El Alto - As ruas de El Alto, parte da Região Metropolitana de La Paz, que abriga quase 1 milhão de habitantes, parecia um cenário de pós-batalha nesta segunda-feira (11), um dia após Evo Morales renunciar à Presidência da Bolívia.

Noticiários quase não falam do terror que os bolivianos enfrentam por conta da crise política
Noticiários quase não falam do terror que os bolivianos enfrentam por conta da crise política | Foto: Ronaldo Schemidt/AFP

Havia dezenas de restos de fogueiras usadas para bloquear as vias que fazem a ligação da cidade com o aeroporto internacional. Com o mesmo objetivo, também foram armadas barricadas com objetos variados, de materiais de construção a lixeiras públicas que seguiam no meio da rua. No chão, vidro para furar os pneus de quem tentasse furar o bloqueio.

Além de fechar as portas metálicas, alguns deles também amontoaram tijolos diante delas. "É para evitar saques. Estão entrando para roubar tudo. Não é política, é vandalismo", disse Aldo Iñata, dono de uma loja de ferragens.

Na época da eleição, muitos dos muros da cidade estavam pichados com mensagens como "Evo ditador" e "Mesa covarde", em referência ao opositor que disputou a última eleição e que renunciou à presidência em 2005. Agora, há insultos mais pesados: "Evo assassino" e "Mesa lixo".

Não foi só o comércio que parou. Não há aulas nem transporte público. Quando se olha para o alto, se vê todos os vagões das várias linhas de teleférico que conectam distintos pontos da cidade parados, vazios, balançando pelo vento e o mau tempo. Um cenário desolador.

Houve queima de carros e ônibus durante a noite. Numa garagem em Chasquipampa, por exemplo, 33 ônibus foram queimados e depredados. Nas ruas, havia táxis e carros abandonados após serem atacados por pedras, alguns parcialmente queimados.

A desinformação reina. Nas TVs, os noticiários quase não falam do terror que os habitantes da cidade contam. O Pagina Siete, principal jornal da oposição, não circulou nesta segunda (11) e deixou um aviso dizendo que daria dia livre para que seus jornalistas se protegessem em casa de possíveis ameaças. Trata-se de uma publicação crítica ao governo e que teme ataques de apoiadores de Evo.

Nos aeroportos de Santa Cruz e de El Alto, muitos tiveram que esperar por horas o remanejamento de voos ou a liberação de vias para seguirem aos seus destinos. A maioria das pessoas estava agarrada aos celulares, trocando informações, mostrando vídeos enviados por WhatsApp sobre os distúrbios em várias partes do país. Turistas estrangeiros pareciam amedrontados nos cafés, olhando com impaciência os telões do aeroporto à espera de seus voos.

"Viemos fazer caminhadas pelos Andes, era a viagem que tínhamos planejado para este ano, mas temos de voltar", disse à reportagem um casal de holandeses com cara de decepção.