SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mais de um ano após a Turquia receber sua primeira bateria do sistema antiaéreo russo S-400, os Estados Unidos cumpriram a ameaça e impuseram sanções ao parceiro de Otan (aliança militar ocidental).

As medidas foram anunciadas pelo secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, nesta segunda (14). O alvo é a Presidência de Indústrias de Defesa, órgão do governo turco que organiza o setor no país.

Seu presidente, Ismail Demir, e outras autoridades terão restrição para entrar nos EUA e bens no exterior congelados. Já todas as licenças de exportação e autorizações de produção americanas em poder da entidade serão canceladas.

Ainda é cedo para saber se isso afetará na prática a indústria de defesa turca, que tem se notabilizado na área de drones recentemente. O país opera uma frota de 260 caças americanos F-16, mas o fato de integrar a Otan faz crer que não faltará peças de reposição para eles.

Politicamente, contudo, é um novo pico numa crise que se arrasta desde 2018, quando Ancara confirmou um acerto de dois anos antes para adquirir os poderosos S-400 por US$ 2,5 bilhões (R$ 12,8 bilhões nesta segunda, 14).

Segundo o Ministério das Relações Exteriores da Turquia disse em nota, as medidas são injustas e os EUA deveriam revê-las. Já o chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou a repórteres que as sanções são "ilegítimas e uma nova manifestação de arrogância ante o direito internacional".

O assunto entra assim no rol de pendências de política externa deixadas por Trump para seu sucessor, o democrata Joe Biden.

Quatro baterias do sistema já foram entregues aos turcos. A medida fez com que Washington interrompesse a colaboração com o governo de Recep Tayyip Erdogan no programa do caça de nova geração F-35.

A Turquia iria produzir partes do avião, e já tinha 4 dos 30 caças encomendados prontos nos EUA. Os americanos alegam que os S-400 poderiam expor segredos acerca do quão "invisível", ou seja, furtivo ao radar o F-35 de fato é.

Como num primeiro momento técnicos russos estariam treinando seus pares turcos, havia o temor de ter o aparelho americano voando num espaço aéreo controlado pelos S-400. Com capacidade de enquadrar diversos alvos a até 600 km, os radares do sistema poderiam explicitar as capacidades do F-35.

Com os turcos expulsos, a justificativa para a punição adicional é política. Há desconforto também na Otan com a inserção de material russo de ponta, justamente pelo temor de que informações sensíveis acabem em Moscou.

Erdogan deu de ombros e seguiu na compra do material de Moscou, apesar de sua relação bastante instável com o presidente Vladimir Putin. Ambos têm parcerias e desavenças nas mesmas medidas em locais como as guerras civis síria e líbia e no recente conflito azeri-armênio.

O turco nunca perdoou o presidente Donald Trump por não ter extraditado um clérigo muçulmano a quem ele acusa por uma tentativa de golpe em 2016.

O americano tentou contemporizar, de todo modo, e as sanções demoraram a sair. A Turquia é um aliado vital da Otan por ser o único no Oriente Médio. A base aérea de Incirlik tem estimadas 50 bombas nucleares B61 americanas em estoque.

Não é o primeiro problema de Erdogan com seus aliados ocidentais. A disputa histórica com a Grécia tornou-se um problemas da União Europeia quando os turcos buscaram garantir a exploração de hidrocarbonetos perto de Chipre, e o presidente tem uma rixa aberta com o francês Emmanuel Macron.

Outros aliados americanos, como a Índia, encomendaram os S-400, tidos como um dos sistemas antiaéreos de longa distância mais eficazes do mercado.