Paulo Sotero - Agência Estado
e Ansa - De Washington
Antes mesmo de o presidente Bill Clinton iniciar seu oitavo e último discurso anual ao Congresso, na noite de quinta-feira, seus adversários republicanos estavam com a resposta engatilhada. O governador do Texas, George W. Bush, candidato favorito dos conservadores para disputar a Casa Branca em novembro, disparou o primeiro tiro apenas alguns minutos depois de Clinton ter reivindicado da tribuna de honra da Câmara de Representantes o crédito político pela inigualável bonança que os Estados Unidos alcançaram durante os mais de sete anos de seu governo. Em sua fala de 89 minutos, Clintou declarou os americanos ‘‘afortunados por viverem num momento da história (no qual) nunca antes nossa nação desfrutou, ao mesmo tempo, de tanta prosperidade e progresso social com tão poucas crises internas ou ameaças externas’’.
‘‘A litania de programas de gastos que o presidente anunciou esta noite prova meu argumento de que se você deixar grandes somas (como saldo fiscal no orçamento federal) em Washington, o dinheiro será gasto pelo governo’’, disse Bush. ‘‘A proposta de corte de impostos (de US$ 350 bilhões) do presidente é muito pequena e não ajudará a economia a crescer ou a tornar o código tributário mais justo’’, afirmou o candidato republicano, que poderá ter a aura de invencibilidade com que iniciou sua campanha novamente golpeada no início da semana pelo senador John McCain, em New Hampshire, na primeira disputa de votos da fase preliminar da campanha.
A rapidez da resposta orquestrada dos adversários diante de mais uma poderosa exibição de Clinton como mestre do teatro político era esperada em pleno início de uma temporada eleitoral. Mas ela pode ser também um sintoma do temor dos republicanos diante dos sinais de que os americanos, depois de deixarem claro seu repúdio ao presidente pelo seu comportamento pessoal no episódio que levou ao embaraçoso escândalo sexual com Monica Lewinsky parecem mais dispostos a isolar o caso e não penalizar nas urnas, em novembro, o vice-presidente Albert Gore, o herdeiro político de Clinton e provável candidato democrata à sua sucessão. Por causa do affair Lewinsly, poucos acham que Clinton pode fazer campanha por Gore. Mas o discurso de quinta-feira mostrou como o presidentepoderá atuar como cabo eleitoral a partir da Casa Branca.
Empenhado em fazer o que estiver a seu alcance para ajudar Gore nas eleições, porque do triunfo do vice depende em grande parte suas chances de reclamar um legado pelos seus oito anos no poder, Clinton usou seu enorme carisma e talento oratório para recordar aos americanos os êxitos da administração Clinton-Gore. ‘‘Começamos o novo século com 20 milhões de novos empregos, o crescimento econômico mais rápido em mais de 30 anos, a mais baixa taxa de desemprego em 30 anos, a menor taxa de pobreza em anos, o mais baixo desemprego da história entre americanas de ascendência africana e hispânica e o primeiro biênio de saldo orçamentário em 42 anos’’, disse Clinton.
Ele lembrou também que os EUA atingirão no mês que vem o mais longo período de expansão do PIB de seus quase 224 anos de história e procurou esvaziar os ataques republicanos sobre a decadência moral do país afirmando que a revolução americana está sendo reforçada por um renascimento do espírito na nação.
Interrompido por aplausos mais de uma centena de vezes, Clinton conclamou o país a usar esse momento inigualável de fortuna nacional para alcançar um progresso econômico e social ainda maior e mais compartilhado, e apresentou uma miríade de antigas e novas propostas atraentes para os eleitores, todas elas calibradas para dar munição de campanha em geral e para grupos de eleitores que poderão decidir a margem da vitória numa disputa apertada.
Muitas dessas propostas serão ignoradas, modificadas ou desfiguradas pelo Congresso. Mas todas têm potencial para dar a Gore bons argumentos durante o longo e duro embate que ravará nos próximos meses para manter a Casa Branca nas mãos dos democratas e tentar reconquistar o controle pelo menos da Câmara de Representantes.
Al Gore e George W. Bush estão virtualmente empatados nas intenções de voto segundo uma pesquisa divulgada ontem pelo ‘‘Wall Street Journal’’ e a rede de tevê NBC. Gore conseguiu reduzir para uma diferença mínima a outrora grande vantagem de Bush, que tem 47% das intenções. Gore subiu para os 44%. A margem de erro de 3,2 aponta empate técnico.