O presente de Natal deste ano chegou mais cedo para os moradores do Reino Unido. A icônica cena de Margaret Keenan, uma idosa de 90 anos de Coventry, região central da Inglaterra, recebendo a 1ª dose da vacina contra a Covid-19, encheu de esperança o coração dos britânicos. Brasileiros que moram no Reino Unido contam à FOLHA que o clima de otimismo é perceptível nas ruas.

Patrick Rocha em Londres
Patrick Rocha em Londres | Foto: Arquivo pessoal

Há dois anos e meio, o arquiteto e urbanista Patrick Rocha, 30, saiu de Londrina para viver na Inglaterra. Enfrentando os desafios de sobreviver em meio ao lockdown, em Londres, ele comemora a notícia mais esperada do ano. “Começar a semana vendo os jornais todos com a notícia que parecia tão distante, mas que esperamos o ano todo, confirmando o início da vacinação contra a Covid-19 foi um momento incrível que vou lembrar a vida toda”, conta.

Ao fazer um balanço do ano, o arquiteto se lembra dos momentos mais tensos, vividos durante a primeira quarenta, entre março e junho. “No primeiro lockdown, com tantas medidas rigorosas, me desesperei. Achava que não teríamos solução tão cedo e teríamos que ficar confinados a perder de vista. Agora, no final do ano tivemos outro lockdown, um pouco mais brando, mas a situação é outra. Estamos muito mais esperançosos”, relata.

Outro que comemora a chegada da vacina é o artista plástico e jornalista Felipe Campos Peres, 36. Natural de Ribeirão Preto (SP), Peres trabalhou em Londrina e Santo Antônio da Platina (Norte Pioneiro) antes de se mudar para a Inglaterra, em 2013. Atualmente, ele mora em Sheffield, sexta maior cidade da Inglaterra, localizada no norte do país. “A sensação geral é de esperança. Como o clima é rigoroso a maior parte do ano, os ingleses ficam sempre esperando o verão [junho a setembro]. A esperança é que até lá, as pessoas possam sair com segurança”, projeta.

Quando ele diz que a “sensação geral” é de otimismo, ele lembra que lá também existem os que não acreditam na vacina. “Existe uma parcela da população, ainda que pequena, de pessoas desconfiadas, que não acreditam na eficácia do imunizante, que propagam teorias da conspiração. Mas as vacinas passaram por rigorosos testes. É uma vitória da ciência”, opina, ao lembrar do pai, Luiz César Peres, que é médico e pesquisador em outras áreas da medicina e também mora em Sheffield. “Como a vacina vai priorizar os profissionais da saúde e grupos de risco, ele deve se encaixar no primeiro grupo a receber a dose”, comemora.

Felipe Campos Peres acompanhado do pai, Luiz César Peres
Felipe Campos Peres acompanhado do pai, Luiz César Peres | Foto: Arquivo pessoal

Rocha também faz questão de reconhecer os esforços dos pesquisadores e outros profissionais envolvidos nos estudos por trás das vacinas. “Ver a primeira aplicação da vacina esta semana me trouxe um misto de gratidão aos profissionais e estudantes envolvidos arduamente, em tantas universidades e laboratórios, buscando uma saída e alívio por ver esse esforço maravilhoso se concretizando”, enaltece.

Passados dois anos e meio, a saudade do Brasil aperta. Rocha calcula que só conseguirá voltar a Londrina para visitar os parentes no final do ano que vem. “Não deixo de pensar nos familiares no Brasil. Minha avó e meus pais são do grupo de risco, fico preocupado. Já tive alguns parentes infectados, todos de Londrina, incluindo uma tia que deixou a UTI do HU após 48 dias em estado grave por conta das complicações do vírus. Então isso me faz desejar fortemente que a produção e aplicação dessas vacinas sejam rápidas, bem administradas e bem sucedidas em todos e que chegue rápido ao Brasil. Quanto mais pessoas imunes houver, mais cedo sairemos desse pesadelo”.