Paris - Da guerra entre Hamas e Israel ao ataque de bolsonaristas às sedes dos Três Poderes em Brasília, confira alguns dos grandes acontecimentos que marcaram o ano de 2023.

Guerra Israel-Hamas

Os ataques forçaram o deslocamento de 1,7 milhão dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza, segundo a ONU
Os ataques forçaram o deslocamento de 1,7 milhão dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza, segundo a ONU | Foto: Mahmud Hams - AFP

Em 7 de outubro, comandos do Hamas se infiltraram no sul de Israel a partir da Faixa de Gaza e executaram um massacre em cidades fronteiriças e em um festival de música ao ar livre.

Segundo os números oficiais mais recentes, 1.140 pessoas, a maioria civis de todas as idades, morreram do lado israelense, neste ataque de magnitude sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948. Também há investigações sobre denúncias de estupros e mutilações de mulheres.

Os milicianos islamistas também sequestram 250 pessoas, incluindo dezenas de crianças e idosos, que foram levadas para Gaza.

Determinado a "aniquilar" o Hamas, organização considerada "terrorista" por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia, o Exército israelense responde com bombardeios em larga escala em Gaza e ordena aos civis que fujam para o sul do território. Em 27 de outubro, suas tropas iniciam uma operação terrestre no norte da Faixa de Gaza.

A intensidade dos bombardeios e a extensão da destruição provocam críticas internacionais e preocupação com a população civil de Gaza, também privada de água, eletricidade, alimentos e medicamentos devido ao cerco total imposto por Israel.

Em 74 dias de conflito, a ofensiva israelense na Faixa de Gaza deixou mais de 19.000 mortos, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa o território palestino.

Os ataques forçaram o deslocamento de 1,7 milhão dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza, segundo a ONU.

A ajuda humanitária aumentou durante uma trégua de sete dias que entrou em vigor em 24 de novembro, mas continuou insuficiente insuficiente, segundo as agências das Nações Unidas.

O acordo permitiu a libertação de 105 reféns capturados pelo Hamas, em troca de 240 prisioneiros palestinos. Segundo as autoridades israelenses, 129 reféns levados para Gaza em 7 de outubro ainda estão retidos no território. As autoridades temem as mortes de quase quase 20.

O retorno de Lula

Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao poder em 1º de janeiro de 2023, prometendo trazer o "Brasil de volta" ao cenário internacional e unir os mais de 200 milhões de brasileiros em seu terceiro mandato
Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao poder em 1º de janeiro de 2023, prometendo trazer o "Brasil de volta" ao cenário internacional e unir os mais de 200 milhões de brasileiros em seu terceiro mandato | Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto

Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao poder em 1º de janeiro de 2023, prometendo trazer o "Brasil de volta" ao cenário internacional e unir os mais de 200 milhões de brasileiros em seu terceiro mandato como presidente, depois de derrotar Jair Bolsonaro (2019-2022) nas urnas.

Mas a tarefa de "reconstruir" o país após quatro anos de crises institucionais e retrocessos nas políticas ambientais foi rapidamente abalada no dia 8 de janeiro, quando milhares de apoiadores de Bolsonaro invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal, destruindo móveis e obras de arte e clamando, em vão, por uma intervenção militar para destituir Lula do cargo.

O Supremo respondeu com firmeza ao motim, pelo qual cerca de 100 das mais de mil pessoas que foram detidas ainda permanecem presas.

A tentativa de golpe pôs na mira Bolsonaro, que estava nos Estados Unidos no dia dos ataques. O ex-presidente, que questionou, sem provas, a transparência do processo eleitoral em que foi derrotado por Lula, é investigado pela Justiça como suposto instigador dos atos.

Em junho, Bolsonaro recebeu uma condenação administrativa por abuso de poder político que o deixou impossibilitado de participar das eleições durante oito anos, ou seja, está automaticamente fora das próximas eleições presidenciais de 2026.

Difícil contraofensiva da Ucrânia

O conflito entre Hamas e Israel provocou temores na Ucrânia de que seus aliados reduziriam a ajuda militar e financeira a Kiev
O conflito entre Hamas e Israel provocou temores na Ucrânia de que seus aliados reduziriam a ajuda militar e financeira a Kiev | Foto: Yasuyoshi Chiba - AFP

Em janeiro, o Exército russo, reforçado por 300.000 reservistas e apoiado pelos paramilitares do grupo Wagner, passa ao ataque, particularmente na região do Donbass, no leste da Ucrânia.

Em maio, Moscou reivindicou a captura da cidade de Bakhmut, ao final da batalha mais longa e sangrenta desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

No início de junho, Kiev lançou uma contraofensiva para tentar recuperar os territórios ocupados por Moscou, mas esbarrou em uma sólida defesa russa. Apesar dos bilhões em ajuda militar ocidental, o Exército ucraniano só conseguiu recuperar algumas cidades no sul e no leste.

