Sharm El-Sheikh (Egito) - Chefes de Estado de mais de cem países devem discursar sobre seus compromissos climáticos nesta segunda (7) e terça-feira, abrindo as negociações da COP27, a conferência do clima da ONU, que acontece até o dia 18 em Sharm el-Sheik, no Egito.

Entre os inscritos para discursar na cúpula dos líderes, estão protagonistas da agenda climática, como o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz. Por conta das eleições para o Congresso americano, o presidente Joe Biden só deve chegar ao Egito na segunda semana da COP. Já o líder da ditadura chinesa, Xi Jinping, não deve comparecer à conferência.

LEIA MAIS:

Amazônia perdeu 18 árvores por segundo em 2021

O atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, tampouco irá à COP, que já contará com a presença do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, na segunda semana do evento. Representantes da equipe de transição devem acompanhá-lo, assim como Marina Silva, eleita deputada federal pela Rede em São Paulo e cotada para retornar ao comando do Ministério do Meio Ambiente.

A liderança política deve ser mais exigida nesta edição da conferência do que nas anteriores. Como o livro de regras do Acordo de Paris, assinado em 2015, foi concluído na COP26, que aconteceu na Escócia no último ano, o desafio colocado para a COP27 é a implementação do acordo.

Para tanto, não basta que os países façam suas lições de casa, cumprindo as metas climáticas definidas por ele mesmos no Acordo de Paris (as chamadas NDCs, sigla em inglês para contribuições nacionalmente determinadas).

A soma global das NDCs ainda coloca o mundo em uma rota de aquecimento global de 2,4ºC, apenas um pouco abaixo do que alcançaremos com as políticas atuais - 2,8ºC - e ainda muito acima do 1,5ºC, teto de aquecimento global que evitaria as consequências mais desastrosas, como o desaparecimento de países-ilha.

Segundo o painel do clima da ONU, as emissões globais de gases-estufa precisam começar a cair nos próximos três anos para chegar até o final da década 45% menores do que os níveis de 2010.

Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o momento pede um pacto entre países desenvolvidos e economias emergentes. Em fala à imprensa na última quinta (3), ele defendeu que os desenvolvidos façam esforço extra para reduzir emissões e que as economias mais ricas providenciem apoio técnico e financeiro para a transição e energética em economias emergentes.

"A COP27 deve ser o lugar para fechar as lacunas de ambição, de credibilidade e de solidariedade", afirmou.

Ao longo de suas 27 edições, a Conferência das Partes (COP, na sigla em inglês) da Convenção do Clima da ONU deixou de tratar uma ameaça futura - prevista por cientistas e negociada por diplomatas - para lidar com uma emergência global presente, deflagrada pelo aumento dos desastres climáticos.

Um exemplo recente aconteceu em junho no Paquistão, onde inundações mataram mais de 1.700 pessoas e causaram crise alimentar.

EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS

Previstos pelo painel do clima da ONU há cerca de 30 anos, os eventos climáticos extremos já são percebidos em todo o mundo e colocam em pauta uma negociação sobre a compensação por perdas e danos sofridos em decorrência dessa crise.

O tema é evitado pelas nações ricas, que temem se comprometer com uma fatura cujo valor pode ser exorbitante - e cobrado pelos países mais vulneráveis ao clima, como as pequenas ilhas, que vêm perdendo território pelo avanço do nível do mar.

A expectativa dos negociadores é que a presidência egípcia da COP27 priorize os temas de adaptação e perdas e danos, caros ao continente africano.

Na avaliação de observadores das negociações, a capacidade dos países encararem os dois temas testará a chance de sucesso do Acordo de Paris. Apesar do novo capítulo das COPs, agora finalmente voltado à implementação do acordo climático, velhos desafios de negociação seguem em pauta. A conversa entre os blocos dos países em desenvolvimento e dos desenvolvidos ainda trava por falta de confiança sobre o cumprimento de compromissos assumidos no passado.

Neste ano, o contexto de Guerra da Ucrânia e as consequências sobre o preço dos alimentos e da energia também aumenta o desafio para que os países se comprometam com metas de curto prazo, enquanto a União Europeia passa a investir em fontes fósseis para buscar a independência do fornecimento de gás russo.

Para além do contexto de crise, o G20, grupo que reúne países responsáveis por 75% das emissões, aumentou os investimentos em fontes fósseis de 2020 para 2021. Eles passaram de US$ 147 bilhões para US$190 bilhões na soma do bloco, segundo levantamento da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

Indígenas convidam Lula e Macron para fórum da COP27

Brasília (DF) - Lideranças indígenas de diversos países querem contar com a presença do presidente da França, Emmanuel Macron, e do presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em seu principal fórum na COP27, a conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre mudanças climáticas.

O convite foi feito por carta, assinada por Hindou Oumarou Ibrahim —liderança do povo Mbororo, que vive no Chade, na África.

Lula chegará à COP no dia 14 - o evento deste ano acontece no Egito e o presidente eleito foi convidado a participar tanto pelo presidente do país-sede, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, quanto pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).

Segundo pessoas que atuam na articulação do fórum indígena, até agora não houve sinalização clara se Lula comparecerá ao evento. Já por parte de Macron, de acordo com esses interlocutores, houve sinalização positiva.

Os dois, no entanto, não devem aparecer ao mesmo tempo no fórum, já que o o petista estará no Egito na segunda semana do evento e o francês, na primeira.

A carta enviada ao petista também foi direcionada ao seu instituto e à ex-ministra Marina Silva (Rede). O documento diz que, no encontro, eles pretendem discutir "ações concretas para o futuro".

"Os povos indígenas protegem 80% da biodiversidade do planeta e 37% de toda a terra considerada de alta importância para a biodiversidade e o armazenamento de carbono", diz o documento, que ainda considera a vitória nas eleições uma "esperança necessária" para a Amazônia.

Lula também deverá fazer um pronunciamento em evento promovido pela ONU durante a COP27. Os detalhes estão sendo negociados pela equipe do petista com a assessoria do português Antônio Guterres, secretário-geral da ONU, entidade que promove o evento.

Com isso, Lula deverá ter palco comparável ao de um chefe de Estado, embora ainda não tenha sido empossado. (Fábio Zanini/ Folhapress)

...

Receba nossas notícias direto no seu celular, envie, também, suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link