São Paulo - A Coreia do Norte aproveitou a presença de seus rivais Coreia do Sul e Japão na cúpula da Otan, a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, para fazer o mais longo teste de um míssil intercontinental com capacidade de atingir todo o território norte-americano com ogivas nucleares.

O lançamento ocorreu na costa leste do país, gerando alarme no Japão. Segundo o chefe de gabinete do governo em Tóquio, Hirokazu Matsuno, o míssil voou por 74 minutos, atingindo uma altitude de 6.000 km e uma distância de 1.000 km, caindo no mar.

Isso coaduna com o desempenho do Hwasong-18, o primeiro míssil balístico intercontinental de estágio sólido da Coreia do Norte, testado pela primeira vez em abril. Ele pode atingir alvos a cerca de 13 mil km quando em trajetória ajustada, ou seja, qualquer lugar na Europa, Ásia, Oceania, Oriente Médio, Norte da África e América do Norte.

Sua grande vantagem é que, por usar combustível sólido, dispensa o lento processo de abastecimento. Disparado de lançadores móveis, é mais furtivo e rápido de operar.

O disparo vem na sequência do pior fracasso do programa de mísseis da ditadura de Kim Jong-un, o lançamento abortado do primeiro satélite espião do país, em maio. Houve apenas alguns lançamentos de menor alcance desde então. E, claro, foi feito para coincidir com a cúpula da Otan, realizada em Vilnius, capital lituana.

Nela estão como convidados de honra o premiê japonês, Fumio Kishida, e ao presidente sul-coreano, Yoon Suu-yeol. Eles, com os colegas australiano e neozelandês, foram chamados pela segunda vez seguida como uma sinalização da disposição da aliança de atuar no Indo-Pacífico, uma premissa básica da Guerra Fria 2.0 de seu sócio majoritário, os EUA, contra a China.

Na cúpula, a Otan tirou o pé do acelerador. "A China não é nossa adversária", afirmou o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, apesar de o comunicado apontar ameaças que ela representa. A abertura de um escritório do grupo em Tóquio também foi deixada de lado.

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A Coreia do Norte é bancada tanto por Pequim quanto por Moscou, aliada de Xi Jinping e principal foco de preocupação do Ocidente, devido à Guerra da Ucrânia. Kishida e Yoon condenaram o lançamento com as palavras duras usuais, chamando o teste de uma ameaça à paz e à estabilidade em todo o mundo. Os EUA fizeram o mesmo em Vilnius.

Outro fator foi a reunião entre generais de alto escalão dos EUA, Japão e Coreia do Sul no Havaí, que está ocorrendo nesta semana. Essa sinergia tem aumentado desde que Tóquio reassumiu sua vocação militarista, com apoio americano, e a Coreia do Sul aprofundou seus laços com Washington com um grupo de ação conjunto para o caso de uma guerra nuclear com o Norte.

Com efeito, na segunda (10) e na terça (11), Kim Yo-jong, a poderosa irmã do ditador norte-coreano, fez pronunciamentos dizendo que os EUA haviam enviado um avião-espião sobre a zona econômica exclusiva de seu país, prometendo "ações claras e resolutas", que podem inclusive resultar na derrubada de aeronaves.

Além disso, o Ministério da Defesa protestou contra o anúncio, feito em maio, de que os EUA iriam enviar pela primeira vez desde 1981 um submarino armado com mísseis nucleares para o Sul. Na sequência do acordo assinado em maio por Yoon e Joe Biden na Casa Branca, um modelo movido a energia nuclear, mas com armas convencionais, visitou um porto sul-coreano.

Tudo isso mantém elevada a tensão na península, que no próximo dia 27 marca os 70 anos da divisão prevista no armistício que encerrou a Guerra da Coreia (1950-53), que opôs tropas locais capitalistas do sul, apoiadas pelos EUA, e comunistas do norte, secundadas pela China e pela União Soviética.

Até hoje, tecnicamente Seul e Pyongyang estão em guerra, dada a falta de uma paz assinada e termos de reconciliação. Desde o ano passado, seguidos testes de mísseis do Norte e provocações militares abertas de americanos e sul-coreanos azedaram ainda mais o clima.