Guarulhos, SP - Os Estados Unidos estão prestes a anunciar um pacote bilionário de investimentos para alavancar a produção de vacinas contra a Covid-19. O objetivo da medida é aumentar a produção doméstica e também o fornecimento global de doses, respondendo a críticas direcionadas ao governo de Joe Biden devido à desigualdade de acesso aos imunizantes nos países pobres.

O investimento está sendo organizado para garantir a capacidade de resposta americana a novas variantes do coronavírus
O investimento está sendo organizado para garantir a capacidade de resposta americana a novas variantes do coronavírus | Foto: Nelson Almeida/AFP

A informação foi antecipada pelo jornal "The New York Times", que entrevistou dois conselheiros de Biden. A meta seria produzir pelo menos 1 bilhão de doses por ano a partir do segundo semestre de 2022 por meio de parcerias com a indústria farmacêutica.

O montante a ser investido não foi informado, mas, segundo David Kessler, supervisor de distribuição de vacinas da administração do democrata, o valor, estimado em "vários bilhões", já estaria reservado no pacote de gastos de US$ 1,9 trilhão (R$ 10,4 trilhões na cotação atual) promulgado por Biden em março para combater a pandemia e os efeitos da crise na economia americana.

Ainda de acordo com Kessler, um ex-chefe da FDA (agência de regulação de medicamentos), o investimento está sendo organizado para garantir a capacidade de resposta americana a novas variantes do coronavírus e também se preparar para um possível repique da pandemia ou mesmo o surgimento de outra pandemia.

"O objetivo, no caso de uma futura pandemia, é ter capacidade de vacinar dentro de seis a nove meses da identificação do patógeno pandêmico e ter vacinas suficientes para todos os americanos", detalhou ao "New York Times". Seriam chamadas a participar farmacêuticas capacitadas para produzir vacinas usando a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), como são as da Pfizer e da Moderna.

O anúncio do novo investimento, previsto para esta quarta-feira (17), é visto como uma sinalização diplomática do governo. Com doses suficientes para a população, o país é um dos que já aplica a terceira dose do imunizante, mas se vê pressionado para que assuma a liderança na distribuição de vacinas, especialmente para nações africanas.

Enquanto na América do Norte 63% da população recebeu ao menos uma dose da vacina -54% está com esquema vacinal completo-, o percentual da África alarma especialistas em saúde. No continente, apenas 6,7% da população recebeu as duas doses, segundo dados compilados pelo Our World in Data, plataforma da Universidade Oxford.

Não está claro se o plano de Biden irá satisfazer aos críticos do governo, uma vez que, segundo as informações adiantadas à imprensa americana, o investimento será destinado à fabricação doméstica de vacinas. Como e quando escoar a produção são informações pouco claras. Kessler disse que o esforço visa especificamente desenvolver a capacidade interna dos EUA, mas que "essa capacidade é importante para o abastecimento global".

As pressões ao governo do democrata vêm não apenas do fórum internacional, como também de grupos domésticos. Em setembro, um grupo de ativistas - muitos dos quais veteranos do movimento que nas décadas de 1980 e 1990 se mobilizou para que medicamentos para a Aids fossem distribuídos pelo mundo - fizeram uma série de manifestações no país.

Em um dos protestos, o grupo depositou uma montanha de ossos falsos fora da casa de Ron Klain, chefe de gabinete de Biden, e outra na casa do CEO da Moderna, Stephane Bancel. A imagem simbolizava, segundo os manifestantes, as milhares de pessoas que morreram pelo mundo, em especial nas nações pobres, porque não tiveram a chance de se vacinar contra a Covid.

Os EUA vacinaram com ao menos uma dose 67,7% da população do país, e 57,7% receberam as duas doses. Segundo dados atualizados diariamente pelo Departamento de Estado, a Casa Branca já doou 245 milhões de doses do imunizante para outros países.