Washington - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um pronunciamento à nação nesta quinta-feira (7) em que garantiu uma transferência pacífica de poder, defendeu as conquistas de seu governo e, como fez Kamala Harris na véspera, disse que a eleição foi uma batalha perdida, mas que é preciso continuar engajado.

"Todos nós caímos, o que importa é quão rápido nos levantamos", afirmou ele do jardim da Casa Branca, em Washington.

O presidente também destacou que a eleição foi justa, honesta e transparente. "Nós aceitamos a escolha que o país fez. Você não pode amar seu país só quando você vence."

O democrata também falou sobre "reduzir a temperatura", aludindo à disputa acirrada entre democratas e republicanos nesta campanha. "Para algumas pessoas, é um momento de vitória, para outros, de derrota."

O presidente ressaltou as legislações que conseguiu aprovar durante seu governo, dizendo que seus efeitos ainda serão sentidos por anos. Tocando no que é visto como a principal razão para a derrota de seu Partido Democrata, ele disse que vai deixar uma economia forte ao encerrar seu governo. "Reveses são inevitáveis, mas desistir é imperdoável", afirmou.

Biden disse que conversou com Donald Trump, presidente eleito, na véspera, parabenizando-o pela vitória e garantindo seu compromisso em fazer uma transição pacífica. Ele também afirmou que conversou com Kamala, dizendo que a vice conduziu uma campanha inspiradora e que sua equipe deve se orgulhar.

Derrotada nas eleições presidenciais, Kamala Harris presidirá a cerimônia de certificação de vitória de seu adversário nas urnas, Donald Trump, no próximo 6 de janeiro - mesma data em que, há quatro anos, extremistas apoiadores do presidente eleito invadiram o Capitólio em uma tentativa de mantê-lo no poder.

A atribuição de Kamala na data tem origem na Constituição americana. Esta determina que o número dois da Casa Branca é também o presidente do Senado - o responsável, por sua vez, por anunciar o resultado da eleição e certificar a vitória do presidente.

A democrata deu indícios de que vai trabalhar para uma sessão sem sobressaltos. Depois de ligar para Trump e parabenizá-lo pela vitória, ela reconheceu sua derrota em um discurso na Universidade Howard e pediu para seus apoiadores respeitarem o resultado do pleito.

A postura é bem diferente da adotada por Trump na eleição de 2020. Naquele ano, ele não apenas se recusou a reconhecer os resultados que deram vitória ao atual presidente americano, Joe Biden, como passou a afirmar, sem provas, que houve fraude na votação. A recusa em admitir a derrota inclusive desembocou em um processo na Justiça, um dos vários que o republicano enfrenta.

Ele é acusado de tentar mudar o resultado da eleição na Geórgia, estado onde perdeu por uma diferença de apenas 0,02% - uma ligação por telefone vazada mostra Trump pedindo a uma autoridade local que encontrasse cerca de 12 mil votos.

A resistência do ex-presidente a deixar o poder chegou a seu ponto mais grave justamente durante a certificação, quando uma turba insuflada por ele invadiu o Congresso e paralisou a cerimônia. Em outubro deste ano, Trump afirmou que aquele foi um "dia do amor", no qual "nada de errado" aconteceu. O ataque deixou cinco mortos e centenas de feridos.

Em junho de 2022, o comitê do Congresso americano que investigava a invasão ao Capitólio apontou que o ex-presidente pressionou seu vice, Mike Pence, a contestar a vitória de Biden e não certificá-la. A imposição teria ocorrido mesmo após ele ser informado de que o então vice-presidente não tinha autoridade para se opor formalmente à sua derrota.

ELON MUSK

O bilionário dono da Tesla e do X, Elon Musk, saiu como um dos vitoriosos da corrida eleitoral americana, ao lado de seu candidato e agora presidente eleito, Donald Trump.

Após destinar mais de US$ 118 milhões (R$ 679,4 milhões) para um comitê de ação política pró-Trump, o empresário celebrou a vitória do republicano e viu, na manhã de quarta-feira (6), as ações da sua empresa, Tesla, subirem cerca de 12%.

Além do ganho financeiro quase imediato, Musk deve ter papel importante no governo trumpista. Ainda não está claro exatamente qual será sua função, mas a expectativa é que ele assuma uma posição estratégica para agir nos cortes profundos que deseja fazer nos gastos públicos americanos.

De acordo com David Nemer, antropólogo e professor do departamento de Estudos da Mídia da Universidade de Virgínia, não é só no ganho financeiro e na promessa de um novo cargo que o dono do X se beneficia da vitória de Trump. Ele, que já era considerado a pessoa mais rica do mundo, com uma fortuna de US$ 260 bilhões (R$ 1,51 trilhão), mostrou ter poder de influência sobre parte dos eleitores.

"Elon Musk sai como um grande vitorioso. Foi um dos cabos eleitorais mais vocais do Trump, que mais se expôs. Ele praticamente deu o X como um grande veículo de promoção do Trump."

De acordo com Nemer, diversos estudos mostraram como, durante a corrida eleitoral, o algoritmo da plataforma impulsionava mais discursos do candidato republicano em oposição aos de Kamala.

Não só isso, ele se mostrou um poder agregador de forças conservadoras do Partido Republicano, tendo financiado secretamente um grupo de defensores da extrema direita, além de declarar apoio ao plano de Trump de deportar milhões de imigrantes em situação irregular.

"Ele desperta um pouco essa questão do self-made man, aquele que faz fortuna sozinho, em tradução livre], essa coisa de ser um empreendedor, do sonho americano, que é só trabalhar que você consegue chegar lá", afirma Nemer.

Para o antropólogo, também pesa o discurso em defesa do direito à liberdade de expressão e do porte de armas, respectivamente, a primeira e segunda emendas da Constituição americana. Inclusive, foi com base no porte de armas que Musk passou a sortear aleatoriamente pessoas para assinarem uma petição se comprometendo a apoiar "a liberdade de expressão e os direitos das armas" em troca de US$ 1 milhão. A ação chegou a ser questionada na Justiça, mas o bilionário conseguiu uma deliberação a favor.

"A ação de pagar para as pessoas se registrarem também favorece o Trump. Por mais que essas ações possam não ser tão decisivas para formar o voto, ganham muito espaço na mídia e ressoam com aquele cidadão americano que tem uma identidade com esse discurso", diz Nemer.