Mais de 90% dos paranaenses acessam a internet pelo celular
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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
Mie Francine Chiba <br> Reportagem Local

Dois terços dos paranaenses (67,2%) tinham acesso à internet em 2016, sendo que quase a totalidade (93,5%) acessava a rede mundial de computadores por um objeto cada dia mais presente em suas vidas: o telefone móvel. Cerca de 80% dos paranaenses possuem um celular para uso pessoal, e 78,7% têm acesso à web por meio dele. Para 27,1% dos paranaenses, inclusive, o acesso à internet se dá exclusivamente pelo celular. Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que divulgou nesta quarta-feira (21) a Pnad Contínua - TIC 2016 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2016: acesso à Internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal).
O estudante de direito Leonardo Delforté um exemplo que confirma o resultado da PNAD. Ele conta que tem computador em casa, mas o acesso se dá principalmente pelo celular. "Sempre que saio, ele está comigo. Fica mais fácil." Na sua casa, o comportamento se repete: todos têm celular e usam a internet pelo aparelho. O objetivo principal é usar as redes sociais e o WhatsApp.
O uso da internet para envio e recebimento de mensagens de texto, voz ou imagens por diferentes aplicativos é quase unânime: 92,3% dos paranaenses utilizam a web com esta finalidade, segundo o estudo do IBGE. Em seguida vêm assistir a vídeos, como programas, séries e filmes (76,6%), conversar por chamadas de voz ou vídeo (74%) e, por último, enviar ou receber e-mail (73,7%).
Jogos e vídeos são as atividades favoritas dos filhos do empreendedor Emerson Isaac, que têm cinco e sete anos, na internet. Mas no caso do pai, as redes sociais são um dos principais motivos para o uso da rede, até mesmo porque Isaac trabalha com vendas on-line, e as redes são uma importante ferramenta de relacionamento com os clientes. Mas uma coisa pai e filhos têm em comum: o celular é o meio mais utilizado para se conectar.
Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, os brasileiros estão usando a internet como uma forma de comunicação mais barata e alternativa às tradicionais ligações telefônicas. "Com WhatsApp e outro aplicativos, fica mais barato você passar uma mensagem para alguém, basta estar num guarda-chuva de Wi-Fi. A pessoa pode estar em outro Estado, em outro País. Facilita muito, isso aproxima as pessoas que estão distantes", lembrou Azeredo.

CONECTADOS
Para Luca Belli, pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio, os dados da pesquisa do IBGE confirmam a tendência de aumento da conectividade de forma geral em todo o Brasil, embora mostre desigualdades relevantes em determinadas regiões do País, sobretudo o Nordeste. "Os dados de pobreza vão dialogar muito com esses dados de acesso à internet. Nos locais com menos domicílios com acesso à internet, o rendimento é menor, o grau de instrução da população é mais baixo, isso vai influenciar os resultados", lembrou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, durante divulgação do estudo.
Mas o aumento do uso da Banda Larga móvel também se confirma como principal meio de acesso à internet, comenta Belli. Na Região Norte, inclusive, chega a 51% a proporção de pessoas que se conecta exclusivamente pelo celular. "O acesso à internet via celular é especialmente importante para essas regiões Norte e Nordeste", disse Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad.

Acesso franqueado e patrocinado
Apesar de a internet móvel contribuir para o acesso à internet em algumas regiões, o pesquisador Luca Belli, da FGV Rio, observa que a maioria das pessoas de menor renda têm acesso móvel franqueado e gratuito somente para alguns serviços patrocinados, como o WhatsApp. Isso pode explicar porque o envio e recebimento de mensagens de texto, voz e imagens por aplicativos é a principal atividade das pessoas na internet, diz Belli.
Na visão dele, é preciso avaliar se os brasileiros usam a web para trocar mensagens porque querem ou se porque essa é a sua única opção. Caso os aplicativos patrocinados fossem da área de educação, talvez o cenário fosse diferente, pondera o pesquisador. "Ainda melhor, se os preços fossem menos elevados e as franquias maiores", ele completa.
Belli acrescenta ainda que 41 milhões de brasileiros, ou 23% da população, não possuem um aparelho móvel para uso pessoal. "Se temos um País em que a maioria das pessoas tem acesso móvel, mas 41 milhões, ou 25% da população, não pode ter acesso móvel porque não tem o recurso para isso, é um novo tipo de discriminação, discrepância, desigualdade."
Na visão do pesquisador, são necessárias políticas públicas para aumentar o acesso da população a esse meio de conexão à internet, já que cerca de 40% do valor dos celulares é composto por tributos.
FOSSO DIGITAL
Boa parte dos desconectados afirmam, na pesquisa, que não acessam à internet por falta de conhecimento. No Paraná, o índice é de 37,6%. Esse é o caso de José Francisco de Campos que estava ao lado da esposa, Nilza Pereira, do carrinho de amendoim conhecido dos londrinenses na região central da cidade. Ela, atenta à tela do celular. "É para saber do cochicho do povo", brinca. O aparelho tem acesso à rede 4G e fica conectado às redes sociais e aplicativos de mensagens. Já Campos diz não acessar a internet por não saber como fazê-lo. Por causa da idade, ele diz já ter se "acomodado" e não ter mais vontade de aprender.
"É um fosso digital criado por falta de instrução", comenta Belli sobre a parcela da população que não se conecta à web por falta de conhecimento. Para ele, isso mostra "uma falta evidente de políticas públicas", lembrando que a internet é descrita no Marco Civil da Internet como essencial para o pleno gozo da cidadania.


