Bruxelas, Bélgica - A tensão entre os que temem uma nova onda de coronavírus na Europa e os que não suportam mais restrições e querem voltar à vida normal ficou evidente nesta quinta (1ª), em anúncios de diferentes entidades e medidas que apontam para direções conflitantes.

Após pressão e bronca pública da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, o governo português voltou atrás e passou a exigir quarentena de 14 dias para britânicos não vacinados
Após pressão e bronca pública da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, o governo português voltou atrás e passou a exigir quarentena de 14 dias para britânicos não vacinados | Foto: Tobias Schwarz/AFP

A seção europeia da OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou que o número de novos casos de coronavírus subiu pela primeira vez após 11 semanas consecutivas de queda. Mas, no mesmo dia em que o diretor regional, Hans Kluge, pediu cautela com o "aumento da mistura, viagens, encontros e diminuição das restrições sociais", passou a valer na União Europeia o certificado digital, que visa facilitar viagens entre os países do bloco.

Discutido desde março pelos 27 membros da UE (União Europeia), o documento deveria abrir as fronteiras internas para todos os cidadãos europeus que cumprirem as condições sanitárias -vacinação completa, recuperação de Covid-19 ou teste negativo para Sars-Cov-2. Mas já começou com exceção e debates.

A Alemanha proíbe a entrada de qualquer um que venha de Portugal, por causa da prevalência da variante delta no país lusitano. A presença de mutantes do coronavírus é um dos "freios de segurança" previstos, mas, segundo a Comissão Europeia, barrar totalmente a entrada extrapola o combinado.

Duas vezes mais contagiosa que o coronavírus original, segundo estimativas, a variante delta já foi detectada em 33 dos 53 países acompanhados pela OMS-Europa e é de fato um dos fatores que pode explicar a virada na média de novos casos.

Em Portugal, por exemplo, a alta de infecções se seguiu à chegada da delta, a partir do momento em que suas portas foram abertas a turistas britânicos, em meados de maio.

O Reino Unido, primeiro país europeu a ser atingido pela linhagem identificada na Índia, não faz parte da lista branca de países dos quais é possível viajar para o bloco justamente por causa desse variante.

Após pressão e bronca pública da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, o governo português voltou atrás e passou a exigir quarentena de 14 dias para britânicos não vacinados.

Espanha e Grécia, porém, continuam aceitando a entrada com um teste negativo para coronavírus, e podem enfrentar problemas no bloco se a variante delta também crescer rapidamente por lá.

O cálculo dos governos para retirar restrições passa pelo fato de que os mais idosos - cuja vida corre mais risco com a Covid-19 - foram praticamente todos vacinados, e os imunizantes se comprovaram capazes de proteger contra hospitalização e morte, o que reduz a pressão sobre os sistemas de saúde. Mas as autoridades de saúde temem que, ao se espalhar rapidamente entre jovens não vacinados, o vírus também chegue com mais facilidade a pessoas vulneráveis.

Kluge diz que a variante delta será dominante nos 53 países da região em agosto - "num momento em que a Europa está praticamente livre de restrições e não completamente vacinada". Segundo ele, isso quer dizer que estarão presentes as três condições para novo excesso de hospitalizações e mortes: "Novas variantes, déficit de imunização e aumento nos contatos sociais. Haverá uma nova onda, a menos que permaneçamos disciplinados".

Além disso, afirma a OMS, quanto mais o coronavírus circular, maior a chance de que ele sofra mutações. As que surgiram até agora são detectáveis pelos testes já existentes e controláveis pelos tratamentos e vacinas, mas, em tese, pode aparecer uma variante que escape das ferramentas que já existem.