SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A revista Nature listou o cientista brasileiro Túlio de Oliveira como uma das dez personalidades científicas do ano. Oliveira foi quem soou o alarme quanto à variante ômicron da Covid, após sequenciá-la na África no Sul e identificar dezenas de mutações potencialmente preocupantes.

A ômicron, de fato, vem demonstrando níveis elevados de transmissão e reinfecção.

O texto da revista, que aponta Oliveira como rastreador de variantes, lembra ainda que o pesquisador e sua equipe do Krisp (KwaZulu-Natal Research and Innovation Sequencing Platform), na Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, também foram os responsáveis pela identificação e aviso sobre outra variante de preocupação: a beta.

Ou seja, das cinco variantes de preocupação apontadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde), Oliveira teve participação no sequenciamento e descoberta de duas delas.

A Nature afirma que a plataforma Krisp, liderada pelo brasileiro, vem rastreando agentes patogênicos relacionados à dengue, zika, Aids e tuberculose, mas que nunca "foram sequenciadas tantas amostras diferentes do mesmo vírus num período de tempo tão curto".

O bioinformata e sua equipe não ajudaram exclusivamente no sequenciamento das variantes. Devido à proximidade com profissionais da saúde do front de batalha, torna-se possível influenciar em processos.

A equipe de Oliveira, ainda no começo da pandemia, conseguiu, por exemplo, mapear um surto de Covid, o que resultou em diretrizes para o posicionamento das alas em hospitais, a fim de impedir o espalhamento do vírus.

À revista Nature, Oliveira falou que se decepcionou com as restrições, impostas por diversos países --inclusive o Brasil--, a viajantes da África do Sul após o anúncio da ômicron.

"Claro que eu esperava mais", disse o especialista, que também afirmou que a medida restritiva "foi quase uma cortina de fumaça para a acumulação de vacinas e para os países ricos que perderam o controle da pandemia".

Oliveira, único brasileiro na lista da Nature, nasceu em Brasília e viveu em diversos estados até que sua família se instalou em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ele se formou em biotecnologia na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e se mudou para a África do Sul em 1997, quando a sua mãe foi trabalhar no país.

A lista da Nature para 2021 também destaca os cientistas Winnie Byanyima, Friederike Otto, Zhang Rongqiao, Timnit Gebru, John Jumper, Victoria Tauli-Corpuz, Guillaume Cabanac, Meaghan Kall e Janet Woodcock.