e ganhou status de Região Administrativa Especial, na qual há liberdade política e econômica inexistentes na parte continental.

Segundo o pacto acertado com o Reino Unido, o território desfrutaria do arranjo chamado de "um país, dois sistemas" até 2047, com Judiciário e imprensa independentes.

Defensores da lei de segurança chinesa dizem que ela trará estabilidade para Hong Kong, depois de mais de um ano de protestos nas ruas da cidade, um importante centro financeiro da Ásia.

As manifestações começaram exigindo a retirada de um projeto de lei que previa a extradição de pessoas para a China continental, onde o Judiciário é controlado pelo Partido Comunista. A proposta foi abolida, mas os atos passaram a incluir outras demandas pró-democracia.

Houve cenas de confrontos nas ruas entre ativistas e policiais durante meses, com manifestantes usando táticas criativas, como estilingues gigantes, atos-relâmpago que se dispersavam rapidamente e bloqueios a estradas e ao aeroporto.

Nos últimos meses, Washington subiu o tom em relação à China, culpando-a pela pandemia do novo coronavírus, criticando a repressão de Pequim aos protestos em Hong Kong e ameaçando impor restrições a companhias chinesas de tecnologia que operam no país.

No capítulo mais recente da crise diplomática entre as duas potências, Pequim ordenou o fechamento do consulado americano em Chengdu, no sudoeste do país. Foi o cumprimento de uma promessa de retaliação anunciada assim que Washington mandou fechar o consulado chinês em Houston, no Texas.

No mês passado, a Casa Branca determinou o encerramento da política de tratamento econômico especial dado à ex-colônia britânica.

A União Europeia, por sua vez, adotou medidas para limitar a exportação de equipamentos e tecnologias que possam ser usados pela China para "repressão interna, interceptação de comunicações ou vigilância cibernética". Além disso, a UE anunciou que não vai iniciar nenhuma nova negociação com Hong Kong.

Já a Nova Zelândia suspendeu o tratado de extradição que mantinha com Hong Kong, sob a alegação de que não pode mais confiar que o sistema de justiça criminal da ex-colônia britânica seja "suficientemente independente" do chinês.

No mesmo dia da decisão do governo de Jacinda Ardern, a China anunciou o fim dos acordos de extradição com Austrália, Canadá e Reino Unido, países que já haviam suspendido unilateralmente os pactos, também em protesto à nova legislação.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, já afirmou que o Partido Comunista Chinês é uma "ameaça para a humanidade" e pediu que o povo chinês "mudasse o partido", aumentando especulações de que uma estratégia de mudança de regime poderia ser aplicada ao país oriental.