Washington - Depois de comemorar sua vitória sobre Donald Trump, Joe Biden se concentrou nos preparativos para sua chegada à Casa Branca neste domingo (8) com duas prioridades: o combate à pandemia e a reconciliação de um país dividido, sem ter ainda recebido o reconhecimento do presidente republicano.

O democrata recebeu os parabéns de várias lideranças de todo o mundo - com exceções como México e Brasil -, mas Trump não lhe concedeu a vitória, alegando "fraude" na eleição, sem apresentar provas.

Trump prometeu redobrar sua ofensiva judicial para desafiar os resultados, mas o destino dessas ações não parece promissor e elas foram ignoradas pelos eleitores democratas que celebravam nas ruas das grandes cidades na noite de sábado.

Diante do silêncio de seu rival, Biden fez um discurso naquela noite focado na promessa de "cicatrizar" o país.

"Prometo ser um presidente que busca não dividir, mas unir", disse ele durante um comício ao ar livre em Wilmington, Delaware.

Joe Biden encontra-se nesta segunda-feira (9) com um grupo de especialistas para traçar um plano nacional de combate à covid
Joe Biden encontra-se nesta segunda-feira (9) com um grupo de especialistas para traçar um plano nacional de combate à covid | Foto: Joe Raedle/ Getty Images/ AFP

A pandemia de covid-19 - que mata mais de 236.000 nos Estados Unidos - estará no centro das atividades de Biden como presidente eleito.

Nesta segunda-feira (9), ele formará um grupo de especialistas para desenvolver um plano nacional de combate ao vírus que poderá ser implantado a partir do mesmo dia em que assumir o poder, no dia 20 de janeiro.

Outro eixo importante é a promessa de cancelar o processo de retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS), lançado por Trump, e voltar ao Acordo do Clima de Paris para limitar as emissões que causam as mudanças climáticas.

Além disso, o democrata prometeu anular o decreto republicano de imigração que proíbe a entrada no país de cidadãos de vários países muçulmanos e anunciou que abrirá caminho para a regularização de cerca de 11 milhões de imigrantes sem documentos.

A atitude de Trump nos próximos dias pesará na capacidade de Biden de atuar antes de 20 de janeiro, uma vez que, para ter acesso às agendas, é necessária uma decisão administrativa para efetivamente lançar a transição.

Biden e sua companheira de chapa, a senadora negra Kamala Harris - a primeira mulher a se tornar vice-presidente do país - devem começar a considerar a composição de seu gabinete, que deve dar às mulheres e às minorias um lugar de destaque.

Em sintonia com seu discurso de unidade, especula-se também sobre a inclusão de representantes da extrema esquerda de seu partido, sem esquecer os centristas e talvez até alguns republicanos. Mas essa decisão está sujeita à forma como o Senado será formado e esses resultados ainda não estão completos.

BOLSONARO NÃO PARABENIZA BIDEN

Muitos dos líderes mundiais ignoraram os apelos republicanos levados à Justiça americana e parabenizaram Biden por sua vitória, com duas notáveis exceções na América Latina: os presidentes do México, Andrés Manuel López Obrador, e de Jair Bolsonaro.

López Obrador indicou que aguardará a resolução das "questões jurídicas" para se pronunciar e Bolsonaro simplesmente se calou. Até o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que desejava a vitória de Trump, celebrou Biden, a quem chamou de "grande amigo de Israel".

O ex-presidente republicano George W. Bush ligou para Biden para parabenizá-lo por sua vitória em uma eleição que descreveu como "honesta" e com um resultado "claro".

Nos Estados Unidos, os políticos republicanos ativos não romperam as fileiras - exceto os habituais rebeldes, como o senador e ex-candidato à presidência Mitt Romney.

"Devemos proteger nossa democracia com total transparência", disse no Twitter a primeira-dama Melania Trump.