Na Rússia, em 24 de junho, combatentes do grupo Wagner se rebelaram e marcharam em direção a Moscou. O presidente russo, Vladimir Putin, denunciou a "traição" do chefe paramilitar, Yevgueni Prigozhin, que ordenou aos seus homens que voltassem às suas bases. Dois meses depois, Prigozhin morreu em um acidente de avião, que ainda gera dúvidas.

O conflito entre Hamas e Israel provocou temores na Ucrânia de que seus aliados reduziriam a ajuda militar e financeira a Kiev. Nos Estados Unidos, a Casa Branca alertou em dezembro que só tem recursos para mais um pacote de ajuda à Ucrânia, pois o Congresso bloqueia o envio de mais assistência.

Javier Milei é empossado presidente da Argentina

Depois de iniciar o mandato presidencial na Argentina com o anúncio de uma desvalorização de 50% do peso, Javier Milei afirmou que sua "prioridade máxima" é controlar a inflação
Depois de iniciar o mandato presidencial na Argentina com o anúncio de uma desvalorização de 50% do peso, Javier Milei afirmou que sua "prioridade máxima" é controlar a inflação | Foto: Emiliano Lasalvia - AFP

O economista ultraliberal Javier Milei, 53, assume a Presidência da Argentina em 10 de dezembro, após vencer com folga, em 19 de novembro, o centrista peronista Sergio Massa.

Este "antissistema", crítico dos peronistas e liberais que se alternam no poder por 20 anos, dá início a uma terapia de choque na terceira maior economia da América Latina, que sofre com uma inflação recorde. Constam de seu receituário privatizações, cortes com "motosserra" nos gastos públicos, dolarização e a supressão do Banco Central.

Depois de iniciar o mandato com o anúncio de uma desvalorização de 50% do peso, Milei afirmou que sua "prioridade máxima" é controlar a inflação, no momento em que o índice de preços atingiu 160,9% em termos anuais em novembro.

Ele também levantou ideias muito controversas durante a campanha, como a desregulamentação da venda de armas ou uma "solução de mercado" para a doação de órgãos.

Terremotos mortais

Na madrugada de 6 de fevereiro, o sudeste da Turquia e parte da Síria foram devastados por um dos terremotos mais mortais dos últimos 100 anos
Na madrugada de 6 de fevereiro, o sudeste da Turquia e parte da Síria foram devastados por um dos terremotos mais mortais dos últimos 100 anos | Foto: Yasin Akgul - AFP

Na madrugada de 6 de fevereiro, o sudeste da Turquia e parte da Síria foram devastados por um dos terremotos mais mortais dos últimos 100 anos. O tremor, de magnitude 7,8, seguido por outro nove horas depois, deixou pelo menos 56 mil mortos, quase 6 mil deles no lado sírio. Os danos materiais são avaliados em mais de 100 bilhões de euros (quase 110 bilhões de dólares ou 543 bilhões de reais, na cotação atual).

Em 8 de setembro, outro terremoto mortal foi registrado no Marrocos. Às 23h11 (19h11 no horário de Brasília), um violento terremoto sacudiu a região de Marrakech. Com uma magnitude estimada entre 6,8 e 7, o tremor foi o mais forte já registrado neste país e deixou quase 3.000 mortos e mais de 5.600 feridos. O abalo danificou cerca de 60 mil casas em quase 3 mil aldeias do Alto Atlas e arredores, algumas das quais são de acesso muito difícil.

O planeta em ebulição

As temperaturas elevadas são acompanhadas por secas que provocam fome, incêndios devastadores e furacões de intensidade incomum
As temperaturas elevadas são acompanhadas por secas que provocam fome, incêndios devastadores e furacões de intensidade incomum | Foto: Patrick T. Fallon - AFP

Reunidos em Dubai entre 30 de novembro e 12 de dezembro na 28ª conferência climática da ONU, países de todo o mundo aprovaram pela primeira vez um compromisso histórico, abrindo a via para abandonar progressivamente os combustíveis fósseis, cuja queima provoca o aquecimento global.

Após seis meses consecutivos de temperatura entre junho e novembro, o observatório europeu Copernicus antecipou que 2023 será o ano mais quente da História.

As temperaturas elevadas são acompanhadas por secas que provocam fome, incêndios devastadores e furacões de intensidade incomum.

O aquecimento global causado pelas atividades humanas foi o principal motor da recente onda de calor que atingiu a América do Sul, segundo um relatório publicado em outubro pela rede científica World Weather Attribution (WWA).

Grandes partes da América do Sul registraram altas temperaturas em meados de setembro, antes do início da primavera, com temperaturas de 40°C nas regiões central e norte do Brasil e em partes da Bolívia, Argentina e Paraguai.

As altas temperaturas e a seca, agravada pelo fenômeno El Niño, deixaram 58 municípios do Amazonas em estado de emergência, afetando cerca de 500 mil habitantes.

