Agência Estado
De Santiago
Os perfis dos candidatos à presidência do Chile tão diferentes não impediram que os dois se afastassem dos extremos ao longo da campanha para conquistar o eleitorado de centro e afastar os fantasmas de Allende e Pinochet.
O episódio mais claro e recente da moderação dos dois lados foi a reação dos candidatos à possível volta de Pinochet ao Chile. A decisão britânica, tomada a apenas a alguns dias das eleições, tomou a cena política e as reações foram as mais contidas possíveis.
Lavín procurou desvincular-se de Pinochet durante a campanha, e assim que soube da decisão britânica disse que o senador deveria deixar a vida pública quando voltar ao país. Afirmou ainda que não tentaria contatar o ex-ditador. A atitude de Lavín desagradou a alguns setores da extrema direita chilena, como o pequeno Movimento Pinochetista Unitário, que anunciou na sexta-feira que não apoiaria sua candidatura.
Lagos, histórico adversário do general, apoiou a atitude do governo de pedir a liberação de Pinochet por razões humanitárias, mas pediu seu julgamento no Chile. Sua atitude também desagradou ao Partido Comunista, que criticou duramente o governo por ajudar o ex-ditador a ‘‘escapar da Justiça’’, segundo a ex-candidata do partido à presidência, Gladys Marín.
As atitudes dos candidatos sobre o assunto Pinochet mostraram que os dois estão pisando em ovos para tentar conquistar novos eleitores sem perder os que já ganharam no primeiro turno. Lagos tenta conquistar os 3% de votos conseguidos no primeiro turno pela candidata comunista, mas também procura não perder a adesão da parte mais conservadora da Concertación, os democrata-cristãos.
Lavín também tenta se desvincular o máximo possível do regime militar para tentar conquistar democrata-cristãos. Lagos conseguiu a adesão de diversas entidades evangélicas, que aderiram à sua candidatura contra Lavín, que pertence à ordem católica Opus Dei.
Milhares de chilenos apresentaram ontem suas justificativas junto à polícia para não votar hoje. No primeiro turno de 12 de dezembro, 800 mil pessoas dos 8,08 milhões de eleitores se abstiveram.(T.B.)