Brasil afirma insistir com Venezuela por salvo-conduto
Brasília assumiu os cuidados da sede diplomática argentina um dia após a contestada reeleição de Maduro
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quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
Brasília assumiu os cuidados da sede diplomática argentina um dia após a contestada reeleição de Maduro
Mayara Paixão - Folhapress

Buenos Aires - Com um discurso cauteloso frente ao receio de esgarçar a relação com a Venezuela, o Brasil voltou a pedir que o país dê salvo-conduto aos seis asilados da oposição que vivem na embaixada da Argentina. Ou seja, que permita que eles saiam do país sem detê-los.
A defesa se deu na OEA (Organização dos Estados Americanos), em Washington, nesta quarta-feira (11). A sessão foi chamada pelo governo de Javier Milei para pedir ações urgentes contra o cerco que forças de segurança de Caracas produzem na sede diplomática há três semanas.
"O governo brasileiro vem atuando para viabilizar a concessão de salvos-condutos para os asilados. O tema vem sendo objeto de tratativas, em alto nível, envolvendo as autoridades venezuelanas" disse o embaixador Benoni Belli, representante brasileiro no órgão.
O Brasil assumiu os cuidados da sede diplomática argentina e, portanto, dos asilados, desde que em 29 de julho, um dia após a contestada reeleição de Nicolás Maduro, o regime expulsou o pessoal diplomático argentino do país. A ditadura tentou retirar a gestão brasileira do prédio, mas Brasília se opôs.
"Em múltiplas gestões, desde a entrada dos cidadãos venezuelanos na embaixada da Argentina [o que se deu em março passado], o assunto foi tratado pelo ministro das Relações Exteriores, embaixador Mauro Vieira, com seu homólogo venezuelano", seguiu Belli.
O diplomata reforçou que a Convenção de Viena, que rege as relações diplomáticas, exige a proteção de locais de missão diplomática mesmo quando há rompimento de relações bilaterais. O direito internacional também prevê que os asilados devem ter permissão para sair do país junto com a missão que os acolhia, o que a Venezuela impediu.
Mais de uma vez o Brasil ofertou enviar um avião para buscar os seis asilados. São pessoas do alto escalão da oposição, como a diretora de comunicação, Claudia Macero, e o principal nome de política exterior, Pedro Urruchurtu Noselli, ambos figuras muito próximas à líder opositora María Corina Machado.
Nestas três semanas, os asilados relataram que o regime cortou o fornecimento de energia elétrica. A sede, no entanto, tem gerador. Relatos de interlocutores brasileiros à reportagem também dão conta de que entregas por delivery de alimentos e medicamentos foram impedidas pelos agentes do regime de chegar ao prédio da embaixada.
A relação bilateral entre Brasil e Venezuela se deteriorou após o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ser protagonista do impedimento de entrada da ditadura no Brics. Brasília trabalha nos bastidores para manter linhas de contato, e o discurso linha-dura do regime contra figuras do governo brasileiro, entre elas Celso Amorim, refluiu no último mês.
Por cautela e por ser um dos únicos países democráticos das Américas que ainda tem sua equipe diplomática em solo venezuelano, o Brasil não se somou a uma declaração conjunta sobre o tema que uniu, além da Argentina, Canadá, Chile, Costa Rica, EUA, Guatemala, Haiti, Panamá, Peru, Suriname, República Dominicana e Paraguai.

