São Paulo - O corpo de Alexei Navalni, morto em circunstâncias misteriosas na sexta-feira (16) numa prisão no Ártico, apresenta sinais de hematomas e convulsões, ainda que esses ferimentos não pareçam ter sido causados por espancamento, segundo informações publicadas pelo jornal Novaya Gazeta Europe neste domingo (18).

Navalni, 47, era o mais conhecido crítico do governo do russo Vladimir Putin. Ele estava preso em uma cadeia na remota região de Iamalo-Nenets, no Ártico, e cumpria 30 anos de pena por condenações diversas.

De acordo com a publicação, o corpo de Navalni está no necrotério de um hospital de Salekhard, mas a autópsia ainda não havia sido realizada neste domingo.

Um paramédico local que não quis se identificar disse ao Novaya Gazeta que as lesões vistas no corpo de Navalni se assemelhavam às causadas por fortes convulsões. De acordo com o relato, a região torácica do ativista ainda apresentava sinais que indicam tentativas de ressuscitá-lo depois de uma parada cardíaca, cuja causa não está clara.

A morte de Navalni continua misteriosa. Governos ocidentais e oposicionistas russos culpam Vladimir Putin por ela, no mínimo devido às condições brutais de encarceramento na prisão conhecida como Lobo Polar, onde na sexta a temperatura chegou a -24ºC.

Ainda não há detalhes da necropsia do ativista, que foi visto dois dias antes com boa aparência em uma audiência virtual com um juiz de Moscou.

Liudmila, mãe de Navalni, visitou neste sábado (17) a colônia penal onde seu filho morreu, enfrentando temperaturas de -30ºC. Segundo a assessora do ativista, Kira Iarmich, Liudmila recebeu um aviso oficial de óbito indicando o horário da morte como 14h17 no horário local de sexta.

"Quando a advogada e a mãe chegaram à colônia, receberam a informação de que a causa da morte de Navalni foi síndrome da morte súbita", disse Ivan Zhdanov, que dirige a Fundação Anticorrupção de Navalni, em postagem na plataforma X. Síndrome da morte súbita é um termo vago para diferentes síndromes cardíacas que causam parada cardíaca súbita e morte.

Mais tarde, autoridades disseram que o corpo não seria liberado até a conclusão da investigação. Segundo o Serviço Federal Prisional russo, Navalni morreu após desmaiar durante uma caminhada.

'CONCLUSÕES PRECIPITADAS'

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo (18) que não se deve tirar conclusões precipitadas sobre a morte do opositor russo Alexei Navalny, uma crítica aos países do Ocidente, que se apressaram em culpar o Kremlin.

"Eu acho que é uma questão de bom senso [...] se a morte está sob suspeita, nós temos que primeiro fazer uma investigação para saber do que o cidadão morreu", declarou Lula em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou como convidado da cúpula anual da União Africana.

Lula afirmou que é preciso esperar os resultados periciais antes de expressar qualquer opinião. Caso contrário, "você julga agora que foi não sei quem que mandou matar, e não foi, e depois vai pedir desculpas", afirmou. "Para que essa pressa de acusar alguém?", questionou.

Suas declarações constituem as primeiras reações de um membro do Brics, grupo de países emergentes que também inclui Índia, China, Rússia e África do Sul. Lula tem sido criticado pelos países do Ocidente por ter uma postura muita branda em reação ao presidente russo Vladimir Putin. O presidente brasileiro criticou as reações de Estados Unidos e União Europeia à invasão russa da Ucrânia, e tem evitado aderir às sanções ocidentais contra Moscou.

Lula indicou que Navalny poderia estar doente e advertiu para os perigos de "banalizar uma acusação". "Não quero especulação", destacou. "Eu até compreendo os interesses de quem acusa imediatamente: 'Foi fulano'. Mas não é meu mote. Eu espero o registro que vai fazer, o exame que diga de que o cidadão morreu", insistiu.