São Paulo - O presidente do Equador, Guillermo Lasso, declarou nesta quinta-feira (10) estado de exceção em todo o país após o assassinato a tiros do candidato à Presidência Fernando Villavicencio. A medida, de acordo com o governo, visa a garantir a segurança das eleições gerais, mantidas para o dia 20 de agosto.

"As Forças Armadas, a partir deste momento, mobilizam-se em todo o território nacional para garantir a segurança dos cidadãos, a tranquilidade do país e as eleições livres e democráticas em 20 de agosto", afirmou Lasso em discurso transmitido no YouTube. O presidente também declarou três dias de luto nacional "para honrar a memória" de Villavicencio, descrito por ele como um patriota.

O candidato de 59 anos foi baleado na cabeça e morto na noite desta quarta-feira (9), depois de participar de um encontro com apoiadores em uma escola de Quito, a capital equatoriana.

Villavicencio era ex-congressista e candidato pelo Movimento Construye. Ele disputava a Presidência e apareceu em segundo lugar numa pesquisa recente de intenção de voto feita pelo instituto Cedatos. Com 13,2% da preferência dos eleitores, o político estava atrás apenas da esquerdista Luisa González (26,6%), a única mulher na disputa e aliada do ex-presidente socialista Rafael Correa.

Um suspeito do ataque morreu após ficar gravemente ferido em confronto com seguranças do candidato. Depois do crime, a polícia ainda detonou um dispositivo explosivo deixado no local do crime. Seis pessoas haviam sido detidas por suspeita de envolvimento no caso.

"Este é um crime político que adquire um caráter terrorista. Não temos dúvida de que este assassinato é uma tentativa de sabotar o processo eleitoral", afirmou o presidente Lasso.

Mais tarde, na manhã desta quinta, a facção criminosa Los Lobos, uma das maiores do Equador, assumiu a autoria do assassinato. Em vídeo nas redes sociais, um porta-voz do grupo lê um comunicado no qual insinua que Villavicencio fez um acordo com o crime organizado e não cumpriu suas supostas promessas.

Logo após o ataque, que ainda deixou nove feridos, incluindo uma candidata ao Parlamento e dois policiais, as autoridades do país se reuniram em caráter de urgência na sede do governo. Segundo Lasso, o estado de exceção será válido por 60 dias e permitirá a presença dos militares nas ruas.

A despeito do crime, a presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), Diana Atamaint, afirmou que "a data das eleições permanece inalterada". Ela acrescentou que as Forças Armadas e a polícia redobrarão a segurança para que a votação "aconteça com garantias de escolha livre, em paz e com segurança".

Governos de diversos países condenaram o assassinato do candidato, descrevendo o crime como "detestável", "selvagem" e "ataque contra a democracia".

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil também lamentou a morte de Villavicencio e pediu punição aos criminosos. "Ao manifestar a confiança de que os responsáveis por esse deplorável ato serão identificados e levados à Justiça, o governo brasileiro transmite suas sentidas condolências à família do candidato presidencial e ao governo e ao povo equatorianos", afirma trecho da nota divulgada pelo Itamaraty.

Candidatos à Presidência como Yaku Pérez (líder indígena de esquerda, terceiro nas pesquisas, com 12,5% das intenções de voto) e Otto Sonnenholzner (ex-vice-presidente, de direita, em quarto lugar, com 7,5%) anunciaram a suspensão de suas campanhas e condenaram o crime. González interrompeu um comício do qual participava após saber do crime, mas não divulgou se paralisará toda a sua agenda.

Villavicencio chegou a afirmar em outros eventos de campanha que havia recebido a recomendação de tomar precauções devido às ameaças. "Eles me disseram para usar um colete [à prova de balas]. [Mas] aqui estou eu, com a camisa suada. Vocês são o meu colete à prova de balas, não preciso disso", afirmou o candidato em dos comícios. "Aqui estou. Falaram que iam me quebrar [...] Que venham os chefes do tráfico, venham. Que venham os sicários. O tempo das ameaças acabou", acrescentou.