São Paulo - O ministro da Defesa da Coreia do Sul, Kim Yong-hyun, pediu demissão nesta quarta-feira (4), um dia após o país asiático mergulhar em uma de suas maiores crises em décadas devido a um decreto de lei marcial derrubado horas depois pelo Congresso.

"Em primeiro lugar, lamento profundamente e assumo total responsabilidade pela confusão e preocupação causadas ao povo em relação à lei marcial", afirmou Kim em um comunicado. "Assumo total responsabilidade por todos os assuntos relacionados à lei marcial e apresento minha renúncia ao presidente."

A medida, que pegou a nação de surpresa na noite de terça (3), suspendeu atividades políticas e baniu liberdades civis durante as horas que ficou em vigor.

Na madrugada de quarta (tarde no Brasil), o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, suspendeu a ação, que antes provocou embates na Assembleia Nacional, invadida pelo Exército.

Diversos outros assessores de Yoon ofereceram-se para renunciar, segundo informações da agência Yonhap. Entre eles estão o chefe de gabinete presidencial, Chung Jin-suk; o conselheiro de Segurança Nacional, Shin Won-sik; e o chefe de gabinete para políticas, Sung Tae-yoon, além de outros assessores presidenciais.

O governo sofre pressão interna após a manobra. Milhares de pessoas caminharam, nesta quarta, em direção ao Parlamento para pedir a destituição do presidente - a oposição exige a renúncia de Yoon e anunciou ações judiciais por insurreição contra o presidente, alguns de seus ministros, incluindo Kim, e vários comandantes militares e policiais envolvidos no ocorrido.

Até mesmo Han Dong Hoon, líder da legenda de Yoon, o Partido do Poder Popular, exigiu explicações e garantiu que "todos os envolvidos devem prestar contas".

Se o presidente renunciar ou ser removido do cargo, o primeiro-ministro Han Duck-soo assume como líder até que uma nova eleição seja realizada, dentro de 60 dias.

"A Coreia do Sul como nação escapou por pouco, mas Yoon pode ter dado um tiro no próprio pé," disse Danny Russel, vice-presidente do think tank Asia Society Policy Institute, dos Estados Unidos, sobre a primeira declaração de lei marcial na Coreia do Sul desde 1980.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que recebeu com satisfação a decisão de Yoon de revogar a declaração. "Continuamos esperando que as discordâncias políticas sejam resolvidas pacificamente e de acordo com o Estado de Direito," disse ele em um comunicado.

A Coreia do Sul abriga cerca de 28.500 tropas americanas como legado da Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953. Conversas sobre defesa e um exercício militar conjunto entre os dois aliados, que já estavam planejados, foram adiados em meio às amplas repercussões diplomáticas do decreto.

Sindicatos do país anunciaram greves nesta quarta para pressionar o presidente a renunciar. A entidade que reúne os metalúrgicos do país afirmou que haverá uma greve geral a partir da próxima quarta-feira (11) caso o líder não renuncie, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap. Já o sindicato da Hyundai Motor anunciou uma paralisação de quatro horas nesta quinta (5) e na sexta-feira (6).

Trata-se de mais um exemplo da crescente pressão interna que Yoon enfrenta após a medida, que durante as horas em que esteve em vigor, suspendeu atividades políticas e baniu liberdades civis nessa nação que é a quarta maior economia da Ásia e um aliado chave dos Estados Unidos na região.

A tensão fez as vendas de alimentos enlatados, macarrão instantâneo e água engarrafada dispararem durante a noite, disse à agência de notícias Reuters uma grande rede de lojas de conveniência sul-coreana, que pediu anonimato.