France Presse
De Quito
Há vários meses, até a crise que explodiu ontem e que originou a tentativa de golpe de Estado, os militares equatorianos vinham chamando uma crescente atenção com suas críticas à gestão do governo do presidente Jamil Mahuad. Depois da invasão do Parlamento por cerca de 1,5 mil indígenas, que proclamaram o coronel Lúcio Gutiérrez como novo ‘‘presidente’’, o ministro da Defesa, general Carlos Mendoza, anunciou ontem à noite que as Forças Armadas tinham retirado seu apoio a Mahuad.
Mahuad, eleito em 1998 para um período de quatro anos e cinco meses, afirmou que não renunciaria e denunciou a intentona golpista. Horas depois, porém, alegando falta de segurança, abandonou o palácio presidencial.
Os antedecedentes públicos do mal-estar entre os militares datam de outubro passado, quando o então ministro da defesa, general da reserva José Gallardo, afirmou que muitos equatorianos tinham apelado às forças militares para pedir que encontrassem uma saída para a crise do país.
‘‘Com imensa preocupação, vemos o apelo de muitas pessoas, envolvidas em diferentes atividades e de diferentes condições econômicas, angustiadas diante do crescente desemprego gerado por falências de grandes, médias e pequenas empresas’’, afirmou Gallardo nessa ocasião, durante uma cerimônia militar.
No final do ano, os militares voltaram a divulgar uma nota criticando a situação do país.
‘‘Próximos a concluir o milênio, quando o Equador em razão de seus generosos recursos deveria se projetar vigorosamente para o mundo, e resolver as carências que oprimem seu povo, se sente impedido de avançar para a prosperidade por causa de mesquinhas disputas de interesses de pessoas e de grupos, do egoísmo de certos dirigentes, do sectarismo político e da corrupção que não é castigada exemplarmente’’, disseram então.
O Equador, como quase todos os países sul-americanos, tem uma longa história de interferências de militares na vida civil. Os períodos constitucionais também foram marcados por profundas crises políticas.
O país voltou à vida democrática em 1979, depois de um período de regimes militares que começaram em 1972.