São Paulo - A primeira reunião de delegações diplomáticas russas e americanas para discutir a crise na Ucrânia acabou como previsto, sem nenhum avanço e com as duas potências esgrimindo argumentos e termos inconciliáveis.

Putin deslocou mais de 100 mil soldados para regiões próximas da fronteira, levando à acusação dos EUA e da Otan de que pretendia invadir a Ucrânia
Putin deslocou mais de 100 mil soldados para regiões próximas da fronteira, levando à acusação dos EUA e da Otan de que pretendia invadir a Ucrânia

Mas o encontro, realizado nesta segunda (10) em Genebra, na Suíça, serviu para colocar na mesa a possibilidade de conversas sobre pontos em que pode haver acordo, permitindo assim evitar que o conflito escale para as vias de fato militares e ainda garantindo troféus a serem exibidos para os públicos domésticos.

Participaram da reunião grupos liderados pelo vice-chanceler russo Serguei Riabkov e pela secretária-adjunta de Estado Wendy Sherman, diplomatas com décadas de experiência. Eles já haviam jantado informalmente no domingo (9), quando as diferenças foram todas reiteradas em um evento classificado como tenso por ambos.

A crise atual remonta aos eventos de 2014, quando a derrubada do governo pró-Moscou em Kiev levou Vladimir Putin a anexar a Crimeia e a apoiar a guerra civil de separatistas étnicos russos no leste do país, o Donbass.

O conflito aberto ficou suspenso a partir de acordos de 2015 que nunca foram implementados, e seus 14 mil mortos recebem adições em fogo brando de tempos em tempos – nesta segunda, foram mais dois soldados ucranianos mortos.

Em novembro passado, Putin deslocou mais de 100 mil soldados e armamentos para regiões próximas da fronteira, levando à acusação dos EUA e da Otan (aliança militar ocidental) de que pretendia invadir a Ucrânia.

Na realidade, tudo indica que o russo resolveu sacar a carta militar para tentar forçar uma negociação. A questão é que ele quer resolver o problema em seus termos, tendo emitido um ultimato no qual quer um compromisso da Otan de retirar tropas de países-membros ex-comunistas e de se expandir, englobando antigas repúblicas soviéticas como a Ucrânia, Geórgia ou Moldova.

Nada disso é aceitável, já havia dito o presidente Joe Biden e repetiu Sherman em Genebra. Riabkov, por sua vez, emulou Putin e disse que não havia nenhuma intenção de invasão, apesar de o presidente russo falar em "linhas vermelhas" que teriam sido cruzadas pelo apoio que a Otan dá a Kiev com o fornecimento de armas.

"Precisamos de um avanço", disse Riabkov. Sherman foi menos efusiva. "Empurrar propostas de segurança são um não começo para os EUA. Não vamos deixar ninguém fechar a política de portas abertas da Otan", afirmou.

Tudo isso era previsível, mas ambos falaram genericamente sobre manter conversas sobre a política de instalação de mísseis na Europa e sobre a natureza de exercícios militares. Foram as deixas colocadas de lado a lado, pelo que transpareceu nas duas entrevistas coletivas.