São Paulo - A China anunciou nesta terça (19) a assinatura de um acordo de segurança com as Ilhas Salomão, país na região do Pacífico Sul, próximo à Austrália e à Nova Zelândia. O tratado elevou as preocupações sobre a circulação de tropas chinesas na região e sobre as ambições militares de Pequim no quintal australiano.

O acordo terceiriza a segurança no arquipélago e coloca as forças de segurança chinesas à disposição do governo salomonense para proteger a infraestrutura do país e garantir a ordem em caso de revoltas internas, segundo o pouco que foi divulgado até aqui.

Na prática, também expande a presença militar chinesa a uma nova região do Pacífico, além do já contestado avanço sobre o mar do Sul da China, na região entre Filipinas e Vietnã, criticado por nações do Sudeste Asiático.

O acordo terceiriza a segurança no arquipélago e coloca as forças de segurança chinesas à disposição do governo salomonense para proteger a infraestrutura do país

Em março, uma versão preliminar do tratado vazou para a imprensa e provocou uma série de críticas pois contemplava a possibilidade de deslocamentos militares chineses na região de influência australiana
O acordo terceiriza a segurança no arquipélago e coloca as forças de segurança chinesas à disposição do governo salomonense para proteger a infraestrutura do país Em março, uma versão preliminar do tratado vazou para a imprensa e provocou uma série de críticas pois contemplava a possibilidade de deslocamentos militares chineses na região de influência australiana | Foto: iStock

O pacto anunciado nesta terça foi assinado pelos ministros das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e das Ilhas Salomão, Jeremiah Manele, disse o porta-voz da chancelaria chinesa a jornalistas em Pequim. Ele não disse exatamente onde ou quando a assinatura do acordo ocorreu.

Em março, uma versão preliminar do tratado vazou para a imprensa e provocou uma série de críticas pois contemplava a possibilidade de deslocamentos militares chineses na região de influência australiana.

Em resposta, o primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, afirmou no começo de abril que não permitiria a construção de uma base militar chinesa no país, mas isso não foi suficiente para acalmar a Austrália e aliados, que se mobilizam para pressionar o governo do país. O arquipélago fica a pouco mais de 1.600 quilômetros do ponto mais próximo da costa australiana.

Marise Payne, ministra australiana das Relações Exteriores, afirmou nesta terça que está "profundamente decepcionada" e que continua buscando entender os termos do acordo. "Estamos preocupados com a falta de transparência no desenvolvimento do tratado, dado seu potencial para minar a estabilidade em nossa região", disse ela em comunicado.

Na semana passada, Zed Seselja, ministro australiano para o Desenvolvimento Internacional e o Pacífico, visitou Honiara, capital das Ilhas Salomão, para pedir a Sogavare que não assinasse o pacto.

Acuados pelo avanço chinês, os Estados Unidos resolveram reforçar a presença no país e anunciaram uma visita com membros de alto escalão do governo para a capital nesta semana, onde pretendem também reabrir a embaixada americana.

"Apesar dos comentários do governo das Ilhas Salomão [de que não permitirá a instalação de uma base militar chinesa], a natureza ampla do acordo de segurança deixa aberta a porta para o envio de forças militares da China" para o arquipélago, disse Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA. "Acreditamos que a assinatura de tal acordo pode aumentar a desestabilização nas Ilhas Salomão e estabelecer um precedente preocupante para a região mais ampla das ilhas do Pacífico", afirmou.

Os Estados Unidos são aliados da Austrália no chamado Quad, grupo que inclui ainda Japão e Índia e que tem como objetivo principal conter a presença da China na região do Indo-Pacífico.

Pequim reagiu à pressão diplomática. "As tentativas deliberadas de inflar as tensões e mobilizar campos rivais estão fadadas ao fracasso", disse Wang Wenbin, porta-voz da diplomacia chinesa, nesta terça.

A China também deve mandar uma delegação a Honiara em maio, e o governo salomonense permanece negando que o pacto permitirá à China instalar uma base militar no país. Douglas Ete, deputado e presidente do comitê de contas públicas do Parlamento do país, afirmou que a visita de maio vai fechar acordos para aumentar a cooperação em comércio, educação e pesca, mas que não inclui a instalação de bases militares.

Até 2019, as Ilhas Salomão reconheciam o governo em Taiwan, não em Pequim, como representantes legítimos da China – com a Revolução Comunista de 1949, o governo deposto se exilou em Taipé e permanece reivindicando o controle sobre todo o território continental, sem reconhecimento internacional.

Com a mudança a partir de 2019 do reconhecimento do governo comunista, o primeiro-ministro Sogavare foi alvo de uma moção de desconfiança no Parlamento (que venceu) e de grandes manifestações de rua, que acabaram desmobilizadas com a ajuda de equipamentos anti-protestos enviados por Pequim.