Objetivo: a Lua

A Nasa conta com o foguete Starship, desenvolvido pela SpaceX de Elon Musk, para as suas missões Artemis, que querem levar astronautas à Lua em 2025, pela primeira vez desde 1972
A Nasa conta com o foguete Starship, desenvolvido pela SpaceX de Elon Musk, para as suas missões Artemis, que querem levar astronautas à Lua em 2025, pela primeira vez desde 1972 | Foto: TIimothy A. Clary - AFP

A Lua está mais uma vez no centro da corrida espacial. Em 23 de agosto, a Índia conseguiu colocar uma nave não tripulada, a Chandrayaan-3, em uma área inexplorada próxima ao polo sul do satélite.

Poucos dias antes, a sonda russa Luna-25, a primeira missão lunar de Moscou desde 1976, caiu na mesma região, alvo de muito interesse por conter água congelada.

Antes da Índia, apenas os Estados Unidos, a União Soviética e a China conseguiram realizar pousos controlados na Lua.

A Nasa conta com o foguete Starship, desenvolvido pela SpaceX de Elon Musk, para as suas missões Artemis, que querem levar astronautas à Lua em 2025, pela primeira vez desde 1972.

Em 20 de abril, a Starship decolou pela primeira vez em sua configuração completa, mas vários motores falharam e a SpaceX fez o foguete explodir intencionalmente quatro minutos depois.

Em um segundo teste em novembro, o módulo superior do foguete chegou ao espaço, antes que uma "anomalia" provocasse uma explosão.

A start-up japonesa "ispace" falhou em sua tentativa de fazer o módulo Hakuto-R pousar na Lua em abril, mas a agência espacial japonesa Jaxa lançou uma nova missão lunar em setembro.

Campeãs do mundo e beijo forçado

Espanha conquista a Copa do Mundo Feminina em Sydney, mas a comemoração é prejudicada por um beijo forçado
Espanha conquista a Copa do Mundo Feminina em Sydney, mas a comemoração é prejudicada por um beijo forçado | Foto: David Gray - AFP

A Espanha conquista a Copa do Mundo Feminina em Sydney, mas a comemoração é prejudicada pelo presidente da federação do país, Luis Rubiales, que durante as celebrações beija a atacante Jenni Hermoso na boca, causando indignação internacional.

A jogadora de futebol denuncia um ato "machista, inadequado e sem qualquer tipo de consentimento", mas Rubiales o descreve como um beijo "consensual", antes de renunciar ao cargo em 10 de setembro.

Acusado de "agressão sexual" pela Justiça, Rubiales está suspenso por três anos pela Fifa de todas as atividades ligadas ao futebol.

O escândalo teve impacto global em um momento em que o futebol feminino, como se viu na nona edição da Copa do Mundo, desperta cada vez mais interesse.

Greves paralisam Hollywood

Em maio, roteiristas americanos iniciaram uma greve, à qual os atores aderiram em meados de julho, para exigir melhores salários e a regulamentação do uso da inteligência artificial (IA).

Este protesto, sem precedentes em Hollywood desde 1960, terminou em setembro para os roteiristas, que conseguiram um acordo salarial e proteções contra o uso da IA.

Os atores, preocupados com a possibilidade de os estúdios usarem essa tecnologia para clonar suas vozes e imagens e reutilizá-las perpetuamente sem compensação ou consentimento, só ratificaram o acordo que encerrou a greve no início de dezembro.

Além de salários melhores, a greve permitiu a introdução de novas restrições ao uso da IA.

A produção de filmes e séries americanas ficou paralisada durante quase seis meses pelo movimento, que custou à economia do país pelo menos 6 bilhões de dólares (29,6 bilhões de reais).

Ofensiva relâmpago em Nagorno-Karabakh

Imagem ilustrativa da imagem Acontecimentos que marcaram o ano de 2023
| Foto: Diego Herrera Carcedo - AFP

Em 19 de setembro, o Azerbaijão atacou a região de Nagorno-Karabakh, um território separatista de maioria armênia que Baku e Yerevan disputam há mais de três décadas.

Este enclave montanhoso, que, apoiado pela Armênia, proclamou unilateralmente a sua independência em 1991, após a queda da União Soviética, foi palco de duas guerras entre estas ex-repúblicas soviéticas no Cáucaso (1988-1994 e 2020).

Em 24 horas, as autoridades do território, abandonadas por Yerevan, se renderam e um cessar-fogo foi estabelecido.

Depois desta ofensiva relâmpago que deixou quase 600 mortos, a maioria dos 120 mil habitantes do enclave fugiu para a Armênia e as autoridades da autoproclamada república anunciaram a sua dissolução para 1º de janeiro de 2024.

Em meados de novembro, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou, a pedido da Armênia, que o Azerbaijão permita o retorno "seguro" dos habitantes de Nagorno-Karabakh.

Armênia e Azerbaijão anunciaram em dezembro que adotarão "medidas concretas" para normalizar suas relações e concordaram com uma troca de prisioneiros